6 de dezembro de 2008

DVD capta Milton e Tiso na TV suíça em 1980

Então no melhor da forma vocal, Milton Nascimento fez em 1980 um show acústico - com adesão do pianista Wagner Tiso - no estúdio da emissora de TV suíça RTSI. Exibido em 4 de fevereiro de 1981, o especial há tempos foi lançado em DVD, vendido no Brasil em bancas de jornais em edições extra-oficiais e bem desleixadas. Agora o DVD vai chegar às lojas, ainda neste mês de dezembro de 2008, em boa edição produzida pela gravadora Coqueiro Verde dentro de sua série Live @ RTSI. No programa, Milton apresenta 13 músicas em roteiro que enfileira Pai Grande, Outubro, Travessia, Canção do Sal e San Vicente. O repertório inclui um tema da lavra de Wagner Tiso, Choro de Mãe.

Sony convoca Liminha para produzir Ana Cañas

Promessa não concretizada de grande revelação nacional de cantora em 2008, Ana Cañas vai continuar merecendo forte investimento da Sony BMG em 2009. A gravadora convocou Liminha para produzir o segundo álbum de Cañas. Radicada em São Paulo (SP), a cantora vai se mudar provisoriamente para o Rio de Janeiro (RJ), a partir de janeiro de 2009, para iniciar sob a batuta de Liminha a gravação do sucessor do equivocado Amor e Caos, lançado no fim de 2007 com um repertório (muito autoral) e um som que não traduziram o real potencial vocal da intérprete.
Vale lembrar que o percurso fonográfico de Canãs é similar ao seguido na mesma gravadora por Vanessa da Mata, cujo primeiro CD, Vanessa da Mata (2002), majoritariamente pilotado por Jaques Morelenbaum e Luiz Brasil (com colaboração de Liminha na produção da faixa Não me Deixe Só), arrancou justos elogios da crítica, mas não fez grande sucesso de público. Liminha foi então recrutado pela Sony BMG para pilotar sozinho o segundo álbum de Vanessa, Essa Boneca Tem Manual (2004), que, com uma sonoridade nitidamente mais pop, acabou estourando depois que o remix de Ai, Ai, Ai... emplacou na trilha sonora nacional da novela Belíssima (2005) e, logo na seqüência, bombou nas rádios. Resta saber se Cañas vai ter a mesma boa sorte (comercial) da colega ao seguir o manual pop da produção do Midas Liminha.

Satriani processa Coldplay por plágio de canção

Joe Satriani abriu esta semana, em Los Angeles (EUA), um processo contra o Coldplay sob a alegação de plágio. O guitarrista alega que uma música creditada ao grupo - Viva la Vida, que inspirou o título do álbum Viva la Vida or Death and All His Friends, lançado pela banda em junho de 2008 - incorpora o que Satriani chama de "porções originais substanciosas" de um tema instrumental de sua autoria, If I Could Fly, lançado no álbum Is There Love in Space? (2004). O fato curioso é que o disco do Coldplay já está nas lojas há seis meses e Satriani resolveu abrir o processo logo depois de o grupo ter sido contemplado com sete indicações à 51ª edição do Grammy Awards. E duas nomeações vieram especificamente por conta de Viva la Vida, indicada nas categorias Gravação do Ano e Música do Ano. É muito estranho...

Tostoi produz Iriê para dar peso a pop reggae

Grupo de reggae surgido em Florianópolis (SC), ainda em busca de visibilidade nacional, Iriê faz conexão de peso para tentar extrapolar a rota sulista. Jr. Tostoi - grande guitarrista projetado no grupo Vulgue Tostoi, requisitado por Lenine para sua banda e para co-produzir seu álbum Labiata (2008) - é o produtor do quinto álbum do Iriê, já em fase de gravação no Rio de Janeiro (RJ) e com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2009. Majoritariamente autoral, o repertório do disco apresenta inéditas como Natural - um tributo às praias de Santa Catarina, musas inspiradoras do pop reggae do grupo - e O Amor e o Tempo. Há também na safra inédita do compositor pernambucano Lula Queiroga, Melhor do que Eu Sou. Na foto, Jr. Tostoi posa à frente de quatro dos seis integrantes do Iriê - atualmente em outra praia.

Sony passa a distribuir discos do Gogol Bordello

Grupo que integra músicos de diversas etnias e que faz som rotulado como punk cigano, Gogol Bordello - uma das atrações do Tim Festival em 2008 - migra da cena indie para o elenco da gravadora Sony BMG. O quinto álbum da banda tem lançamento previsto para o segundo semestre de 2009 e já vai ser distribuído pela major, fazendo valer o contrato recém-assinado. O sucessor de Gypsy Punks: Underdog World Strike (2005) e Super Taranta! (2007) vai começar a ser gravado em março de 2009.

