2 de janeiro de 2010

Koorax e Juarez valorizam obra autoral de João

Resenha de CD
Título: Bim Bom
The Complete
João Gilberto Songbook
Artista: Ithamara Koorax
& Juarez Moreira
Gravadora: Motema Music
Cotação: * * * *

Já lançado no exterior, porém ainda não editado no Brasil em formato físico, este songbook da dispersa obra autoral de João Gilberto - pouco gravada, com exceção do sambaião Bim Bom que dá título ao CD que une a voz de Ithamara Koorax ao violão de Juarez Moreira - joga boa luz sobre cancioneiro a rigor quase ignorado, já que os holofotes sempre foram direcionados para a revolução estética que o papa da Bossa Nova fez como intérprete, a partir de 1958, ao gravar músicas de compositores como Tom Jobim (1927 - 1994), notadamente a célebre Chega de Saudade e Desafinado. Tal obra não chega a agregar grandes músicas, mas é valorizada por Ithamara e Juarez sem recorrer aos clichês da Bossa Nova. Uma elegância plácida pauta as leituras da dupla para temas como Forgotten Places (bela canção da parceria de João com o xará João Donato, letrada por Lysias Ênio), Minha Saudade (a mais conhecida das parcerias com Donato) e Valsa (esta feita por João para a filha Bebel Gilberto, hoje símbolo internacional da bossa eletrônica). Neste disco, Ithamara se reafirma uma boa cantora - a boa cantora que sempre foi desde fins dos anos 80, quando iniciou carreira que pegou atalho internacional a partir da década de 90 para fugir do congestionamento de um mercado brasileiro então dominado por axés e pagodes ralos - sem cair na tentação de realçar sua técnica rara de forma exibicionista (como eventualmente faz em shows). Basta ouvir sua interpretação para o bolero Hô-Bá-Lá-Lá - o outro tema mais conhecido da obra autoral de João ao lado de Bim Bom, este ouvido no disco com alguns versos em inglês - ou os vocalises que adornam Glass Beads (outra raridade da parceria de João com Donato) e João Marcelo (música composta em tributo ao filho que João teve com a cantora Astrud Gilberto). Já An Embrace to Bonfá é o tema instrumental Um Abraço no Bonfá em que brilha somente o violão preciso de Juarez Moreira. Sem notas jogadas fora, o songbook traz à tona raridades como Undiu - baião gravado pelo autor em seu álbum de 1973 - e Você Esteve com meu Bem?, musica que talvez tenha sido a primeira composta por João, no caso com o parceiro Russo do Pandeiro, e que foi gravada originalmente em 1953 por Marisa Gata Mansa (1933 - 2003). Bela ideia, o songbook de João Gilberto fecha com Acapulco e com a versão em inglês de Hô-Bá-Lá-Lá. Nem tudo que reluz é ouro, mas o duo brilha no CD.

Disco põe hits da Disney na cadência do samba

A Bela e a Fera - o tema do musical homônimo da Disney - vai ser ouvido na voz de Alcione, no ritmo de samba-canção. A gravação da Marrom (vista acima em foto de Marcos Hermes) faz parte do CD Disney - Adventures in Samba, nas lojas neste mês de janeiro de 2010. Produtor do disco, que apresenta releituras de músicas de filmes e desenhos da Disney com sotaque brasileiro, Alceu Maia é parceiro de Arlindo Cruz e do filho do compositor, Arlindo Neto, no inédito Pagode da Disney. Leci Brandão revive Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu e Aloysio de Oliveira), choro propagado na voz de Aurora Miranda (1915 - 2005) no filme de animação Alô, Amigos (1942). Da trilha sonora deste longa-metragem, o disco rebobina também Aquarela do Brasil (Ary Barroso) na voz de Alexandre Pires. Também da lavra ufanista de Ary Barroso (1903 - 1964), Na Baixa do Sapateiro é revivida por Daniela Mercury. Já Os Quindins de Yá Yá ganhou o toque do grupo Casuarina ao passo que Aqui no Mar - versão em português de Under the Sea - vai ser ouvida com Diogo Nogueira.

EMI vai relançar discografia da Legião em vinil

Na onda da revalorização do vinil, a gravadora EMI Music vai relançar em 2010 toda a discografia da Legião Urbana no formato de LPs. Alguns títulos - como Legião Urbana (1985), Dois (1986), Que País É Este? 1978-1987 (1987) e As Quatro Estações (1988) - já tinham sido editados originalmente em vinil.

