20 de dezembro de 2008

Virgínia Rosa canta o baita samba de Monsueto

Uma das páginas de grande beleza da história do samba, a obra de Monsueto Campos de Menezes (1924 - 1973) é abordada por Virgínia Rosa no tributo Baita Negão, editado pelo Sesc de São Paulo neste mês de dezembro de 2008. Em seu quarto álbum, a cantora decidiu delegar cada faixa a um produtor diferente. Swami Jr. - por exemplo - pilotou Lamento da Lavadeira enquanto Jair Oliveira produziu A Fonte Secou. Admirador de Monsueto, Martinho da Vila gravou dueto com Virgínia no samba Eu Quero Essa Mulher Assim Mesmo. O repertório selecionado pela intérprete não evita os clássicos do compositor - caso de Me Deixa em Paz - mas tampouco esquece sambas nada conhecidos como Maria Baiana e Retrato de Cabral.

Mergulhos rasos e fundos nos mares de Caymmi

Resenha de Programa de TV
Título: Som Brasil Especial - Dorival Caymmi
Artista: Alice Caymmi, Danilo Caymmi, Dori Caymmi,
Margareth Menezes, Moinho (em foto da TV Globo), Nana
Caymmi e Zeca Baleiro
Data da exibição: 19 de dezembro de 2008
Cotação: * * *

Sem forjar falsa modéstia, Dorival Caymmi (1914 - 2008) sempre costumava dizer que ele próprio era o melhor intérprete de suas músicas. A edição especial dedicada pela TV Globo ao compositor na série de programas musicais Som Brasil - exibida na noite de sexta-feira, 19 de dezembro de 2008 - deu razão a Caymmi. O que não significa que não tenha havido momentos de brilho entre mergulhos rasos e profundos no mar deste artista que tão bem soube retratar a velha e mítica Bahia assim como o Rio de Janeiro esfumaçado das boates e dos sambas-canções típicos dos anos 40 e 50. Sua filha Nana - em sua primeira aparição pública desde a morte do pai - é das que mergulham fundo nesta vertente mais romântica. Tanto que sua interpretação de Só Louco - emoldurada pelo violão de Dori e pela flauta de Danilo - abriu o programa em grande estilo. Mais tarde, Dori mostraria que é o grande herdeiro vocal do pai ao cantar João Valentão enquanto Danilo fez dueto com a filha, Alice Caymmi, em Sábado em Copacabana. Aliás, a aparição da neta de Dorival - que cantou sozinha Nem Eu, outra pérola do rosário de sambas-canções do seu avô - revelou jovem cantora de voz grave e viril, ainda em busca de uma identidade (o timbre lembra o de Nana, mas sem reeditar a carga emotiva que enobrece o canto da tia de Alice). Fora do círculo familiar, Zeca Baleiro comprovou que sabe se apropriar de repertório alheio com personalidade ao abordar em tom pop um trio de mulheres (Dora, Marina e Rosa Morena) celebrizadas pelo cancioneiro de Caymmi. O arranjo de Marina, em especial, deu outra pintura à música. Já Margareth Menezes teve seu grande momento ao cantar Morena do Mar com o suingue afro-brasileiro que valoriza sua voz calorosa. Maga também interpretou Canoeiro (Pescaria) e a Suíte dos Pescadores, esta num tom mais reverente ao mestre das canções praieiras. Por sua vez, o grupo Moinho ficou com os sambas buliçosos que são, em sua maioria, belos postais da Bahia. O trio - formado pelo guitarrista Toni Costa, a percussionista Lan Lan e a cantora Emanuelle Araújo (atualmente mais em evidência pela interpretação da personagem Manu na novela A Favorita) - abordou Caymmi com graça e vivacidade sem alcançar um brilho realmente especial como sugeria o título do bem-vindo programa.

Platão canta com estilo pros que estão em casa

Resenha de CD / DVD
Título: Pros que
Estão em Casa
Artista: Toni Platão
Gravadora: EMI
Music
Cotação: * * * (CD)
/ * * * * (DVD)

Toni Platão merecia um registro de seu canto em DVD. É esse o mérito de Pros que Estão em Casa, o primeiro DVD do intérprete projetado nos anos 80 como vocalista do grupo Hojerizah (1982 - 1989). Dirigido por Gringo Cardia, o vídeo resulta classudo por ter sido filmado em preto e branco, em estúdio, como se fosse ao vivo, mas sem a participação do público. Os 16 números (19, se incluídos na conta os três exibidos nos extras) têm por base o roteiro do show e do disco Negro Amor, lançado em 2006. Daí a inevitável redundância da edição em CD deste Pros que Estão em Casa - ainda que haja novas nuances nos arranjos e até nas interpretações de belas músicas como Mares da Espanha (Ângela RoRo), Movimento dos Barcos (Jards Macalé e Waly Salomão) e Impossível Acreditar que Perdi Você (Márcio Greyck) - todas já abordadas no álbum anterior de Platão. Já o DVD é estiloso e prioriza a voz volumosa do cantor, que, desde o CD Negro Amor, tem acertado ao abandonar o tom operístico que, por vezes, dava demasiada pompa às suas interpretações. É esta voz que, emoldurada pela sonoridade acústica dos arranjos, irmana no roteiro tema de David Bowie (The Man Who Sold the World), standard dos Beatles (Come Together, em registro inicialmente sussurado que ganha intensidade no roteiro) e canção de Antonio Marcos (1945 - 1992), E Não Vou Mais Deixar Você Tão Só, gravada por Roberto Carlos em 1968. Como conceitua Platão na entrevista retrospectiva concedida ao jornalista Jamari França para os extras do DVD, é como se cada um dos 16 números fosse um clipe filmado com uma luz e um cenário diferentes. A balada Impossível Acreditar que Perdi Você, por exemplo, é entoada por Platão sentado numa poltrona, com takes captados geralmente de cima para baixo pelo diretor do DVD. Estilos à parte, resulta especialmente harmonioso o dueto vocal de Platão com Dado Villa-Lobos em Eu Sei, música do repertório da Legião Urbana (1982 - 1996), incrementada na gravação com citação de Crazy Little Thing Called Love, de Freddie Mercury (1946 - 1991). A participação de Zélia Duncan em Carne e Osso - único (relativo) sucesso do Picassos Falsos, grupo que desenvolveu trajetória similar ao do Hojerizah - também valoriza este DVD em que a voz de Toni Platão, em ótima forma, deleita os que estão em casa. Dez!

Imagem luminosa de Clara chega enfim ao DVD

Resenha de DVD
Título: Clara Nunes
- Os Musicais do
Fantástico das
Décadas de 70 e 80
Artista: Clara Nunes
Gravadora: EMI Music
/ Globo Marcas
Cotação: * * * *