5 de dezembro de 2008

Projeto de duetos de Mercedes gera dois discos

O projeto de duetos que a cantora Mercedes Sosa vem gravando ao longo deste ano de 2008 vai ser duplo. Contudo, os dois CDs - previstos para 2009 - vão ser vendidos separadamente e editados em épocas distintas. A relação de convidados inclui o brasileiro Caetano Veloso (com quem a engajada cantora já gravou Coração Vagabundo, em outubro de 2008), a mexicana Julieta Venegas, o uruguaio Jorge Drexler e os colombianos Juanes e Shakira - além, claro, de artistas da Argentina, a terra natal da ativista intérprete.

Dois álbuns do grupo The Pop's chegam ao CD

Já com status de banda cult dos anos 60, por conta de seu som instrumental de aura vintage que foi parar até na trilha sonora do baianíssimo seriado Ó Paí, Ó, o grupo carioca The Pop's tem reeditados por iniciativa do pesquisador musical Marcelo Fróes - um entusiasta do pop nativo da era da Jovem Guarda - seus dois primeiros álbuns, Na Base do Iê, Iê, Iê (1966) e The Pop's Vol. 2 (1967), lançados originalmente pelo extinto selo Equipe. Formado no Jacaré, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, o quarteto juntava os irmãos José Henrique Parada (bateria) e Sílvio José Parada Filho (baixo) aos guitarristas João Augusto César (guitarra solo) e Alípio Ferreira Filho (o Pippo, guitarra base). Postas nas lojas pelo selo Discobertas, que é distribuído pela gravadora Coqueiro Verde, as reedições foram remasterizadas em São Paulo (SP) no estúdio Cia. de Áudio. Além do som restaurado, Na Base do Iê, Iê, Iê incorpora como bônus as quatro faixas do compacto natalino gravado pelo grupo em 1966. A propósito, o repertório do The Pop's era um saco de gatos que misturava temas infantis, sambas, músicas italianas (muito em voga no Brasil dos anos 60), sucessos da Jovem Guarda e canções dos Beatles. É pop!

Ed Motta concilia idiomas no show dos 20 anos

Resenha de Show
Título: 20 Anos de Carreira
Artista: Ed Motta (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 4 de dezembro de 2008
Cotação: * * * *

Em seu nono álbum de inéditas, Chapter 9, lançado em agosto de 2008, Ed Motta canta dez músicas em inglês. No show 20 Anos de Carreira, o cantor revelado em 1988 no comando da banda Conexão Japeri concilia idiomas em roteiro que recusa o modelo retrospectivo convencional. Os hits, em sua grande maioria, estão lá. Mas todos passam pelo filtro harmônico que foi sofisticando a música de Ed Motta ao longo dessas duas décadas ao mesmo tempo em que diluiu a popularidade do artista. Foi pro céu com Manoel aquele cantor devoto da música norte-americana que surgiu em 1988 parecendo que ia dar continuidade à dinastia popular de seu tio Tim Maia (1942 - 1998). Manoel até desce à terra no fim do show, emendado com Vamos Dançar, outro hit seminal, num set que soa o mais próximo possível do que seria um baile funk comandado pelo Ed Motta que rebuscou muito seu som e flertou (até) com o samba-jazz em CDs como Aystelum (2005).
Ao contrário do que faz supor seu título, 20 Anos de Carreira não é show de greatest hits amparado pela muleta do passado. De certa forma, Ed Motta até repassa em cena toda sua trajetória, mas os grooves são outros porque o tempo do artista também já é outro. E quem entrou pela porta do Canecão, na noite de quinta-feira, 4 de dezembro de 2008, ouviu um som refinado feito por cantor-músico interado com banda excepcional que inclui jovem baterista, Vitor Cabral, que já se revela um gigante do ritmo. Sem falar nas luxuosas presenças de Paulinho Guitarra e do também guitarrista Luiz Fernando Comprido, um dos fundadores da Conexão Japeri, como Ed fez questão de lembrar ao público. A propósito, somente o fato de ter apresentado as músicas de Chapter 9 com o toque virtuoso desses músicos já deu colorido adicional a temas como You're Supposed to... e Tommy Boy's Big Mistake (faixa de ambiência mais roqueira), já que, no álbum, Ed pilotou todos os instrumentos. No show, ele se limitou a cantar e - em números como The Runaways - a assumir o piano. Pilotando os teclados ou apenas soltando o vozeirão, Ed se porta em cena mais como um músico do que um cantor. O que justifica as longas passagens instrumentais de números como a balada Falso Milagre do Amor, composta por Ed para a trilha sonora do filme Pequeno Dicionário Amoroso. São as regras atuais do manual das festas.
A apresentação única no Canecão teve lances de humor. Mordido pelo fato de a casa ter exposto com mais destaque os cartazes que anunciavam os shows de Alcione e Toni Garrido, as outras atrações da semana, Ed deitou falação contra o Canecão com tiradas irônicas. Sobrou até para a bolinha de queijo do cardápio da casa, fulminada pelo cantor numa de suas farpas. O monólogo teve lá sua graça e, embora injusto (havia também um cartaz na fachada do Canecão anunciando o show de Ed - fato que o cantor omitiu em seu discurso), deu leveza a um show que, embora pautado pela sofisticação, nem sempre conseguiu se comunicar de fato com a platéia. Chegou a ser até constrangedor o silêncio do público quando Ed soltou um "Quero ouvir Rio de Janeiro!" e ninguém o acompanhou nos versos de Que Bom Voltar, a música posicionada num bloco entre Daqui pro Méier e Vendaval - esta, sim, acompanhada em coro pela platéia (porque tocou em rádio).
Na reta final, Bem Longe preparou o ambiente para números mais dançantes como o hit Tem Espaço na Van (repetido no bis) e Colombina, a face mais pop do repertório de Ed Motta. Contudo, o baile de Ed Motta não se restringe mais aos grooves do soul e do funk que ainda identificam sua obra no imaginário popular. Ao condensar múltiplas referências e influências, com um recorte de eventual contorno jazzístico, o cantor dá outro peso ao seu baile...