Envydust lança 'single' e grava o terceiro álbum

Grupo paulista que faz rock eletrônico, Envydust vai lançar single virtual, Infecta, em 18 de janeiro de 2010, na sua página no portal MySpace. Na sequência, a banda começa a gravar seu terceiro álbum, sucessor de Quando Estar Vivo Não Basta (2005) e Um (2008). Inéditas como Do Arranha-Céu - música já lançada como single virtual no MySpace - integram o repertório do álbum.

1 de janeiro de 2010

Algumas boas notícias que serão dadas em 2010

A gravação do quarto CD de Maria Rita. A edição em DVD do show Iê Iê Iê, de Arnaldo Antunes. A terceira vinda do U2 ao Brasil. A volta de Marisa Monte ao disco. Tributos a Noel Rosa por conta do centenário de nascimento do compositor. Feliz 2010 aos leitores!!

Coqueiro lança segundo CD de Filhos da Judith

Apadrinhado por Erasmo Carlos, com quem toca no CD e no show Rock'n'Roll, o trio Filhos da Judith vai lançar seu segundo disco em 2010 pela Coqueiro Verde Records, a gravadora dirigida pelo filho do Tremendão, Leonardo Esteves. O grupo carioca - que faz rock com influências do som dos anos 60 - debutou no mercado fonográfico, em 2006, com a edição do CD Eu Queria Ser Vinil.

Tatit lança quinto CD em abril com 13 inéditas

Luiz Tatit entra em 2010 com planos fonográficos já definidos. O compositor - visto acima em foto de Gal Oppido - agendou para abril o lançamento de seu quinto disco solo. Intitulado Sem Destino e produzido por Alexandre Fontanetti, o CD vai ser editado pela gravadora Dabliú. O repertório apresenta 13 músicas inéditas. Filho de Luiz, o violonista Jonas Tatit assina os arranjos.

Estreia de filme sobre Lula deve impulsionar CD

A estreia de Lula - O Filho do Brasil nos cinemas de todo o Brasil nesta sexta-feira, 1º de janeiro de 2010, deverá impulsionar as vendas do CD com a trilha sonora do filme. Posto nas lojas em dezembro pela EMI Music, o disco inclui três temas inéditos de autoria de Antonio Pinto (Vida Nova, Teima e Jornada) entre fonogramas antigos do acervo da gravadora e registros novos como os feitos por Nana Caymmi (Nossa Canção) e por Zezé Di Camargo & Luciano (Meu Primeiro Amor). Eis as músicas da trilha:

1. Meu Primeiro Amor - Zezé Di Camargo & Luciano
2. Nossa Canção - Nana Caymmi
3. Vida Nova - Antonio Pinto
4. Saudosa Maloca - Demônios da Garoa
5. Estúpido Cupido - Celly Campello
6. Sentimental Demais - Altemar Dutra
7. Pra Frente Brasil - Coral de Joab
8. Cidadão - Lúcio Barbosa
9. Você - Tim Maia
10. Teima - Antonio Pinto
11. Desesperar Jamais - Ivan Lins e Roberto Ribeiro
12. Como Vai Você - Antonio Marcos
13. Pau de Arara - Luiz Gonzaga
14. Jornada - Antonio Pinto

31 de dezembro de 2009

Retrô 2009: Discos que se destacaram no ano

Em vez de apontar os melhores discos nacionais e estrangeiros de 2009, em ranking sempre sujeito a omissões e injustiças, Notas Musicais prefere eleger alguns CDs que se destacaram ao longo do ano, sem que necessariamente um seja melhor do que outro. Eis alguns destaques de 2009, ano de boa produção fonográfica:
Discos Nacionais:
* Iê Iê Iê - Arnaldo Antunes
* Pelo Sabor do Gesto - Zélia Duncan
* Pimenteira - Pedro Miranda
* Peixes, Pássaros, Pessoas - Mariana Aydar
* Balangandãs - Ná Ozzetti
* Não Vou pro Céu, mas Já Não Vivo no Chão - João Bosco
* Beijo Bandido - Ney Matogrosso
* Correnteza - Edu Krieger
* Encanteria / Tua - Maria Bethânia
* O Tempo das Palavras... Imagem - Francis Hime
* Álbum de Retratos - Rosa Emília

Discos Internacionais
* It's Not me, It's You - Lily Allen
* Music for Men - Gossip
* Invaders Must Die - Prodigy
* Phrazes for the Young - Julian Casablancas
* Cantora - Mercedes Sosa
* Colour me Free - Joss Stone
* It's Blitz - Yeah Yeah Yeahs
* Fork in the Road - Neil Young
* Live at Last - Stevie Wonder (DVD)
* Pearl Jam - Backspacer