Enfim, a imagem e o canto luminosos de Clara Nunes (1942 - 1983) já podem ser vistos e ouvidos em DVD. O primeiro DVD da cantora exibe 21 clipes gravados por essa mineira guerreira - entre 1974 e 1983 - para o programa Fantástico, apresentado pela TV Globo nas noites de domingo desde 1973. O período enfocado no DVD coincide com o auge artístico e comercial da cantora, projetada em escala nacional a partir de 1974 com o sucesso Conto de Areia - não por acaso, o primeiro clipe do DVD, no qual Clara Nunes aparece com o visual estilizado de baiana estampado na capa do LP Alvorecer (1974). São vídeos produzidos na era pré-MTV e, portanto, pioneiros na formatação de uma linguagem audiovisual até então inexistente na televisão brasileira, que somente ganhou cores a partir de 1972. Em quase todos os vídeos, Clara dubla as gravações do discos - as exceções são os clipes de À Flor da Pele e Oricuri (Segredos do Sertanejo), filmados ao vivo, com banda, em 1977 e em 1980, respectivamente - em estúdios ou em cenários naturais (praias, matas, cachoeiras) que acabam ficando repetitivos quando o espectador assiste na seqüência aos clipes de músicas como O Mar Serenou (1975), Coisa da Antiga (1977), Guerreira (1978), Banho de Manjericão (1979) e Na Linha do Mar (1979). Ainda assim, os 21 clipes conseguem montar belo painel da obra e da evolução de Clara Nunes na sua última década de vida. É fato que não há na seleção um clipe sequer extraído do repertório do álbum (Canto das Três Raças, 1976) que marcou a transição da cantora rumo a um universo rítmico mais abrangente. Em contrapartida, há o vídeo de 1975 em que, após recordar a importância de Ataulfo Alves (1909 - 1969) no começo de sua carreira, Clara dubla seu primeiro sucesso, Você Passa Eu Acho Graça, parceria de Ataulfo com Carlos Imperial (1935 - 1992). É curioso notar como num dos últimos clipes gravados por Clara para o Fantástico - o de Nação, filmado em 1982 - já são perceptíveis algumas ousadias estilísticas na direção do vídeo (ligeiramente mutilado no DVD por não exibir os rostos de alguns bailarinos do clipe, certamente suprimidos por questões relativas a direitos de imagem). Mas o que salta na tela, por mais que a estética dos vídeos já tenha adquirido caráter kitsch, é a figura radiante de Clara Nunes. Tanto na abordagem do universo praieiro de Dorival Caymmi (É Doce Morrer no Mar, 1974), como no encontro majestoso com o grupo baiano Filhos de Gandhi (em Ijexá, último clipe de Clara, filmado no início de 1983, pouco antes da morte da cantora), ou ainda no dueto feito em 1979 com Adoniran Barbosa (1910 - 1982) para reviver Abrigo de Vagabundos, paira soberana na tela a imagem luminosa de uma intérprete que marcou época e, por isso mesmo, merecia que essa imagem chegasse ao mundo digital. Mesmo sem extras (a EMI cogitou incluir entrevista da cantora à jornalista Marília Gabriela, exibida no programa TV Mulher, mas a idéia não foi adiante), o DVD Clara Nunes tem um lugar de honra na videoteca brasileira.

Moyseis regrava Chico sob produção de Paulão

Cantor e compositor projetado no circuito de samba da Lapa (RJ), lançado no mercado fonográfico pela Deckdisc em 2007 com um primeiro CD que não surtiu o efeito obtido pelo álbum de estréia de Teresa Cristina (outra cria da Lapa, lançada pela Deckdisc em 2002), Moyseis Marques grava seu segundo disco com repertório quase todo autoral e inédito, de tonalidade romântica. Sob a produção de Paulão Sete Cordas, Marques regrava samba de Chico Buarque (o pouco inspirado Subúrbio, escalado pelo autor para abrir o CD Carioca) e Oitava Cor, parceria de Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008) com Sombra e Sombrinha. O lançamento do CD de Moyseis Marques está previsto para o primeiro semestre de 2009.

19 de dezembro de 2008

Nando reverencia mãe e filha em CD de inéditas

Nando Reis já delineia o repertório do CD de inéditas que vai começar a gravar em janeiro de 2009. Entre as músicas novas, há as homenagens do compositor à mãe (Cecília, musa inspiradora de Conta) e à filha Sophia (reverenciada na canção Só pra So). Livre Como um Deus e Hi, Dri são outras inéditas do sucessor do CD e DVD gravado pelo ex-titã na série Luau MTV. Está previsto também para o álbum um dueto do cantor com Ana Cañas em música provisoriamente intitulada Pra Você. A conferir.

Reedições do U2 fazem jus à trilogia já histórica




Lançadas em julho de 2008 no exterior, as alentadas reedições do três primeiros álbuns do U2 - Boy (1980), October (1981) e War (1983) - chegam às lojas do Brasil neste mês de dezembro, via Universal Music, e fazem jus a uma trilogia de discos históricos que prepararam o terreno para que o quarteto irlandês logo se impusesse na linha de frente do rock mundial. As reedições têm acabamento luxuoso. Cada álbum vem com um CD-bônus - com inéditas sobras das sessões de gravação, remixes e registros ao vivo - e ambos, o disco original e o adicional, foram embalados dentro de um libreto que apresenta fotos raras e textos sobre o (respectivo) álbum, além de reproduzir as letras das músicas. Turbinado com as inéditas Saturday Night e Speed of Life, Boy representa um jorro de energia no qual o U2 expressou os anseios da juventude pós-punk. O álbum - que estampou na capa a foto do menino Peter Rowan - resiste bem ao tempo e ainda figura como uma das estréias mais criativas de uma banda de rock. Menos enérgico, October - incrementado na atual reedição com takes ao vivo de faixas como Gloria, I Fall Down, Fire e With a Shout - foi o ousado segundo disco em que o grupo começou a dar sinais de maturidade e preocupação política, semeando a ideologia que iria explodir em caráter planetário com a obra-prima War. Sintomaticamente, este terceiro álbum do U2 estampava na capa outra foto do menino Peter Rowan, num close mais irado. Foi o disco que projetou o grupo em escala mundial através dos hinos Sunday Bloody Sunday e New Year's Day - presenças obrigatórias desde então nos shows do quarteto. O CD-bônus de War inclui a inédita Angels Too Tied to the Ground e remixes das músicas do emblemático álbum original. O clássico dessa trilogia de clássicos.

El Presente indica futuro para Julieta no Brasil

Resenha de Show
Título: El Presente
Artista: Julieta Venegas (em foto de Vera Donato)
Local: Canecão (RJ)
Data: 18 de dezembro de 2008
Cotação: * * * * 1/2

Difícil defender a tese de que o Brasil fecha os ouvidos para o som dos países vizinhos da América Latina diante do Canecão lotado que cantava a plenos pulmões toda a letra de Me Voy, canção que fechou o show apresentado por Julieta Venegas no Rio de Janeiro (RJ) na noite de quinta-feira, 18 de dezembro de 2008. A cena aconteceu no encerramento da turnê El Presente, baseada no repertório e na bela sonoridade do Unplugged MTV gravado e lançado pela artista (mexicana de coração e de criação, pois a rigor nasceu nos Estados Unidos) neste ano de 2008. Um fecho significativo, pois foi no Rio que o acústico de Venegas começou a ser gestado quando a cantora procurou o maestro carioca Jaques Morelenbaum para co-produzir a gravação. Morelenbaum, aliás, participou desse show realmente especial que atestou o carisma, a desenvoltura e o talento plural da cantora, compositora e multi-instrumentista, que, além de soltar a voz, se reveza no piano, no acordeom e no violão. Ao sair de cena após o bis dado com as canções Esta Vez e Andar Conmigo, Julieta Venegas deixou na embevecida platéia a sensação de que a turnê El Presente - que já havia passado por São Paulo (SP) em agosto com igual sucesso - indica um longo futuro para a artista no Brasil. Público, ela já tem.
Julieta Venegas tem presença luminosa em cena. O que valoriza seu mix pop de rock e balada - temperado com os ritmos regionais do México e com arranjos que combinam com elegância sopros, cordas e até um cavaquinho. Nada menos do que 15 músicos - capitaneados por Morelenbaum (ao violoncelo) - subiram ao palco do Canecão com Julieta. O roteiro reproduziu todas as músicas do acústico feito pela cantora na MTV, mas, a rigor, o belo Unplugged MTV representa a extensão de um sucesso artístico que começou a ter alcance mundial em 2006 com a edição do álbum Limón y Sal, cuja faixa-título abriu o show, sinalizando já de cara o caráter sedutor da apresentação. Lento (balada que Julieta entoa acompanhando-se ao piano), Mírame Bien (tema sobre a deterioração do amor pelo cotidiano), Eres para mí (com a cantora assumindo o discurso rapeado que, na gravação editada em CD e DVD, ficou a cargo de Mala Rodriguez), Algo Está Cambiando e o tango De que me Sirve foram números que se destacaram no roteiro coeso do show. Julieta, aliás, é a intérprete do tango Pa' Bailar, projetado na abertura da novela A Favorita no antenado registro instrumental do grupo Bajofondo.
É fato que todo o charme de Julieta não disfarça uma ou outra desafinada da cantora. É fato também que a mais bela inédita do acústico da artista, Ilusión, soa menos sedutora sem a presença de Marisa Monte, convidada da faixa na gravação. Entretanto, tais detalhes não tiram o brilho de um grande show que encerrou com chave de ouro o intenso calendário de espetáculos internacionais apresentados no Brasil em 2008. Julieta marcou (bela) presença...