Gil é indicado a Grammy que destaca Coldplay

Gilberto Gil recebeu uma indicação ao 51º Grammy Awards, cuja premiação está agendada para 8 de fevereiro de 2009, no ginásio Staples Center, em Los Angeles (EUA), cidade onde foi anunciada a lista de indicados na noite de quarta-feira, 3 de dezembro de 2008. Por conta de seu álbum Banda Larga Cordel (2008), Gil concorre ao troféu de álbum de World Music - segmento genérico no qual, aliás, Gil já recebeu dois Grammy em 1998 e em 2005 pelos álbuns Quanta Live e Eletracústico, respectivamente. O artista brasileiro disputa o prêmio com Youssou N'Dour (Rokku Mi Rokka-Give and Take), Lila Downs (Shake Away), Soweto Gospel Choir (Live at the Nelson Mandela Theater)e o quarteto formado por Mickey Hart, Zakir Hussain, Sikiru Adepoju & Giovanni Hidalgo (Global Drum Project). Disputa é acirrada.

Nas categorias principais, os líderes de indicações ao 51º Grammy Awards são Lil Wayne e Coldplay, com oito e sete nomeações, respectivamente. Contudo, o rapper norte-americano concentra indicações nas categorias dedicadas exclusivamente ao universo do hip hop por conta de seu disco Tha Carter III enquanto o grupo inglês figura nas categorias mais importantes graças ao álbum Viva la Vida or Death and All His Friends. Eis os indicados nas (dez) principais categorias do 51º Grammy Awards:

GRAVAÇÃO DO ANO
Chasing Pavements - Adele
Viva la Vida - Coldplay
Bleeding Love - Leona Lewis
Paper Planes - M.I.A
Please Read the Letter - Robert Plant & Alison Krauss

ÁLBUM DO ANO
Viva la Vida or Death and All His Friends - Coldplay
Tha Carter 3 - Lil Wayne
Year of the Gentleman - Ne-Yo
Raising Sand - Robert Plant & Alison Krauss
In Rainbows - Radiohead

MÚSICA DO ANO
American Boy - Compositores: William Adams, Keith Harris,
JoshLopez, Caleb Speir, John Stephens, Estelle Swaray e Kanye
West (Gravação de Estelle e Kanye West)
Chasing Pavements - Compositores: Adele Adkins e Eg White

(Gravação de Adele)
I'm Yours - Compositor: Jason Mraz (Gravação de Jason Mraz)
Love Song - Compositora: Sara Bareilles

(Gravação de Sara Bareilles)
Viva la Vida - Compositores: Guy Berryman, Jonny Buckland,

WillChampion e Chris Martin (Gravação do Coldplay)

ARTISTA REVELAÇÃO
Adele
Duffy
Jonas Brothers
Lady Antebellum
Jazmine Sullivan

ÁLBUM DE MÚSICA POP
Detours - Sheryl Crow
Rockferry - Duffy
Long Road Out of Eden - Eagles
Spirit - Leona Lewis
Covers - James Taylor

ÁLBUM DE ROCK
Viva la Vida or Death and All His Friends - Coldplay
Rock N Roll Jesus - Kid Rock
Only by the Night - Kings of Leon
Death Magnetic - Metallica
Consolers of the Lonely - The Raconteurs

ÁLBUM DE MÚSICA ALTERNATIVA
Modern Guilt - Beck
Narrow Stairs - Death Cab For Cutie
The Odd Couple - Gnarls Barkley
Evil Urges - My Morning Jacket
In Rainbows - Radiohead

ÁLBUM DE R&B
Love & Life - Eric Benet
Motown: A Journey Through Hitsville USA - Boyz II Men
Lay It Down - Al Green
Jennifer Hudson - Jennifer Hudson
The Way I See It - Raphael Saadiq

ÁLBUM DE RAP
American Gangster - Jay-Z
Tha Carter 3 - Lil Wayne
The Cool - Lupe Fiasco
Nas - Nas
Paper Trail - T.I.