Retrô 2009: Unido, o mundo chora por Michael

Nenhum outro fato musical marcou mais 2009 do que a morte - precoce, inesperada, estranha - de Michael Jackson (1958 - 2009). Em 25 de junho, e nos dias que se seguiram a essa data triste, o mundo parou para velar o cantor. O universo pop girou em torno da investigação das causas da morte (motivada, afinal, por dose cavalar de analgésicos) e dos preparativos para o velório que - como era previsível - se transformou em um funeral-show que, devidamente televisionado, emocionou o mundo com números como o da cantora Jennifer Hudson. O circo da mídia foi armado para prolongar o culto ao Rei do Pop, definitivamente entronizado no panteão reservados aos mitos. E, como o show não pode parar, em 28 de outubro estreou nos cinemas o documentário This Is It, que descortinou os bastidores dos ensaios da turnê que o artista iria estrear em julho, em Londres. Paralelamente, chegou às lojas o CD duplo homônimo do filme. Alardeada como inédita, a faixa-título, This Is It, era - como se descobriu logo depois - uma canção composta pelo astro com Paul Anka em 1983. Sucesso de público e crítica, o documentário vai ser lançado em DVD em janeiro de 2010, com fartos extras, num sinal de que tão cedo a indústria fonográfica não vai deixar Michael descansar em paz. A paz que ele parece não ter obtido nos 50 anos em que deixou legado imortal na cultura pop. Não, Michael Jackson não morreu.

Retrô 2009: A (longa) festa dos 50 anos do 'Rei'

Roberto Carlos fez a festa em 2009. O motivo foi justo: celebrar os 50 anos de carreira iniciada de forma profissional em 1959. A festa começou em 19 de abril - data do aniversário do Rei - com show em Cachoeiro de Itapemirim (ES), cidade natal do cantor (visto acima nessa primeira apresentação em foto clicada por Greg Salibian). Cachoeiro de Itapemirim foi o ponto de partida da turnê (inter)nacional que teve picos de expressão em 11 de julho - com show feito por Roberto, debaixo de chuva e emoção, no estádio carioca Maracanã - e na concorrida temporada feita no ginásio paulista Ibirapuera a partir de agosto. Paralelamente, eventos especiais foram idealizados pelo ciclo Itaú Brasil para festejar o cinquentenário reinado do artista. Em 26 de maio, 20 cantoras fizeram a corte para o Rei em espetáculo em São Paulo que virou especial da Rede Globo (mutilado à revelia do anfitrião), CD duplo e DVD. Já o show de Roberto com os grupos de rock - programado de início para agosto e, depois, adiado para setembro - acabou não acontecendo em 2009. Como a festa vai continuar em 2010, já estão agendadas para o próximo ano a abertura de megaexposição em São Paulo e a realização de um outro show especial, Emoções Sertanejas, com a reunião do cantor com duplas como Zezé Di Camargo & Luciano. Seus súditos estarão lá...

Retrô 2009: Música também é coisa de cinema

Exemplo do sucesso comercial e artístico obtido em 2009 pelos filmes que versam sobre música, a edição em DVD duplo do documentário Palavra Encantada - nas lojas neste mês de dezembro, pela gravadora Biscoito Fino, com fartos extras extraídos de sobras das entrevistas feitas com nomes como Adriana Calcanhotto (que entoa a canção portuguesa Ela Tinha uma Amiga, de Manoela de Freitas e José Mario Branco) e Maria Bethânia (que lê trechos do livro Dentro da Noite Veloz, do poeta Ferreira Gullar) - indica longa vida para o gênero. A música tem sido assunto recorrente na tela. No caso do filme dirigido por Helena Solberg, a partir de argumento de Marcio Debellian, o tema foi a relação entre música e poesia (clique aqui para ler a resenha de Palavra Encantada). Terceiro documentário mais visto no Brasil em 2009, Palavra Encantada foi sucesso num ano em que público e crítica também consagraram filmes sobre Arnaldo Baptista (Loki) e Wilson Simonal (Ninguém Sabe o Duro que Dei), ambos - aliás - também já editados em DVD neste fim de ano.