'Speed Samba Jazz' de Hamleto chega ao DVD

Pianista, produtor, arranjador e ainda compositor, Hamleto Stamato se uniu em 2001 ao baixista Ney Conceição e ao baterista Wilson Meireles para gravar em CD o que seria o primeiro dos três volumes da série Speed Samba Jazz, lançados entre 2003 e 2006. O projeto chega neste mês de dezembro de 2008 ao DVD - editado pela gravadora Delira Música em kit que inclui CD com 14 das 17 faixas do DVD - com o subtítulo Gafieira Jazz. O que era um trio virou um sexteto com o reforço dos metais de Paulinho Trompete (trompete), Roberto Marques (trombone) e Widor Santiago (sax). É com eles que Hamleto toca no estilo que batizou de Speed Samba Jazz um repertório que inclui A Night in Tunisia (música de Dizzy Gillespie e Frank Paparelli), Carinhoso (Pixinguinha), Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça), Mas que Nada (Jorge Ben Jor), Samba de Uma Nota (outro tema de Jobim e Mendonça) e Summer of 42 (Michel Legrand). Já à venda.

Com garra, Dorina reafirma fé no melhor samba

Resenha de CD
Título: Samba de Fé
Artista: Dorina
Gravadora: Suburbanistas
Produções

Cotação: * * * * 1/2

"O mais importante é a fé", sentencia Dorina em verso de Banho de Fé, o partido alto de Arlindo Cruz, Sombrinha e Sereno que inspirou o título de seu quinto álbum (o sexto, se a conta incluir a coletânea Tem Mais Samba, turbinada com duas inéditas). Samba de Fé é disco de garra, bancado pela cantora e captado ao vivo em show no Trapiche Gamboa (RJ) com direção musical de Mauro Diniz e roteiro conduzido por Túlio Feliciano. Basta listar alguns compositores presentes na ficha técnica - Candeia (1935 - 1978), Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), Moacyr Luz, Roque Ferreira, Jorge Aragão, Nei Lopes, Wilson Moreira e os já citados Arlindo Cruz, Mauro Diniz, Sombrinha e Sereno - para perceber que Dorina continua depositando sua fé no melhor samba produzido nos quintais cariocas. O disco não perde o pique em 12 faixas que conciliam afro-samba (Obaxirê, de Toninho Gerais com Roque Ferreira), partidos de altíssimo quilate (como Fidelidade Partidária, da lavra fina da dupla Nei Lopes e Wilson Moreira), samba mais dolente (Cheiro de Saudade, de Sereno e Mauro Diniz), reverência à Velha Guarda da escola Portela (Lindo Passado de Glória, em dueto com Mauro Diniz) e incursão pelo repertório de Marlene (Apito no Samba, de Luiz Bandeira e Luiz Antônio - este não creditado na contracapa). Samba de Fé é comovente na devoção de Dorina a essa turma de bambas. De Luiz Carlos da Vila, a quem aliás o disco é dedicado, a cantora entoa Sonhava, linda jóia melódica e poética lapidada pelo (já saudoso) compositor em parceria com Riko Dorilêo. É samba da mesma nobre linhagem de Pedaço de Ilusão, um daqueles temas que ostentam a grife de Jorge Aragão (com colaboração de Jotabê e Sombrinha). Por sua verdadeira fé no samba, explicitada em Na Hora de Voltar (Adilson Gavião e Adaulto Magalha, em arranjo pontuado pelo clarinete de Dirceu Leite), Dorina fica no nível de Beth Carvalho quando recebe a cantora para festivo dueto em Padroeira (Rachado e Vaguinho), samba lançado pela Madrinha em 1986 no excelente álbum Beth. Como a qualidade técnica da gravação ao vivo paira acima da média da cena indie (com a voz em absoluto primeiro plano na mixagem), Samba de Fé é dos melhores CDs de 2008 e (re)afirma a vocação fervorosa de Dorina.

18 de dezembro de 2008

Folha não explica longevidade do 'Rei' no trono

Resenha de Livro
Título: Folha Explica
Roberto Carlos
Autoria: Oscar Pilagallo
Editora: Publifolha
Cotação: * *

Roberto Carlos já vai completar 50 anos de carreira em 2009. Na maior parte dessas cinco décadas, o Rei permaneceu entronizado na preferência popular - ainda que sua obra já venha dando progressivos sinais de desgaste desde o início dos anos 80. Mas ninguém explicou a contento a razão da longevidade dessa monarquia. O jornalista Oscar Pilagallo faz uma tentativa no volume 79 da coleção Folha Explica, mas o ensaio do autor é mais biográfico do que analítico. Nesse sentido, o livro é mais indicado para quem não leu a proibida biografia Roberto Carlos em Detalhes (Paulo César Araújo, Editora Planeta 2006) - minuciosa na reconstituição dos passos profissionais do artista - ou o ensaio Como Dois e Dois São Cinco (Pedro Alexandre Sanches, Editora Boitempo, 2004), este, sim, uma tentativa mais ousada de esmiuçar a obra e o mito. Pilagallo não oferece uma visão ou abordagem realmente original sobre um cantor que soube migrar do universo pueril da Jovem Guarda para o mundo adulto das canções sensuais dos anos 70 sem perder popularidade nessa transição. Ao contrário, o Rei até ampliou seus domínios na música brasileira na medida em que foi ficando muito, muito romântico. O livro defende que a obra de Roberto Carlos é uma expressão do gosto médio do brasileiro, mas jamais vai fundo na tese. Talvez porque, como reconhece o jornalista, tal reinado está fincado no carisma do Rei - qualidade difícil de ser explicada ou quantificada. Contudo, a narrativa ágil e superficial de Folha Explica Roberto Carlos é adequada para leitores pouco familiarizados com o artista que pretendem dar os primeiros mergulhos em emoções que, em 2009, estarão em foco.

U2 lança No Line on the Horizon em 2 de março

Previsto inicialmente para ter sido lançado em novembro de 2008, o décimo-segundo álbum de estúdio do U2, No Line on the Horizon, teve sua chegada às lojas confirmada oficialmente para 2 de março de 2009. O anúncio foi feito pelo quarteto em seu site oficial nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2009. Concebido e registrado em diferentes partes do mundo, No Line on the Horizon começou a ser gravado em 2007 em Fez, cidade do Marrocos. Na seqüência, o grupo irlandês continuou a gravação em seu próprio estúdio em Dublin. Sessões posteriores no New York's Platinum Sound Recording Studios (EUA) e no Olympic Studios (Londres, Inglaterra) completaram o álbum, pilotado por Brian Eno e Daniel Danny Lanois, com a produção adicional de Steve Lillywhite. No Line on the Horizon é o sucessor de How to Dismantle an Atomic Bomb, que, lançado no fim de 2004, vendeu nove milhões de cópias ao redor do mundo. Magnificent, Stand Up Comedy e Crazy Tonight são prováveis faixas do álbum, que vai ter cinco edições diferentes (uma na forma de vinil duplo).