ÁLBUM DE MÚSICA COUNTRY
That Lonesome Song - Jamey Johnson
Sleepless Nights - Patty Loveless
Troubadour - George Strait
Around The Bend - Randy Travis
Heaven, Heartache and the Power of Love - Trisha Yearwood

4 de dezembro de 2008

Negra Li marca presença (dupla) nas paradas

Negra Li (em foto de Nana Moraes) marca presença dupla nas paradas radiofônicas. Duas músicas muito tocadas nas rádios - sobretudo nas emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo - contam com a participaçao da rapper paulista. Trata-se de Ainda Gosto Dela e de 1 Minuto. A primeira é a canção que puxa o atual do álbum do Skank, Estandarte, e que conta com Li nos vocais. Já 1 Minuto é faixa do disco Sem Ar, do cantor e ator D'Black. De acordo com o último relatório do Instituto Crowley, especializado na contabilidade de músicas executadas em rádio, Ainda Gosto Dela ocupa majestoso primeiro lugar na parada carioca e o sexto na paulista. Por sua vez, 1 Minuto detém a vice-liderança em São Paulo e ocupa a sexta posição no Rio. Nada mal para uma rapper que vem tentando migrar do universo do hip hop para a cena pop.

Coletânea mapeia primeira década de Aguilera

Em 1998, ao ser escolhida para gravar a canção Reflection para a trilha sonora de um filme da Disney, Mulan, Christina Aguilera deu o pontapé inicial numa carreira fonográfica que já rendeu três álbuns de estúdio em dez anos. Ou quatro, se levado em conta o natalino My Kind of Christmas (2000). Trajetória resumida na coletânea Keeps Gettin' Better - A Decade of Hits, lançada no Brasil neste mês de dezembro de 2008 pela gravadora Sony BMG com duas músicas inéditas. As novidades são Dynamite e a faixa-título, Keeps Gettin' Better. Felizmente, a edição nacional segue a seleção de repertório da edição européia e inclui os sucessos inexplicavelmente esquecidos na compilação que saiu nos Estados Unidos, terra natal de Aguilera. Entre eles, Lady Marmalade, o bem-sucedido cover gravado pela cantora em 2001 para a trilha sonora do filme Moulin Rouge. Também de 2001 é outro fonograma extra-oficial da discografia de Aguilera incluído na coletânea: Nobody Wants to Be Lonely, feito em dueto com Ricky Martin a convite do astro latino para seu álbum Sound Loaded.

Vanguart recria Lobão e Caymmi entre inéditas

Música de Lobão, lançada pelo autor em 1999 no seu álbum independente A Vida É Doce, Uma Delicada Forma de Calor vai ganhar registro do grupo Vanguart em CD e DVD que assinalam a transição do quinteto de Cuiabá (MT) do circuito indie para o mainstream. Já abrigado na Universal Music, o Vanguart vai fazer sua primeira gravação ao vivo em show agendado para a próxima quinta-feira, 11 de dezembro de 2008, no bar Avenida Club, em São Paulo (SP). No roteiro, um clássico de Dorival Caymmi, O Mar (1941), convivem com oito inéditas de autoria dos músicos. As novidades do repertório - um personalíssimo mix de folk, rock, balada e blues cantado em português, inglês e até em espanhol - são Mexico Dear Blues, Promessas de Navegação, Robert, Last Days of Romance, Into the Ice, Entre Ele e Você, Hemisfério e You Know me so Well. CD e DVD serão editados no primeiro semestre de 2009 pela Universal em parceria com o canal de TV Multishow através do selo Multishow Registro. Rodrigo Carelli dirige o show.