30 de dezembro de 2009

Idol revive sucessos no DVD 'In Super Overdrive'

Billy Idol tem sobrevivido no mercado fonográfico com registros de caráter retrospectivo em que ele requenta hits de sua fase áurea, vivida nos anos 90. Como no caso do DVD In Super Overdrive Live, recém-lançado no Brasil pela ST2. O DVD exibe o show gravado em julho de 2009 para a série Sound Stage, da PBS, rede norte-americana de TV. A boa apresentação foi realizada no Congress Theatre, em Chicago (EUA). Com uma energia que desmente seus 54 anos, Idol recorda sucessos como Rebel Yell e White Wedding. No exterior, o show saiu em blu-ray.

Show íntimo no Rio valoriza a reedição de Krall

Lançado em maio de 2009, com o registro ao vivo do show gravado por Diana Krall em 1º de novembro de 2008 na casa carioca Vivo Rio, o DVD Live in Rio ganhou reedição especial dupla no fim deste ano de 2009, distribuída no Brasil pela gravadora ST2. O material adicional foi alocado no disco 2 enquanto o disco 1 rebobina todo o conteúdo visto na edição original. Inclui números captados em Toronto (num evento beneficente realizado no país natal da cantora e transmitido ao vivo para cinemas), Madrid e Lisboa. Mas o que, de fato, valoriza e justifica a reedição é o show íntimo, mais informal, feito por Krall em cobertura carioca. Com intervenções de Carlos Lyra, a cantora entoa The Boy from Ipanema, Too Marvelous for Words, Cheek to Cheek e Quiet Nights (música ouvida também no clipe exibido neste mesmo disco 2). É para quem não comprou o primeiro DVD.

Retrô 2009: Os 50 anos da morte de Villa-Lobos

Em 2009, o Brasil poderia ter ouvido mais a música de Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), ainda o maior nome do universo erudito nacional. Afinal, a morte do compositor completou 50 anos em 17 de novembro. A efeméride foi lembrada com alguns concertos, uns poucos discos - com destaque para O Papagaio do Moleque, bom álbum em que o reativado conjunto Rabo de Lagartixa jogou luzes sobre obras pouco conhecidas do artista - e um sucinto, porém excelente, livro editado na série Folha Explica. O autor do livro (capa acima) - o violonista e professor Fábio Zanon - dimensiona com (aparente) exatidão a vasta obra do compositor, demolindo mitos e clichês reiterados em sucessivas biografias do autor das lindas Bachianas.

Ney avaliza paixão conceitual do grupo Cabaret

Grupo carioca cujo som evoca o universo do glam rock, o Cabaret conta com a participação de Ney Matogrosso em seu segundo álbum, A Paixão Segundo o Cabaret, já gravado e mixado. Conceitual, o CD traz a a voz de Ney - com o vocalista Márvio dos Anjos na foto clicada por Marcos Hermes em estúdio - na faixa Dentro de Você. O lançamento do disco está agendado para 2010.

Trio Little Joy já pré-produz seu segundo álbum

Já entrou em pré-produção o segundo álbum do Little Joy, o trio formado por Rodrigo Amarante (à esquerda na foto de De Wilde) com Fabrizio Moretti (baterista do grupo norte-americano The Strokes) e a tecladista Binki Shapiro. O repertório inclui inéditas de autoria do grupo como All the Hours, I Agree with your Face e Sambabylon - músicas, aliás, já tocadas pelo trio em shows. O lançamento do sucessor de Little Joy (2008) está previsto para o primeiro semestre de 2010, pela inglesa Rough Trade Records.

29 de dezembro de 2009

Retrô 2009: Erasmo dá show com 'Rock'n'Roll'

No ano em que Roberto Carlos festejou 50 anos de carreira sem lançar o prometido disco de inéditos, Erasmo Carlos - visto acima em foto de Gilda Midani - deu show com Rock'n'Roll. O ritmo alucinante que mudou sua vida na década de 50 deu título ao CD de inéditas lançado em maio - com produção de Liminha - e ao tremendo show que o cantor estreou em setembro, no Rio de Janeiro (RJ). Jovial, Erasmo celebrou o vício do rock'n'roll e, de quebra, ainda revirou sonhos e memórias no livro Minha Fama de Mau, editado em outubro com histórias de bastidores de uma carreira que vai completar 50 anos em 2010. A festa já começou...