Sony repõe em catálogo álbum clássico de Dylan

Enquanto a EMI Music badala o CD e DVD em que o profeta Zé Ramalho canta versões em português de músicas de Bob Dylan, a Sony BMG repõe em catálogo uma histórica obra-prima do compositor norte-americano. O disco Highway 61 Revisited tinha saído em CD no Brasil, mas numa edição desleixada. A atual é digna por reproduzir as fotos e o texto escrito pelo próprio Bob Dylan para conceituar esse álbum de 1965 que chocou os puristas do folk por aproximar o artista das guitarras e do universo do rock. Basta dizer que foi nesse álbum que aparecem as gravações originais de Like a Rolling Stone, de Tombstone Blues e da clássica faixa-título.

Sai no Brasil o DVD que flagra Norah no Texas

Na noite de 14 de junho de 2007, quatro meses após ter lançado seu terceiro álbum, Not Too Late, Norah Jones fez um show em Austin, no Texas (EUA), que foi gravado para exibição pelo canal de TV PBS na sua série Austin City Limits. O registro da apresentação foi editado em DVD que sai no Brasil neste mês de dezembro de 2008 pela gravadora EMI Music. O repertório perpetuado no DVD Norah Jones Live from Austin TX é formado por 18 músicas alinhadas em roteiro que mistura temas autorais dos três álbuns da cantora de pop jazz com recriações dos repertórios de Roy Orbison (Blue Bayou), Willie Nelson (Hands on the Wheel) e Tom Waits (Long Way Home). Sinkin' Soon conta com a intervenção do trombonista J. Walter Hawkes. Já o guitarrista M. Ward é o convidado de faixas como Creepin' In. Fiel à sua mistura de jazz, pop e country, Norah Jones esbanja charme nesta gravação em que - como de praxe - assume o piano enquanto solta sua voz macia e sensual. É luxo só!

Miquinhos rearmam seu circo para gravar DVD

Reativado, o grupo João Penca e seus Miquinhos Amestrados grava seu primeiro DVD nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2008, em show no Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ). Nomes associados ao grupo nos anos 80, como Eduardo Dussek e Leo Jaime, vão participar da gravação. No roteiro, algumas inéditas estarão entremeadas com sucessos como Popstar (regravada há alguns anos por Lulu Santos), Lágrimas de Crocodilo, Matinê no Rian, Papa Uma e Romance em Alto Mar. O repertório inclui obviamente Sol, Som, Surf e Sal, a versão em português de Surfin' Safari (música do grupo norte-americano Beach Boys) gravada pelos Miquinhos para a trilha sonora da atual novela Três Irmãs.

17 de dezembro de 2008

Álbum de Zeca ganha edição especial com DVD

A Universal Music está pondo nas lojas, neste mês de dezembro de 2008, uma edição especial do álbum Uma Prova de Amor, lançado por Zeca Pagodinho em setembro. A reedição inclui um DVD com entrevistas e imagens inéditas dos bastidores da gravação do CD. O DVD foi produzido em parceria com a MTV, a emissora pela qual o sambista gravou seus dois álbuns mais bem-sucedidos nesta década (dois acústicos, sendo que o segundo foi voltado para o universo da gafieira). Para quem não quiser comprar a edição especial ou já tiver adquirido o CD Uma Prova de Amor, a dica: a MTV vai exibir o inédito especial apresentado no DVD às 19h30m de 24 de dezembro, com reprises para programadas para 25 de dezembro (0h30m) e para 28 de dezembro (16h30m). Não há músicas extras no DVD, documental.

'Circus' (re)põe Britney em estéril picadeiro pop

Resenha de CD
Título: Circus
Artista: Britney Spears
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * 1/2

Como o anterior Blackout (2007), álbum em que Britney Spears retomou sua carreira fonográfica após uma série de escândalos que a tornaram um dos principais alvos dos vorazes tablóides mundiais, Circus é trabalho em que o time de produtores (Dr. Luke, Danja, Max Martin, Guy Sigsworth e Bloodshy & Avant) dá as cartas. Contudo, Circus soa mais orgânico em faixas como Unusual You. O álbum é mediano. Não tem o peso das batidas de Blackout e tampouco a coesão do repertório do CD que marcou o renascimento artístico de Britney. Em contrapartida, baladas como Out from Under e Blur fazem com que Circus soe um pouco menos artificial do que seu antecessor. Algum sentimento é até detectável quando a voz miúda da cantora entoa os versos de uma canção como My Baby. E, justiça seja feita, o primeiro single, Womanizer, produzido pelo grupo The Outsyders, está entre as melhores gravações da artista. O estrondoso sucesso da faixa sinaliza que Circus cumpre sua (única) missão de manter Britney Spears em estéril picadeiro pop.

CD 'Day & Age' traz Killers de volta ao tecnopop

Resenha de CD
Título: Day & Age
Artista: The Killers
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * *

De certa forma, este terceiro álbum do quarteto The Killers remete ao seu disco de estréia, Hot Fuss (2004), por dar um lugar de destaque aos sintetizadores, que haviam perdido espaço para as guitarras no anterior Sam's Town (2007), de tom mais visceral e pesado. Contudo, por mais que também evoque o tecnopop de bandas dos anos 80 como Duran Duran e Erasure, Day & Age diverge de Hot Fuss. A pegada dançante é diferente - e não necessariamente melhor. Entre ecos de David Bowie (em especial na faixa Spaceman) e tentativas de soar cada vez mais pop (como em Joy Ride e em Human, música eleita o primeiro single do álbum), o rock sintetizado do Killers passa pelo filtro do produtor Stuart Price, que, para quem não liga o som à pessoa, foi o piloto do disco mais cultuado de lady Madonna nesta década (Confessions on a Dance Floor, 2005). Price deu seu próprio tempero ao som da banda. Tanto que há até um molho caribenho em I Can't Stay. No todo, Day & Age parece iniciar nova era na discografia do mutante The Killers. Ao menos, até o quarto álbum deste grupo norte-americano. Por ora, paira no ar certa decepção.

Bridgewater viaja a Mali em busca do afro-jazz

Resenha de CD
Título: Red Earth
- A Malian Journey
Artista: Dee Dee
Bridgewater
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * *

Ao longo dos anos 90, Dee Dee Bridgewater - cantora nascida em Memphis (EUA) - teve escalada ascendente no mundo do jazz. Red Earth é o álbum que a artista lançou em 2007 e que ganhou tardia edição nacional via Universal Music neste fim de 2008 no embalo da vinda da cantora a Brasil para show em São Paulo (SP). Antes tarde do que nunca, pois o álbum é sedutor e reafirma a habilidade de Bridgewater para extrapolar com classe o universo convencional das cantoras de jazz. O subtítulo do CD, A Malian Journey, dá pista certeira sobre o som de Red Earth. A cantora viajou até Mali, país africano, para gravar este disco que em si já é uma jornada em torno do afro-jazz. Com seu fraseado impecável, a intérprete mistura sons de Mali e dos EUA para reverenciar a mãe África em músicas como Afro-Blue (um tema dos anos 70) e Four Women, pungente manifesto de orgulho negro, da lavra engajada de Nina Simone (1933 - 2003). Músicas de compositores africanos - como Mama Digna Sara Ye, intitulada Mama Don't Ever Go Away na versão literal em inglês assinada pela própria Dee Dee Bridgewater - são cantadas tanto em inglês como em sua língua original num mix de forte carga espiritual que valoriza o afro-jazz.