Em cena, RoRo e Ana unem gargantas intensas

Resenha de Show
Título: Compasso
Artista: Ângela RoRo - com participação de Ana Carolina
Local: Canecão (RJ)
Data: 3 de dezembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * 1/2

"Obrigado por terem vindo... na expectativa de ver Ana Carolina", gracejou Ângela RoRo logo no começo do show Compasso, que voltou à cena no Canecão - em apresentação única agendada para a noite de quarta-feira, 3 de dezembro de 2008 - depois de ter estreado no Teatro Rival em fevereiro de 2007. De fato, a participação de Ana Carolina foi certamente o que motivou a maior parte da platéia a conferir o show pela oportunidade de testemunhar um encontro já em si emblemático por unir no palco duas cantoras de posturas e vozes intensas, ambas pautadas na vida e na música por paixões e personalidades fortes. Pois o encontro cumpriu a expectativa e até surpreendeu pela escolha das músicas e pelo (razoável) acabamento. Em bom português, os quatro duetos de RoRo com Ana pareceram bem ensaiados e não improvisados em cena em clima de ensaio geral - como volta e meia acontece com encontros do gênero. Foram os (redentores) pontos altos de show apático em - quase - toda sua primeira parte.

Logo no primeiro número em dueto, Quero Mais, as cantoras já entraram no tom. Até porque os poéticos versos de Ana Terra para a bela música de RoRo se ajustam com perfeição ao caráter habitualmente exacerbado das interpretações de Ana Carolina. Na seqüência, as assumidas cantoras brincaram de embaralhar os papéis sexuais ao entoarem Homens e Mulheres, um tango de contorno pop composto por Ana com refrão questionador ("Eu gosto de homens e mulheres /E você o que prefere?). As cantoras realçaram o clima da música com um bailado provocador, cheio de sensualidade. Uma se enroscava na outra em movimentos de alto teor erótico que mais tarde se repetiram em Garganta, já na volta de Ana ao palco, para encerrar o show. Neste número, houve excessos. De Ana, que em determinado momento gritou em vez de cantar. De RoRo, que alterou um ou outro verso da letra para forçar conotação erótica na música de Totonho Villeroy. E da banda, que pareceu não saber a hora de terminar a música. "Pensei que a gente ia passar a noite toda aqui", ironizou Ana. Em seguida, Compasso - um das poucas composições realmente boas do disco de inéditas editado por RoRo em 2006 - manteve alta a temperatura do encontro intenso de duas gargantas explosivas. Pena que, no bis, em vez de apresentarem juntas uma quinta música, as intérpretes repetiram Compasso, entoada momentos antes. Ainda assim, quem foi de fato assistir ao show de RoRo na expectiva de ver Ana Carolina deve ter se sentido recompensado.

Duetos à parte, RoRo repetiu na apresentação de Compasso no Canecão o mesmo grave erro detectado na estréia do show no Teatro Rival em fevereiro de 2007: o desequilíbrio de um roteiro que apresenta, de cara, muita música nova de qualidade irregular. Por mais que a cantora estivesse na companhia de afiada banda que destacou o guitarrista João Gaspar (protagonista de um solo endiabrado no rock Contagem Regressiva) e o percussionista Jovi Joviano (responsável pelo molho latino que temperou Simples Carinho, a parceria de João Donato e Abel Silva que RoRo lançou em 1982), o show transcorreu apático em sua primeira metade porque a artista não inseriu um ou outro hit entre músicas como Paixão, Menti pra Você, Dá Pé! e Bater Não Dói. O primeiro bom momento do show vem com número feito por RoRo há mais de 15 anos: Ne me Quitte Pas, o standard pseudo-francês composto pelo belga Jacques Brel, veículo perfeito para a intérprete expressar a forte dramaticidade de seu canto. "Nada como um bom teatro", comentou RoRo, sempre mordaz, ao receber os entusiasmados aplausos da simpatizante platéia ao fim do número. No mais, vale mencionar a perene beleza de Só nos Resta Viver, o improviso de Senza Fine - feito por RoRo para atender pedido de espectador - e os comentários espirituosos que, como de praxe, pontuam as apresentações de Ângela RoRo, a intérprete que aprendeu a se virar sozinha e que não muda a postura só para me ou te agradar...

3 de dezembro de 2008

Álbum do Guns não justifica a (alta) expectativa

Resenha de CD
Título: Chinese
Democracy
Artista: Guns N' Roses
Gravadora: Arsenal Music
/ Universal Music
Cotação: * *

Depois de tantas pistas falsas, ninguém mais acreditava que Axl Rose iria apresentar o primeiro álbum do Guns N' Roses desde 1993. Lá se foram 15 anos e, nesse longo tempo de incerteza, músicos como o guitarrista Slash debandaram. Mas eis que Chinese Democracy chegou ao mundo real e virtual após uma década de rumores. Talvez pela alta expectativa gerada após tantos adiamentos, o CD deixa no ar um gosto de decepção. É irregular e - exceto por uma ou outra faixa, como Scraped e I.R.S. - em nada lembra aquela banda que marcou sua época com álbuns como Appetite for Destruction (1987) e Use your Illusion, o duplo de 1991 que até então era o último trabalho de inéditas do Guns N' Roses. O que se ouve é uma banda sem foco. O uso recorrente de efeitos eletrônicos não basta para dar ao grupo um atestado de contemporaneidade. E o fato é que, entre baladas triviais como This Is Love e eventuais flertes com o nu-metal (em Shackler's Revenge), Chinese Democracy transcorre esquisito. E talvez a razão dessa estranheza seja o fato de que, como já sentenciou Mick Jagger, o tempo não espera por ninguém. E não seria pelo egocêntrico Axl Rose que ele, o tempo, iria abrir uma exceção. Somente fãs ardorosos vão aprovar o CD...