Sambalanço (e outras levadas) do singular Lulu

Resenha de CD
Título: Singular
Artista: Lulu Santos
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Em seu álbum anterior, Long Play (Som Livre, 2007), Lulu Santos priorizou os grooves funkeados sem deixar de cair no samba em faixas como Boa Vida. Neste 22º disco, Singular, lançado neste mês de dezembro de 2009, o cantor prioriza o samba no seu balanço pop sem descartar o funk, presente na atualização de Perguntas (II) - um tema do disco Popsambalanço e Outras Levadas (1989) - e na demolidora desconstrução de Zazueira (música de Jorge Ben Jor que Lulu revisitou em estúdio para o tributo ao vivo O Baile do Simonal). O samba parece pontuar o CD Singular porque Lulu acentua com sua guitarra as levadas de popsambalanço dos dois temas instrumentais, Spydermonkey e Restinga, que abrem e fecham o álbum formatado (com fartas doses de eletrônica) pelo próprio Lulu ao lado do tecladista Hiroshi Mizutani. Entre um e outro, há até samba - Procedimento - em uma moldura quase tradicional. Entre um e outro, há também mais exemplos do fino acabamento da obra deste hábil arquiteto do pop nacional. Fulcio é sério candidato a hit nacional. Trata-se de bolero pop de pegada envolvente. Por sua vez, Baby de Babylon já virou merecidamente sucesso radiofônico. É o esfuziante tema dançante - que remete à efervescência da disco music - feito sob encomenda para a trilha sonora da novela Viver a Vida. Na' Boa também tem os encantos que não estão tão visíveis em Duplo Mortal. Fora da seara autoral, o intérprete Lulu adiciona levadas de samba a Black and Gold - um tema do repertório do cantor, compositor e produtor australiano Sam Sparro - e turbina Atropelada (Jorge Ailton e Apoena) com grooves espertos. Enfim, Singular - o disco, não a faixa-título (de menor inspiração) - reafirma a inquietude do artista. Lulu Santos continua relevante porque sempre inventa moda - ou pelo menos tenta - em vez de ficar apegado às ondas do passado. Ele sabe que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Nem mesmo o popsambalanço que formatou há vinte anos num disco visionário de 1989 em que se permitiu ignorar a fórmula do sucesso em favor de outras levadas. Como neste singular Singular.

Chega ao Brasil 'Deluxe Edition' de Eric Clapton

Dando continuidade à série de edições especiais (duplas) de álbuns clássicos, a gravadora Universal Music põe nas lojas do Brasil a Deluxe Edition de Eric Clapton, belo primeiro trabalho solo do homônimo guitarrista, lançado em agosto de 1970. Disponibilizada no exterior desde 2006, a Deluxe Edition do disco apresenta no CD 2 a - até então inédita - versão do álbum na mixagem feita por Delaney Bramlett. Já o CD 1 rebobina a mixagem original assinada por Tom Dowd, além de incluir três fonogramas adicionais. Entre eles, há Blues in 'A' (registro extra-oficial da sessão de gravação) e She Rides (a versão original da faixa que acabou intitulada Let It Rain). Edição inclui farto libreto.

De alta carga sexual, 'Graffiti' não redime Chris

Resenha de CD
Título: Graffitti
Artista: Chris Brown
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * 1/2

O terceiro álbum de Chris Brown, Graffiti, foi lançado neste mês de dezembro de 2009 com a clara intenção de trazer o bom cantor à mídia de forma mais positiva num ano em que a opinião pública se voltou contra o artista. Para quem não liga o nome aos atos da pessoa, o astro de r & b foi quem surrou sua então namorada Rihanna em fevereiro. Chris não concebeu um álbum sobre o episódio - como Rihanna fez no sombrio Rated R - mas também toca na ferida em Famous Girl, buscando redenção. E, se ela vier, não vai ser pelo som algo artificial ouvido neste álbum. Entre baladas de balanço r & b moldadas para FMs, com destaque para Sing Like me e para Crawl, Chris evoca os sons sintetizados dos anos 80 em I.Y.A. (In your Arms) e acerta ao transitar por rap de batida funkeada em I Can Transform Ya, faixa azeitada no qual figuram Lil' Wayne e Swizz Beatz. Graffiti é álbum de alta carga erótica. Mas volta e meia Chris deixa o sexo momentaneamente de lado para (tentar) fazer o papel de um obstinado cara do bem em faixas como Lucky me. Sem julgamentos morais, Graffiti até começa bem, mas vai perdendo pique. A música em si não deverá absolver Chris Brown.