16 de dezembro de 2008

Camaleão expõe todas as faces do mutante Ney


Resenha de Caixa de CDs
Título: Camaleão
Artista: Ney Matogrosso
Gravadora: Universal Music
Cotação da caixa: * * * * 1/2
Um dos fatos mais revelantes do mercado fonográfico brasileiro em 2008, as chegada às lojas da caixa Camaleão - que embala reedições de 15 discos de carreira de Ney Matogrosso, lançados originalmente entre 1975 e 1991 - dá tardio tratamento digno a uma obra que tinha chegado apenas parcialmente ao formato digital e, mesmo assim, em reedições desleixadas. Além de recuperar todo o material gráfico dos LPs originais (inclusive os selos dos vinis, reproduzidos nos CDs), as reedições trazem textos do jornalista Rodrigo Faour, idealizador da coleção, sobre cada um dos 15 álbuns, remasterizados com apuro. Com a ressalva de que os três primeiros títulos da discografia solo do cantor - Água do Céu-Pássaro (1975), Bandido (1976) e Pecado (1977), até então inéditos em CD - foram reeditados a partir de áudios de cópias de LPs, já que as matrizes originais - pertencentes ao acervo da extinta Continental, herdado pela Warner Music - se deterioraram. Obviamente, o som destes três títulos, embora satisfatórios levando-se em conta as precárias condições técnicas, soam mais abafados. Áudios à parte, Camaleão expõe em 15 discos todas as faces do mutante cantor. Intérprete de natureza camaleônica, inclassificável, Ney Matogrosso transitou entre a MPB e o pop, mas sempre com atitude roqueira, às vezes até trangressora, sobretudo nos anos 70, quando desafiou a censura da época com repertório e postura de alta carga erótica. Eis os álbuns reeditados na caixa e suas respectivas cotações (dadas pelo conteúdo artístico do CD, e não pelo aspecto técnico da reedição):
Água do Céu-Pássaro (1975) * * * *
Em sua ousada estréia solo, de sonoridade urdida com ruídos e textura vanguardista, Ney Matogrosso cantou músicas de João Bosco e Aldir Blanc (Corsário) e Milton Nascimento (Bodas, com Ruy Guerra). As faixas mais populares foram América do Sul e o mambo Coubanakan. A reedição inclui As Ilhas e 1964 (II), as duas músicas do compacto gravado em 1974 (e encartado no LP).
Bandido (1976) * * * 1/2
Por conta da faixa Bandido Corazón, pérola pop de Rita Lee, Ney Matogrosso conseguiu sucesso radiofônico com este segundo álbum solo, produzido por Guilherme Araújo sob a direção musical da violonista Rosinha de Valença (1941 - 2004), autora da faixa Usina de Prata. Embora ligeiramente irregular, o repertório destacou também Mulheres de Atenas (grande presente de Chico Buarque), A Gaivota (canção de Gilberto Gil, tão bela quanto desconhecida) e Trepa no Coqueiro, veículo para Ney exercer a malícia e a sensualidade que pontuavam seu canto naquela época.
Pecado (1977) * * * *
De novo com repertório à altura de sua voz, pescado no roteiro do consagrador show Bandido (1976), Ney Matogrosso gravou este terceiro disco solo, o último feito pela extinta gravadora Continental. Um dos destaques é a sensual releitura de Da Cor do Pecado (Bororó) - uma das faixas feitas para um especial gravado para a TV Bandeirantes. Pecado misturava rock (Metamorfose Ambulante, Com a Boca no Mundo) com bossa nova (Desafinado) e a latinidade que identificava e unia a América do Sul na discografia de Ney (San Vicente e a regravação de Sangue Latino, hit do grupo Secos & Molhados). Fechando o disco, o cantor pintava Retrato Marrom com as tintas fortes do tango argentino.
Feitiço (1978) * * * * 1/2
Em sua estréia na Warner Music, Ney Matogrosso foi produzido pela primeira vez por Mazzola, nome que seria recorrente na sua discografia daí em diante. O repertório, inspirado, projetou hits como a flamenca Bandolero, o samba-choro O Tic-Tac do meu Coração (sucesso de Carmen Miranda em 1935), a canção Mal Necessário (revivida pelo cantor em 2007 no politizado show Inclassificáveis) e o frevo Não Existe Pecado ao Sul do Equador, gravado com arranjo que evoca a batida da disco music que, na época, já tomava conta do Brasil. A releitura do tema de Chico Buarque e Ruy Guerra impulsionou as vendas do álbum e foi projetada em escala nacional na abertura da novela Pecado Rasgado, exibida pela Rede Globo em 1978. Feitiço já tinha saído em CD em 1996 na série 2 É Demais!, da Warner Music. Dez!!
Seu Tipo (1979) * * * *
Pela primeira vez, Ney Matogrosso tirou a maquiagem e a fantasia para se mostrar de cara limpa. Seu Tipo é um disco mais cool do que os álbuns anteriores do cantor. No repertório, puxado pela faixa-título (da lavra do então desconhecido Eduardo Dusek, em parceria com Luiz Carlos Góes), o cantor gravou Joyce (Ardente) e Fátima Guedes (Dor Medonha), compositoras que despontavam na emergente cena feminina de 1979. Curiosidade: Joyce assinou também o arranjo da regravação de Rosa de Hiroshima. Havia conotação gay no álbum, mais perceptível em Encantado, versão de Caetano Veloso para Nature Boy, sucesso de Nat King Cole. Seu Tipo havia sido reeditado em CD na série Arquivos Warner.
Sujeito Estranho (1980) * * * 1/2
Com a saída de Mazzola da Warner Music, Ney Matogrosso gravou sob a produção de Gutti Carvalho este que é seu disco mais desconhecido. Inédito em CD, Sujeito Estranho foi o último álbum feito por Ney para a Warner. Não fez muito sucesso. A gravação mais conhecida é Napoleão, da dupla Luli & Lucina, fiel fornecedora de bom repertório para o cantor. Ney regravou duas músicas do primeiro álbum de Ângela RoRo, Balada da Arrasada e Não Há Cabeça. O repertório de Sujeito Estranho foi todo montado com as músicas do roteiro do show Seu Tipo que não tinham sido gravadas no disco homônimo e inclui Doce Vampiro.
Ney Matogrosso (1981) * * * * *
Disco esfuziante que marcou a estréia de Ney Matogrosso na efêmera gravadora Ariola, para onde o cantor se transferiu na intenção de voltar a trabalhar com o produtor Mazzola. A sonoridade já roçava o tecnopop que daria o tom da música brasileira nos anos 80, mas os arranjos de César Camargo Mariano e Lincoln Olivetti eram criativos e exuberantes como o disco. Os maiores êxitos do irretocável repertório foram Viajante (a bela e poética canção de Teresa Tinoco), Amor Objeto (delícia pop da dupla Rita Lee e Roberto de Carvalho), Folia no Matagal (a maliciosa marchinha de Eduardo Dusek e Luiz Carlos Góes que Maria Alcina gravara em 1979 sem a menor repercussão), Vida, Vida (tema de abertura da novela global Jogo da Vida) e, claro, Homem com H, o tema forrozeiro que Ney gravou depois de muita insistência e que se tornou um dos maiores sucessos de seus 35 anos de carreira. Ney Matogrosso havia sido reeditado em CD.
Mato Grosso (1982) * * * 1/2
Disco que repetiu a fórmula festiva do anterior Ney Matogrosso sem, no entanto, reeditar o completo êxito artístico do álbum de 1981. Por Debaixo dos Panos foi gravado na cola de Homem com H e se tornou o maior sucesso radiofônico do trabalho pilotado por Mazzola. Como no álbum anterior, uma faixa (Promessas Demais) também foi parar em abertura de novela da Rede Globo (Paraíso). O destaque em termos artístico é a releitura abolerada de Tanto Amar, tema caribenho de Chico Buarque. Pura sedução!
... Pois É (1983) * * *
Mais um disco que perseguiu a alegre receita dos dois álbuns anteriores (que começou a soar batida...). Para festejar a primeira feliz década de carreira fonográfica, Ney Matogrosso empilhou sucessos no pot-pourri que abria o disco. Contudo, ...Pois É foi bem-sucedido nas rádios por conta da inclusão do rock Pro Dia Nascer Feliz - que iria despertar a atenção do Brasil para o som do Barão Vermelho e as letras de Cazuza (1958 - 1990) - e da paródica versão de Tell me Once Again, intitulada Calúnias (Telma, Eu Não Sou Gay), incluída no disco à revelia do cantor e, por isso mesmo, excluída dessa reedição (mas para sempre linkada à voz de Ney).
Destino de Aventureiro (1984) * * *
A fórmula esfuziante que deu o tom da obra de Ney Matogrosso na primeira metade dos anos 80 começou a dar fortes sinais de desgaste neste álbum de 1984, cujo repertório incluiu músicas do show inspirado no disco anterior ...Pois É. O cantor recorreu mais uma vez ao repertório do Barão Vermelho (Por que a Gente É Assim?), mas sem reeditar o impacto de Pro Dia Nascer Feliz. A faixa que garantiu alguma visibilidade para Destino de Aventureiro foi o bolero Vereda Tropical, gravado pelo cantor sob encomenda da TV Globo para abertura da novela homônima.
Bugre (1986) * * * 1/2
Com a expansão do mercado fonográfico para o rock brasileiro, Ney Matogrosso ousou fazer um disco radicalmente pop, quebrando com a seqüência de álbuns esfuziantes. Os arranjos foram urdidos com altas doses de eletrônica. No repertório, o cantor se aventurava como compositor e assinava músicas com Leoni e a dupla Paulo Ricardo e Luiz Schiavon. O sucesso comercial de Bugre foi a releitura tecnopop da Balada do Louco, hit do grupo Os Mutantes, mas o disco (a rigor, incompreendido por público e crítica) guarda pérolas como Fratura (Não) Exposta. O samba-enredo História do Brasil destoa do tom pop do bom álbum, assim como a rumba Las Muchachas de Copacabana.
Pescador de Pérolas (1987) * * * * *
Com o relativo fracasso de Bugre, Ney Matogrosso se desligou da gravadora PolyGram e assinou com a CBS para lançar este disco gravado ao vivo no show feito por Ney com o pianista Arthur Moreira Lima, o percussionista Chacal, o violonista Raphael Rabello (1962 - 1995) e o saxofonista Paulo Moura. Como fizera no disco/show Seu Tipo, em 1979, o cantor voltava a encarar o palco e o público sem fantasias e sem adereços. Desta vez, o repertório incluía apenas clássicos da música brasileira. Luxo só!
Quem Não Vive Tem Medo da Morte (1988) * * * * 1/2
Motivado pelo êxito comercial e artístico de Pescador de Pérolas, Ney Matogrosso gravou um de seus discos mais densos. Até então lançado em CD apenas numa pequena tiragem produzida na época de seu lançamento, Quem Não Vive Tem Medo da Morte combinou no repertório músicas de Cazuza (Tudo É Amor, parceria com Laura Finochiaro), Caetano Veloso (Dama do Cassino, presente do compositor para Ney) e Itamar Assumpção (Chavão Abre Porta Grande). Nem as duas músicas impostas pela gravadora CBS, Vamos pra Lua e Caro Amigo, tiram o brilho sombrio do álbum. Infelizmente, não obteve repercussão.
Ao Vivo (1989) * * * *
Título menos raro da caixa Camaleão, este disco ao vivo foi gravado por Ney Matogrosso para encerrar seu contrato com a gravadora CBS. O show - captado na casa Olympia (SP) em 11 e 12 de março de 1989 - sintetizava no roteiro a natureza mutante da obra de Ney, de novo coberto por figurino espalhafatoso. Mas nem todo o repertório teve caráter retrospectivo. Antenado com a cena pop dos anos 80, Ney registrou pela primeira vez músicas dos grupos Os Titãs (Comida) e Os Paralamas do Sucesso (O Beco).
À Flor da Pele (1991) * * * * *
A sós com o violonista Raphael Rabello, Ney Matogrosso tirou novamente a fantasia para retomar a linha camerística do projeto Pescador de Pérolas e registrar em disco, para a gravadora Som Livre, o impecável repertório de clássicos da MPB que apresentava no show feito com Rabello. À Flor da Pele é o título mais recente da bela caixa Camaleão. Obra-prima que conciliou êxito artístico e resultado comercial. Fecho de ouro para a caixa!!