Elba já pretende gravar DVD no circuito junino

Cheia de projetos para 2009, ano em que completa 30 anos de carreira fonográfica, Elba Ramalho nem bem lançou o belo DVD Raízes e Antenas e já tem planos de gravar outro vídeo digital. O foco deste próximo DVD vai estar na participação da cantora no circuito de festas juninas que esquenta o Nordeste entre maio e julho. Participação que deverá ser incrementada em 2009 com o lançamento do CD Balaio de Amor, de tom mais forrozeiro. O repertório inclui músicas de compositores conhecidos somente no Nordeste - como Jorge de Altinho e Maciel Melo, entre outros.

Pena Branca leva canto caipira sem Xavantinho

Formada nos anos 60, a dupla Pena Branca & Xavantinho - boa referência no universo da música sertaneja tradicional - foi desfeita em 1999 com a morte de Xavantinho. Só que José Ramiro Sobrinho - o Pena Branca - tem levado adiante espaçada carreira fonográfica e lança seu terceiro CD solo, Cantar Caipira, neste mês de dezembro de 2008. O sucessor de Semente Caipira (2000) e Pena Branca Canta Xavantinho (2002) traz no repertório o tema folclórico Cuitelinho (na adaptação de Paulo Vanzolini e de Antonio Xandó) e as regravações de Jardim da Fantasia (de Paulinho Pedra Azul) e Casinha de Palha (de Godofredo Guedes, o pai de Beto Guedes). No entanto, o repertório é essencialmente inédito e autoral, trazendo músicas como Janela da Fazenda, Minha Viola Quebrou, Cortejo, Veleiro da Saudade, Dança do Bugio e Filho do Sertão. Cantar Caipira sai via gravadora Velas.

Produtor do Nirvana pilota oitavo do Green Day

Sucessor do aclamado American Idiot (2004), o oitavo álbum de estúdio do Green Day já está em fase final de produção. O trio norte-americano está em estúdio desde outubro de 2008 sob a batuta do produtor Butch Vig, que ajudou o Nirvana a formatar sua obra-prima Nevermind (1991). De acordo com declarações recentes do vocalista guitarrista Billie Joe Armstrong, o álbum - programado pela Warner Music para 2009 - vai ter sonoridade power pop. "Não há mais o que provar", confidenciou Armostrong à revista Alternative Press, dedicada ao mundo punk. A conferir...

2 de dezembro de 2008

De olho no futuro, Joyce revê amigos e canções

Resenha de CD / DVD
Título: Joyce ao Vivo
Artista: Joyce
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *

Em 1968, inserida no universo da MPB propagada nos festivais, porém influenciada pela bossa nova escutada na adolescência, Joyce lançou seu primeiro LP. Em 1969, o segundo. Seguiram-se disco dividido com Nelson Ângelo em 1972 e um álbum de intérprete, Passarinho Urbano, editado na Itália em 1976 e no Brasil em 1977. Nada aconteceu até então. Como compositora, o merecido reconhecimento de Joyce viria somente em 1979, ano da explosão feminina na música popular brasileira, quando foi simultaneamente gravada por Elis Regina (Essa Mulher, a faixa-título do grande álbum), Maria Bethânia (Da Cor Brasileira, um dos muitos destaques do álbum Mel), Boca Livre (Mistérios, hit do cultuado disco independente que trouxe Toada e Quem Tem a Viola) e Quarteto em Cy (Feminina, incluída no álbum Quarteto em Cy em 1000 Kilohertz). Abriu-se, naquele momento, um caminho de maior popularidade, sedimentado em 1980 com o sucesso de Clareana no Festival MPB-80 - produzido e exibido pela Rede Globo - e com a gravação de grande álbum autoral, Feminina, que apresentou Revendo Amigos e o cancioneiro que já estava na boca do povo. Cancioneiro que a compositora recicla neste CD e DVD comemorativos de seus 40 anos de carreira fonográfica, Joyce ao Vivo, gravados em abril de 2008 no Teatro Fecap, em São Paulo (SP), e editados pela mesma EMI que, então sob o nome de Odeon, lançou o álbum Feminina em 1980.