Ser outro diluidor de Ben é o problema de Local

Resenha de CD
Título: Samba sem
Nenhum Problema
Artista: Marcio Local
Gravadora: Local
Records
Cotação: * * 1/2

Carioca de Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), Marcio Local idolatra Jorge Ben Jor a ponto de ter imagem do cantor tatuada em seu braço. Tal idolatria ajuda a entender os caminhos seguidos pelo cantor e compositor neste seu primeiro álbum, Samba sem Nenhum Problema, produzido por Mario Caldato e editado primeiramente nos Estados Unidos e na Europa com o título de Adventures in Samba Soul. O problema é que Local soa como (mais um) diluidor de Ben - corrente inaugurada por Bebeto nos anos 70 e atualmente representada por outro Jorge, o Seu Jorge. Aliás, para novas gerações que pouco ouviram Ben Jor, e talvez até o desconheçam, Local corre o risco de parecer clone do autor de hits como Burguesinha (embora sua voz de barítono seja mais sedutora do que a de Jorge). O balanço black que embala o samba de Local foi bem formatado por Caldato. E o disco tem alto astral. Mas o que se ouve em músicas autorais como Ela Não Tá Nem Aí, Preta Luxo e Minha Rosa (parceria bissexta com o dramaturgo Domingos de Oliveira) é mera diluição competente do suingue seminal do Zé Pretinho. E o fato é que Samba sem Nenhum Problema tende a ficar repetitivo ao longo de suas onze músicas.

28 de dezembro de 2009

Retrô 2009: O pop e o CD perfeitos de Lily Allen

Em 2009, Lily Allen mostrou que sua música não é mais um produto descartável da volátil cena pop inglesa, que fabrica em escala industrial ídolos, modismos e sons hypes. Com seu segundo álbum, It's Not Me, It's You, lançado em fevereiro, a artista atingiu o pop perfeito e cresceu ao abordar temas como sexo, drogas e política sob ótica jovial. The Fear, Not Fair, Who'd Have Known, 22 e Never Gonna Happen foram algumas músicas irresistíveis que fizeram do disco um dos melhores do ano. Em setembro, ao voltar ao Brasil, Allen apagou a má impressão de sua primeira vinda com um show cativante que reiterou a perfeição pop do CD - reeditado em novembro, com DVD e faixas adicionais.

Retrô 2009: O saboroso disco de Zélia Duncan

Após assumir o posto de vocalista do grupo Mutantes e fazer show com Simone que rendeu turnê, entre 2006 e 2008, Zélia Duncan retomou sua carreira solo com disco saboroso, um dos melhores do ano. Lançado em junho, Pelo Sabor do Gesto primou pela leveza e pelo frescor. Dois produtores - Beto Villares e John Ulhoa - costuraram com unidade um repertório irretocável. No tempo da delicadeza pop, a cantora (vista acima em foto de Emmanuelle Barnard) irmanou inéditas e regravações nada óbvias num álbum que reeditou o padrão refinado de seus dois anteriores trabalhos individuais, Eu me Transformo em Outras (2004) e Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2005). Belo disco que merecia mais sucesso.

Fúria de 50 Cent pontua 'Before I Self Destruct'

Resenha de CD
Título: Before I Self
Destruct
Artista: 50 Cent
Gravadora: G Unit
/ Universal Music
Cotação: * * 1/2

Quarto álbum de 50 Cent, Before I Self Destruct foi lançado nos EUA - enfim - em novembro de 2009 após sucessivos adiamentos. A rigor, trata-se do disco que o rapper norte-americano planejara inicialmente para 2007. Só que Before I Self Destruct acabou atropelado por Curtis, que se tornou efetivamente o terceiro álbum de 50 Cent ao ser lançado naquele ano de 2007. Em Curtis, o rapper tentou esboçar ligeira mudança de fórmula, sobretudo nos temas rimados, sendo que, no fim das contas, acabou apresentando mais do mesmo. Já em Before I Self Destruct 50 pega o caminho de volta em direção radical. Sem o apelo comercial de outrora, o astro torna a disparar sua metralhadora giratória em série de raps que versam sobre crime, violência e vingança. A tentativa óbvia é reeditar o impacto de seu primeiro álbum, Get Rich or Die Tryin' (2003). Não por acaso, Dr. Dre - produtor cultuado na cena hip hop dos EUA - embala faixas como Death to my Enemies e Ok, You're Right. Eminem também foi requisitado para figurar em Psycho. Contudo, algo já parece fora da ordem, apesar do potencial radiofônico de singles como Baby by me (no qual figura Ne-Yo). Nem a releitura de Rapper's Delight - hit emblemático de Sugarhill Gangs, rebatizado Gangsta's Delight - consegue fazer o álbum realmente cativar, ainda que uma ou outra batida seja sedutora. Sobra fúria, falta som realmente impactante. Como já denuncia a foto de sua capa, Before I Self Destruct soa como a trilha de um filme já visto. E já dirigido antes com mais inspiração.