Coletânea pesca 21 pérolas raras do 'Camaleão'

Idealizador da essencial caixa Camaleão, que reedita toda a vasta obra gravada por Ney Matogrosso no período 1975 -1991, o jornalista Rodrigo Faour incluiu na coleção uma bela compilação que pesca 21 pérolas da discografia avulsa de Ney. Formada por sobras de estúdio, fonogramas de já raros compactos, registros ao vivo e músicas gravadas para trilhas sonoras de filmes e novelas, a seleção da coletânea dedicada ao cantor na série Pérolas Raras é abrangente e cobre longo período que vai de 1970 - antes, portanto, da projeção nacional do cantor em 1973 no grupo Secos & Molhados - até 2001. Eis as 21 faixas da (criteriosa) compilação:

1. Planeta Sonho (1981) - Sobra do álbum Ney Matogrosso
2. Bandido Corazón (1980) - Versão em espanhol da música de
1976, lançada no compacto Ney Matogrosso
3. A Galinha d'Angola (1981) - Gravação do LP A Arca de Noé 2
4. Eu Sou Rei (1984) - Fonograma da trilha sonora do especial
infantil Uma Aventura no Corpo Humano
5. Cochabamba (1983) - Tema do LP O Cangaceiro Trapalhão

6. Nacional Kid (1983) - Samba gravado com Joyce para o álbum
Tardes Cariocas, da compositora
7. Seu Valdir (1981) - Choro, lado B do compacto Ney Matogrosso
- Folia no Matagal
8. Jeito de Amar (1982) - Baba tecnopop gravada para a trilha
sonora da novela Sétimo Sentido
9. Manequim (1985) - Tema de Michael Sullivan & Paulo Massadas
gravado por Ney para a trilha sonora da novela Ti Ti Ti
10. A Dança da Lua (1983) - Dueto com Eugénia Melo e Castro para
o álbum Águas de Todo Ano, gravado pela cantora portuguesa
11. Bandolero (1980) - Versão em espanhol da música da dupla
Luli & Lucina, lançada no compacto Ney Matogrosso
12. Postal de Amor (1975) - Do compacto Fagner e Ney Matogrosso
13. Ponta do Lápis (1975) - Do compacto Fagner e Ney Matogrosso
14. A Lenda do Castelo (1987) - Fonograma da trilha sonora do
musical Aldeia dos Ventos, de Oswaldo Montenegro
15. Mente, Mente (1986) - Gravação da trilha sonora do filme
Cidade Oculta, feita com Arrigo Barnabé
16. Número Um (1991) - Faixa do CD Nada Além, editado em
tributo à obra de Mário Lago (1911 - 2002)
17. Saudade do meu Barracão (2001) - Sobra do álbum Batuque
18. Disparada (1985) - Faixa do LP MPB Especial - Os Grandes Nomes
19. Tristeza do Jeca (1985) - Registro ao vivo feito com a dupla
Tonico & Tinoco para o LP Tonico & Tinoco - 50 Anos
20. A Casa Tomada (1972) - Gravação (inédita em disco) da trilha
sonora do filme A Casa Tomada
21. A Estrada Azul (1970) - Do compacto duplo com a trilha sonora
do filme Pra Quem Fica...Tchau. É a primeira gravação de Ney.