Sob as câmeras dirigidas por Roberto de Oliveira, Joyce revê amigos - Leila Pinheiro, Mônica Salmaso, Francis Hime, Zé Renato, João Donato, Roberto Menescal e Dori Caymmi engrossam o time de convidados - e canções num projeto de caráter retrospectivo que mira o passado com um olho no futuro. É que alguns amigos entram com parcerias inéditas com Joyce - casos de Zé Renato (Pra Você Gostar de mim) e Roberto Menescal (Madame Quer Sambar, tema cheio de bossa e verve). Contudo, é a revisão do cancioneiro que justifica o registro ao vivo. Até porque o primeiro DVD de Joyce, Banda Maluca ao Vivo (Biscoito Fino, 2004), priorizou a faceta instrumental de sua obra, a que lhe tem garantido visibilidade e prestígio na Europa e no Japão por conta do suingue de contornos jazzísticos que envolve parte de sua música. Em Joyce ao Vivo, as canções falam por si só. Tanto que o público espontaneamente canta os versos de Clareana, até então solada ao violão por Joyce no que seria um registro (inicialmente) instrumental. Cada clássico ganhou um colorido especial. O de Mistérios é a voz cálida de Mônica Salmaso. Essa Mulher é encorpada pela voz e pelo violão de Dori Caymmi. Revendo Amigos passa pelo filtro da voz e do piano de Leila Pinheiro. Já o samba Mulheres do Brasil ganha as vozes afetivas de Ana Martins e Clara Moreno, filhas de Joyce. Ambas cantoras, elas formam trio afetivo com a mãe. E tem mais no roteiro: Monsieur Binot (música que abria o álbum Água e Luz, de 1981), Havana-me (a celebração das afinidades entre Cuba e Brasil que ganhou sentido especial no dueto recente feito em show por Maria Bethânia com Omara Portuondo) e Samba da Zona (recorrente em vozes projetadas na Lapa, o bairro boêmio do Centro do Rio de Janeiro). Enfim, é um resumo bem bacana da obra dessa mulher que - com inspiração - soube dar tom feminino à música brasileira.

Machete arma circo para cantar lúdica música

Resenha de CD / DVD
Título: Eu Não Sou
Nenhuma Santa

Artista: Silvia Machete
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Por seu caráter performático, o show de Silvia Machete pedia mesmo um registro em DVD. Em Eu Não Sou Nenhuma Santa, a cantora arma seu circo sob as lentes de Roberto Oliveira, diretor deste DVD bem filmado. Incensada na cena indie, Machete se equilibra no trapézio - de onde canta 2 Hot 2 B Romantic, canção que se destaca em seu irregular repertório autoral - e no ecletismo de um roteiro que irmana bom lado B de Roberto e Erasmo Carlos (Gente Aberta), clássico do grupo Guns N' Roses (Sweet Child of Mine) e tema do maldito Walter Franco (Me Deixe Mudo). A gravação ao vivo - editada também em CD - é centrada no espetáculo inspirado no primeiro álbum de Machete, Bomb of Love - Música Safada para Corações Românticos, editado em 2006. Foi captada principalmente em show feito em fevereiro de 2008, no Na Mata Café (SP), mas inclui takes de apresentações da artista no Bar Geni (SP) - em dezembro de 2007 - e no Mistura Fina, casa carioca na qual, em abril de 2008, Machete recebeu o compositor Edu Krieger (que a acompanha ao violão na dengosa abordagem de Curare, tema de Bororó) e a cantora Nina Becker, com quem fez dueto em Girls Just Wanna Have Fun, número que traduz bem o espírito lúdico dos shows de Machete. Por ser o primeiro DVD da artista, Eu Não Sou Nenhuma Santa sustenta o interesse do espectador nesta artista que conjuga habilidades circenses e musicais. Resta saber se a cantora equilibrista vai conseguir se manter firme no mercado fonográfico - e até mesmo nos palcos - quando suas acrobacias já não forem incensadas e o circo da mídia em torno da artista for desarmado para outra reinar no picadeiro.