Biscoito Fino lança no Brasil o CD 'Fado Mulato'

Lançado no mercado lusitano em novembro de 2008, o CD Fado Mulato ganha edição brasileira, pela Biscoito Fino, neste mês de dezembro de 2009. Originado de show de sucesso, o disco traz temas criados por compositores do Brasil para versos do poeta português Tiago Torres da Silva. Os fados são entoados por Maria João Quadros. Clique aqui para ler a resenha do CD postada em fevereiro em Notas Musicais.

Leo Jaime planeja primeiro DVD solo para 2010

Leo Jaime pretende gravar e lançar seu primeiro DVD solo ao longo de 2010. O cantor vem fazendo shows pelo Brasil para badalar Interlúdio, o álbum de inéditas editado em 2008 que marcou sua volta ao mercado fonográfico (após hiato de 13 anos).

27 de dezembro de 2009

Retrô 2009: Gossip faz cativante Music for Men

Trio norte-americano de pós-punk que estourou em 2006 com a música Standing in the Way of Control, Gossip mostrou em 2009 que é possível migrar da cena indie para o mainstream sem perda da atitude. Seu eletrizante álbum de inéditas Music for Men é um dos grandes destaques do ano. Escalado para pilotar o disco, Rick Rubin - produtor mais associado a grupos de rock como Metallica e Red Hot Chili Peppers - burilou o som do Gossip sem diluir o tom desencanado, dançante e provocador do trio centralizado pela gorducha e desbocada vocalista Beth Ditto. Men in Love e Pop Goes the World são duas músicas - petardos certeiros nas pistas - que se logo impuseram no (coeso) repertório de Music for Men.

Salve Jorge e sua obra fundamental para a MPB

Resenha de caixa de CDs
Título: Salve, Jorge!
Artista: Jorge Ben Jor
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * *

Uma das pedras fundamentais da MPB, a obra de Jorge Ben Jor nunca teve precedentes - assim como o cancioneiro de Dorival Caymmi (1914 - 2008), para citar outro exemplo de compositor que abriu um escaninho na música brasileira. Por isso mesmo, a recém-lançada caixa Salve, Jorge! - que embala os 13 álbuns gravados por Ben para a Philips do Brasil entre 1963 e 1976 e compila 28 fonogramas raros e/ou inéditos em CD duplo adicional - é item de valor inestimável, ainda que a qualidade dos discos em si possa oscilar. Mesmo porque boa parte destes 13 títulos tinha sido lançada somente uma vez em CD - em 1993, na econômica Série Colecionador - e já estava fora de catálogo no Brasil há mais de dez anos. Mesmo os que volta e meia estiveram nas prateleiras ganham reedições cuidadosas, com remasterização de alto nível (feita por Luigi Hoffer) e a devida restauração da arte gráfica do LP original. É o caso do seminal Samba Esquema Novo (* * * * *), gravado por Ben em 1963 com o Copa 5, o conjunto que o acompanhava nos shows feitos pelo cantor no Beco das Garrafas. Nesta álbum hoje histórico, o cantor apresentou 12 composições com seu violão percussivo que sintetizava a levada do samba com uma batida diferente que tinha algo do rock, algo de maracatu e - claro - algo da bossa então nova. Duas foram clássicos imediatos: Mas que Nada (trampolim em 1966 para o estouro de Sérgio Mendes nos Estados Unidos) e Por Causa de Você, Menina. Outras ganharam status com o tempo, casos de Balança Pema (regravada por Marisa Monte em 1994) e de Rosa, Menina Rosa (revivida por Céu neste ano de 2009). O êxito de Samba Esquema Novo foi tamanho que os dois álbuns lançados pelo compositor em 1964, Sacudin Ben Samba (* * * 1/2) e Ben É Samba Bom (* * * 1/2), não reeditaram o sucesso inicial do cantor, embora estejam calcados no mesmo violão inovador que sustentou o esquema novo apresentado em 1963. Sem hits, Sacudin Ben Samba lançou temas como Anjo Azul e Capoeira. Já Ben É Samba Bom destacou Bicho do Mato e Descalço no Parque - músicas apresentadas também no CD duplo de raridades em registros ao vivo extraídos do LP É Tempo de Música Popular Brasileira (1964) - além de releitura de Oba-Lá-Lá, tema do repertório de João Gilberto e exemplo de como o som de Ben também estava (bem) impregnado de bossa naqueles anos marcados pelo gênero.
A recepção morna obtida pelos dois discos de 1964 levou o compositor a abrir brechas para o intérprete no álbum de 1965, Big Ben (* * *), título menos inspirado da caixa. Nessa altura, Ben já transitava pela Jovem Guarda em flerte que culminou com Silêncio no Brooklin, incompreendido álbum de 1967 que não figura na caixa por ter sido gravado fora da Philips. A volta de Ben à gravadora e ao sucesso nacional aconteceria somente com Jorge Ben (* * * * *), álbum de 1969 que se tornou um clássico instântaneo da discografia do artista por conter músicas como Cadê Teresa?, País Tropical, Que Pena, Charles Anjo 45 e Bebete Vãobora. Ben começava a aproveitar as liberdades estéticas propostas pela Tropicália. Não por acaso, o maestro Rogério Duprat (1932 - 2006) assinou os arranjos de Barbarella e Descobri que Eu Sou um Anjo. Não por acaso também, o disco marca o encontro de Ben com o Trio Mocotó, ampliado em Força Bruta (* * * *), o álbum de 1970 que, mesmo sem reeditar o êxito estrondoso de seu antecessor, deu forma ao balanço de Ben naquela década que se iniciava. Suingue que incluiria algo do soul na mistura brasileira do orgulhoso Negro É Lindo (* * * *), álbum de 1971, ano em que Elis Regina (1945 - 1982) incorporou uma diva da soul music para sentenciar que Black Is Beautiful. Marchando na direção da corrente que mistura a MPB com o soul, Negro É Lindo foi o último dos três álbuns gravados por Ben com o percussivo Trio Mocotó, mas a ênfase recaiu novamente sobre o violão do compositor alquimista, cuja obra atingiria outro pico de criatividade em Ben (* * * * *), o efervescente álbum de 1972 que projetou Fio Maravilha e Taj Mahal. Na sequência, em 1973, 10 Anos Depois (* * *) - único título da caixa editado sem a capa original por questões jurídicas - deu uma pausa para a revisão da obra suingante, compactada em sete medleys que totalarizam 21 músicas. A obra voltaria a andar para a frente somente em 1974, com o lançamento de A Tábua de Esmeralda (* * * * 1/2), álbum impregnado dos conhecimentos de filosofia e alquimia que Jorge vinha adquirindo. O hit imediato foi a faixa Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas. Alquimia que fundiu a obra de Ben com a de Gilberto Gil em Gil & Jorge Ogum Xangô (* * * *), o disco de 1975, espécie de jam registrada em estúdio. Ainda em 1975, Solta o Pavão (* * * 1/2) ratificou - com dose menor de inspiração - o interesse de Ben pela alquimia, pela filosofia e pela teologia. Jorge de Capadócia foi o destaque do repertório - a rigor, inferior ao som do disco. Por fim, África Brasil (* * * * 1/2) rendeu hits como Xica da Silva e marcou o início da eletrificação da banda do Zé Pretinho, que continuaria a animar a festa na Som Livre, a gravadora na qual Jorge Ben gravou uma série de discos de pegada mais pop. Alguns até bem interessantes, mas muitos sem a pegada dos discos da fase áurea reunidos nessa caixa essencial. Salve Jorge e sua alquimia!!!!

CD duplo abre selo estrangeiro da Biscoito Fino

Gravadora carioca até então dedicada essencialmente à música produzida no Brasil, a Biscoito Fino passa a lançar - de maneira regular - discos estrangeiros a partir deste mês de dezembro de 2009. Live in Marciac 1993 - CD duplo dos pianistas de jazz Tommy Flanagan (1930 - 2001) e Hank Jones - é o título que inaugura o selo Biscoito Internacional. O álbum ao vivo foi gravado em apresentação dos grandes pianistas no Festival Internacional de Marciac, na França.

U2 lança segundo álbum de remixes em janeiro

Em janeiro de 2010, o U2 vai lançar um álbum de remixes, Artificial Horizon. Dirigido ao fã-clube da banda, o disco reúne 13 faixas. Entre elas, há remixes assinados por Trent Reznor (Vertigo), o produtor Jacknife Lee (Fast Cars) e o DJ David Holmes (Beautiful Day). Há também o Grand Jury Mix de If God Will Send his Angels e o Fish Out of Water's Remix de Get on your Boots. Segundo disco de remixes do U2, Artificial Horizon vai ser lançado 15 anos após Melon: Remixes for Propaganda (1995), CD dirigido aos assinantes da revista Propaganda, mantida pela banda na época. No caso de Artificial Horizon, para adquirir o disco é preciso se cadastrar no fã-clube do quarteto pelo site oficial do U2. Ou então esperar que algum fã mais solidário disponibilize o CD na internet.