'Camaleão' encaixota disco de Ney em Montreux

Além de embalar 15 álbuns de carreira de Ney Matogrosso e a coletânea Pérolas Raras, com 21 fonogramas avulsos da discografia do cantor, a caixa Camaleão - já nas lojas via Universal Music - reapresenta título raro na obra fonográfica do intérprete. Trata-se do ao vivo Montreux 83 - Brazil Night, disco que registra onze números das apresentações de Caetano Veloso, João Bosco e Ney na 17ª edição do Montreux Jazz Festival, todas realizadas em 9 de julho de 1983, na tradicional Noite Brasileira do evento. Ney apresentou em Montreux o show Mato Grosso, baseado no repertório do álbum homônimo de 1982. Na seleção apresentada no disco ao vivo, o cantor interpreta Deixar Você e Andar com Fé - músicas de Gilberto Gil que Ney até então não tinha gravado - antes de reviver Napoleão (um tema de Luli & Lucina pescado do repertório do álbum Sujeito Estranho, de 1980) e de encerrar sua apresentação com Folia no Matagal (Eduardo Dusek e Luiz Carlos Góes, 1981) - com direito a sutis intervenções vocais de Caetano Veloso. Infelizmente, a reedição deste título (quase) desconhecido da discografia de Ney Matogrosso não traz faixas-bônus com outros números do show do cantor na sua segunda ida a Montreux (a primeira foi em 1982, ano em que deu canja informal no festival). É a única falha da heróica caixa Camaleão.

Ney veta 'Calúnias' na reedição de disco de 1983

Um dos 15 álbuns de Ney Matogrosso embalados na caixa Camaleão volta ao catálogo sem uma faixa da edição original. Trata-se de ...Pois É, disco de 1983. O cantor vetou a inclusão da hilária faixa Calúnias (Telma, Eu Não Sou Gay), gravada com o grupo João Penca e seus Miquinhos Amestrados, por entender que tal música não faz parte da concepção original do LP. É que Ney somente gravou a versão bem-humorada de Tell me Once Again - o maior sucesso do grupo brasileiro Light Reflections, um hit de 1972 que toca até hoje nos programas radiofônicos de flashback - por pressão de um executivo da gravadora Ariola. O diretor induziu o intérprete a gravar Calúnias com o argumento de que a faixa seria para o disco dos Miquinhos e que, sem o fonograma, o grupo seria dispensado da gravadora. O cantor cedeu à chantagem e gravou a versão, que estourou nas rádios e entrou no LP de Ney, contra sua vontade. Sem falar que, na seqüência, a Ariola dispensou os Miquinhos. Entalado até hoje com a atitude desrespeitosa do executivo, Ney impôs que Calúnias fosse retirada da atual reedição de ...Pois É. O que somente aumenta o valor da primeira (e até então única) edição do disco em CD, lançada em 1993 na série Colecionador com a polêmica faixa, pois, pressões à parte, a versão é hit de Ney.

15 de dezembro de 2008

'Sticky & Sweet' mantém a rainha no trono pop

Resenha de Show
Título: Sticky & Sweet Tour
Artista: Madonna (em foto de Marcelo Rossi)
Local: Maracanã (RJ)
Data: 14 de dezembro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Sticky & Sweet Tour no Brasil:
Rio de Janeiro: Maracanã (14 e 15 de dezembro de 2008)
São Paulo: Morumbi (18, 20 e 21 de dezembro de 2008)

Ancorada em aparato hi-tech que projeta vídeos e efeitos de fato especiais, a Sticky & Sweet Tour mantém Madonna soberana no trono pop. Pode não ter a sofisticação do The Girlie Show, que passou pelo Brasil em 1993 com sua atmosfera circense e burlesca, mas é um espetáculo de som, luzes e cores que reafirma a capacidade da rainha de fascinar seus súditos. Como uma loja de doces, que oferece guloseimas variadas, o show da Sticky & Sweet Tour está calcado numa diversidade de músicas e estilos de dança que são irmanados em cena por uma artista que sabe o que faz e o que diz. E que tem pique contagiante - ainda que os números em vídeo estejam estrategicamente posicionados no roteiro não somente para delimitar os quatro blocos do show (Pimp, Old School, Gipsy e Rave), mas também para dar tempo para a estrela já cinqüentona recarregar as baterias. E, justiça seja feita, a voz ainda está na forma razoável de sempre, perceptível nas interpretações de Human Nature e You Must Love me (balada da trilha sonora do filme Evita). São momentos em que Madonna não se ampara no circo hi-tech e mostra que, sim, sabe prender a atenção do público apenas com o gogó (e as vozes pré-gravadas às quais a esperta diva sempre recorre). Contudo, quando se vale da tecnologia, o resultado geralmente é encantador para os olhos e ouvidos. Como em Music, número que inicia quando Madonna e seus bailarinos saem de um vagão de metrô grafitado no telão. Ao fim do número, as portas se abrem para a turma entrar no vagão e desaparecer de cena, em um belo efeito visual. Outro número de grande impacto visual é She's Not me, quando Madonna interage de forma teatral com quatro manequins vestidas com figurinos de momentos marcantes da carreira da artista, muito auto-referente.

O público também ajuda a manter a rainha no trono. Números como Vogue - que destaca o raro entrosamento coreográfico de Madonna com seus bailarinos, uma das marcas da cantora - e Borderline foram recebidos com entusiasmo pelos cerca de 70 mil súditos fiéis que eletrizaram o Maracanã na primeira das cinco apresentações brasileiras da Sticky & Sweet Tour, realizada na noite de domingo, 14 de dezembro. O maior estádio carioca dançou no ritmo de Madonna. E o fato é que até músicas mais insossas do álbum Hard Candy (2008), caso de Miles Away, adquirem brilho especial no palco. A propósito, a pegada de Hard Candy - bom álbum em que Madonna recorreu às batidas padronizadas de Timbaland e Pharrell Willians para afagar o mercado norte-americano, retraído para ela desde as farpas ácidas atiradas pelo álbum American Life (2002) - estão no show, em números como The Beat Goes on, mas não dão o tom da Sticky & Sweet Tour. Há no roteiro até música folclórica, Lela Pala Tute, entremeada no bloco Gipsy com o hit La Isla Bonita, cuja pulsação é alterada pelo toque frenético do violino cigano de Arkady Gips, integrante do Kolpakov Trio. E tem, sobretudo, músicas dançantes, pois, afinal, trata-se de um show de Madonna. Destaque do bloco Old School, a vibrante Into the Groove seduz tanto pela batida retrô da música quanto pelo cenário colorido pelos grafismos de Keith Haring e pela roupa de ginástica usada por Madonna, que revive seu hit dos 80 entre puladas de corda e movimentos (tímidos) de Pole Dance, a dança do poste recém-popularizada no Brasil pela novela Duas Caras. Nada, contudo, supera a eletricidade do bloco final, Rave, momento em que o público (ao menos, o carioca) delira, vibra e pula ao som de Like a Prayer (com mensagens políticas grafitadas no telão), Ray of Light e Hung Up. Enfim, um grande show, que pode não ser o melhor ou o mais refinado de Madonna, mas que sinaliza que o reino pop ainda está sob domínio da material girl, às vezes até doce, mas sempre grudenta quando está em cena, comandando seus súditos.

Fã põe 'Express Yourself' no roteiro de Madonna

Faz parte do roteiro da Sticky & Sweet Tour o momento-surpresa em que Madonna dá voz a um espectador - geralmente escolhido entre os que se espremem nas primeiras filas do lado direito do palco - para que ele peça uma música. Na primeira das cinco apresentações brasileiras da turnê, realizada no Maracanã (RJ) na noite chuvosa de 14 de dezembro de 2008, o eleito foi um espectador chamado Fábio. Ele pediu Everybody, música de 1982 que deu o pontapé inicial na carreira de Madonna, mas a cantora recusou o pedido, alegando não gostar da música. Outro fã então solicitou Express Yourself - música do álbum Like a Prayer (1989) - e, desta vez, o pedido foi atendido pela diva. A música foi improvisada a capella com o empolgado coro das cerca de 70 mil súditos que agitaram o Maracanã na noite (histórica) de domingo.

Madonna se abriga sob guarda-chuva no show

A foto acima, de Marcelo Rossi, flagra o instante em que, abrigada sob guarda-chuva estrategicamente posicionado por integrante de sua produção, Madonna canta Human Nature na primeira das cinco apresentações brasileiras da Sticky & Sweet Tour, realizada na noite de domingo, 14 de dezembro de 2008, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). Por conta da chuva que não deu trégua durante as duas horas do show, iniciado às 20h30m, o guarda-chuva tornou-se em alguns números um acessório extra na primeira das duas apresentações cariocas do show. A cena de Human Nature se repetiu depois em Miles Away.

Palco molhado faz Madonna escorregar em cena

A chuva incessante durante a primeira das cinco apresentações brasileiras da Sticky & Sweet Tour - realizada na noite de domingo, 14 de dezembro de 2008, no Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ) - levou Madonna (acima em foto de Marcelo Rossi) literalmente ao chão do palco armado por sua produção no gramado do maior estádio carioca. Durante a música She's Not me, o palco molhado pela chuva fez Madonna escorregar e cair em cena. Um integrante do staff rapidamente foi ao socorro da diva, mas a cantora fez um sinal de que estava tudo bem, levantou, sacudiu a poeira e deu em segundos a volta por cima. Muitos nem perceberam o tombo - detalhe pequeno de show feliz e eletrizante.

14 de dezembro de 2008

Sozinho em cena, Camelo arrasta bloco agitado

Resenha de Show (Segunda Visão)
Título: Sou
Artista: Marcelo Camelo (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)

Data: 13 de dezembro de 2008
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz até domingo, 14 de dezembro de 2008

"O pessoal agitado...", observou Marcelo Camelo, bem tímido, enquanto o público que compareceu ao Canecão (RJ) na noite de sábado, 13 de dezembro de 2008, gritava adjetivos como "Lindo!", "Gostoso!" e "Maravilhoso!" no meio das músicas de seu primeiro show solo, Sou, que voltou aos palcos cariocas depois de ter sido apresentado uma única vez, em outubro, dentro da programação de 2008 do Tim Festival. Aliás, o show apresentado no Canecão é basicamente o mesmo mostrado no festival (leia resenha aqui). O que mudou é a vibe da platéia. Se no Tim havia nichos de fãs de Camelo entre o público miscigenado do evento, no Canecão a platéia era toda do cantor. E essa platéia fez coro forte até em músicas do disco solo do artista, como Doce Solidão (dedicada por Camelo ao irmão que fazia aniversário naquela noite) e Liberdade, mostrando que já embarcou na onda de Camelo. Foi consagrado que o hermano saiu de cena, sob os protestos do público, após dar um segundo bis com A Outra e a bossa Fez-se Mar, números em que, sozinho em cena, o artista se acompanhou ao violão. Da mesma forma que, solo, entrou em cena com seu visual casual e abriu o show tocando temas como Téo e a Gaivota.

Sou é um show de atmosfera lenta e suave como o disco que o gerou. Camelo desfia canções sob os barulhinhos bons feitos pelos músicos do grupo paulista Hurtmold, acompanhante do cantor em cena. A banda arma a cama percussiva para a apresentação de Vida Doce e cria arranjos polifônicos (com adição do trompetista norte-americano Rob Mazurek) para adornar temas como Tudo Passa. São timbres bem particulares como o som experimentado por Camelo em sua carreira solo. E o interessante é que eventuais músicas do repertório do grupo Los Hermanos - como Morena e Além do que se Vê - são ajustadas a esse universo particular. Para o bloco agitado de admiradores que o artista está arrastando em seus shows individuais, tudo já parece natural. E o culto continua!

Universal credita autores errados no CD do KLB

Uma confusão em torno de músicas homônimas gerou erro grave nos créditos do encarte do novo CD do KLB, Entre o Céu e a Terra, recém-lançado pela gravadora Universal Music. O trio (em foto de Marcelo Faustini) regravou a música Telefone, sucesso da Gang 90 composto por Júlio Barroso (morto precocemente em 6 de junho de 1984 ao cair da janela do apartamento onde morava em São Paulo) e gravado pela banda em 1983 no álbum Essa Tal de Gang 90 & Absurdettes. Só que, na ficha técnica do disco do KLB, Telefone aparece creditada a Nelson Kaê e a Beto Corrêa, os autores de uma outra canção chamada Telefone, gravada por Tim Maia (1942 - 1998) em álbum de 1986 intitulado Tim Maia e editado pela extinta gravadora Continental. E os direitos autorais?

Penúltimo disco de Billie é reeditado em coleção

O penúltimo álbum de estúdio de Billie Holiday (1915 - 1959), Lady in Satin, gravado entre 19 e 21 de fevereiro de 1958 com a orquestra e os arranjos do maestro Ray Ellis, volta ao catálogo no Brasil dentro da boa Jazz Collection lançada pela gravadora Sony BMG neste mês de dezembro de 2008 com a edição de 61 CDs avulsos e de nove boxes dedicados a nomes como Sonny Rollins, Miles Davis (1926 - 1991) e George Benson, entre outros. A (boa) edição de Lady in Satin que integra a coleção é a de 1997. Inclui quatro faixa-bônus (takes alternativos das músicas I'm a Fool to Want You e The End of a Love Affair) e extenso texto de Phil Shaap sobre o álbum - gravado dezessete meses antes da morte de Billie - e as diferenças entre os takes. Corroída pelos excessos que pontuaram a vida da cantora, a voz já não exibia o viço dos tempos áureos, mas a alma da intérprete era a mesma que fascinou gerações, conferindo valor eterno às suas gravações.

Trajetória de Ney vai ser vista na tela a olho nu

A vida artística de Ney Matogrosso - à direita em foto de Nicolas Contant - vai render um filme, já em fase de produção. Em parceria com o Canal Brasil (Net), o cineasta Joel Pizzini prepara documentário - intitulado Olho Nu - sobre a trajetória do cantor. A idéia é lançar o filme em festivais e, mais tarde, no circuito comercial convencional em 2009 ou 2010. Ney tem colaborado com a produção, concedendo entrevistas e cedendo para digitalização vasto material em vídeo que registra a maioria de seus shows e de apresentações em programas de televisão. As imagens são raras...