Sapucahy canta duro cotidiano da 'favela' Brasil

Resenha de CD / DVD
Título: Favela Brasil
Artista: Leandro
Sapucahy
Gravadora: Warner
Music
Cotação: * * * 1/2

Não foi à toa que Leandro Sapucahy inseriu um pot-pourri com três sucessos de Bezerra da Silva (1927 - 2005) - Se Não Fosse o Samba, Malandragem Dá um Tempo e A Semente - no roteiro do bom show gravado ao vivo em 8 de maio de 2008 na Fundição Progresso (RJ) para gerar o primeiro DVD deste produtor de grupos de pagode que se transmutou em cantor a partir do lançamento, em 2006, do CD Cotidiano. Como Bezerra, Sapucahy faz através de seu repertório a crônica dos costumes das favelas. Aliás, não é por acaso também que o título deste seu primeiro registro de show - editado também em CD - é Favela Brasil. Só que os tempos são outros. Mudaram as favelas, pontos nervosos do jogo de gato e rato travado entre polícia, bandido e milícias. Mudou também o som das favelas, hoje mais miscigenado e influenciado pelo universo do funk e do hip hop. É nesse contexto explosivo, de alto teor político, que se insere o samba antenado de Sapucahy, que fez a Warner Music arquivar seu segundo álbum de estúdio - finalizado e até anunciado oficialmente pela gravadora em janeiro de 2008 - para investir nesta gravação ao vivo, realizada sob produção de Prateado, direção de Estevão Ciavatta e direção cênica de Regina Casé, artista identificada com as periferias. O belo cenário do artista plástico Zé Carratu ergue favela estilizada no palco da Fundição Progresso, adentrado por Sapucahy a bordo de uma moto-táxi, popular meio de transporte das favelas. E o fato é que o artista se mostra desenvolto em cena e canta repertório superior aos dos discos de pagode que costumava produzir até ganhar upgrade conceitual no mercado fonográfico ao ser convocado por Maria Rita para produzir o terceiro álbum da cantora, Samba Meu. Sapucahy incursiona pelo rap (Espírito Independente conta com a adesão de MC Marechal) e pelo funk - no fim do show, um pot-pourri ao qual adere MC Marcinho tenta reproduzir o clima dos bailes da pesada - mas é o samba que dá o tom de Favela Brasil. Arlindo Cruz é presença predominante na autoria do repertório ao lado de Serginho Meriti, parceiro de Claudinho Guimarães no desencanado Tá Tranqüilo Shock. Com Arlindo, aliás, Sapucahy canta Favela e Tamu Junto, samba que tem o espírito dos pagodes armados nos quintais dos subúrbios cariocas. É nesta tênue fronteira entre morro e asfalto que transita Favela Brasil. Lá em cima, no morro, o equilíbrio é delicado. Vacilou, dançou. No fio da navalha, malandro tem que andar no sapatinho para não rodar como o Mano Guta, cuja histórica trágica (e já quase banal no cotidiano tenso das comunidades) é contada no homônimo samba que agrega os efeitos vocais de Fernandinho Beatbox. Mano Guta, diz a letra, era inocente, mas, na fronteira entre o certo e o errado, há quem descambe para a criminalidade. Contudo, no repertório de Sapucahy, as cartas não são marcadas. O mocinho de hoje pode ser o bandido de amanhã - e o próprio Sapucahy, ao cantar Fui Bandido, ressalta o fato de as cadeias estarem cheias de homens com seu perfil. Apesar de tudo, o Rio de Janeiro - um dos cenários principais das mazelas dessa favela chamada Brasil - continua lindo. E por isso o samba Aquele Abraço, de Gilberto Gil, pinta no pedaço com versos levemente alterados. Quem balança a pança e comanda a massa não é mais Chacrinha (1917 - 1988), mas o presidente Lula, velho guerreiro em tempos idos, símbolo de uma época em que o poder paralelo não ditava ordem e costumes nas comunidades. Nos dias de hoje, o morro ainda não tem vez, mas já tem dono - como avisa Sapucahy em O Dono e o Povo ao lado de Leci Brandão, presença justificada na crônica sócio-política sobre a favela Brasil. Ao subir o morro, Sapucahy eleva seu samba-funk.

Charmosa, Paula Lima faz baile de tom 'black'

Resenha de CD / DVD
Título: SambaChic
Artista: Paula Lima
Gravadora: Indie
Records
Cotação: * * * 1/2

Paula Lima não é sambista. Mas canta samba com seu suingue black e faz dele, o samba, o mote deste seu primeiro registro ao vivo. SambaChic perpetua em CD e DVD show fervido, bem captado na Casa das Caldeiras, em São Paulo (SP), em agosto de 2008. O roteiro parte da turnê do terceiro (ótimo) álbum da cantora, Sinceramente (2006), mas incorpora músicas do primeiro, É Isso Aí! (2001) e reedita os poucos bons momentos do segundo, o equivocado Paula Lima (2003). Em essência, SambaChic é um baile black em que cabem o funk, o samba-rock, um certo suingue soul e até a cozinha dos pagodes cariocas, que tempera um ou outro samba, como Amor dos Outros, grande surpresa do repertório (é da lavra de Geovana, sambista negra que despontou em meados dos anos 70 com grande LP e logo sumiu na poeira do tempo). Esbanjando charme, evidente logo na sua entrada em cena, Paula Lima recebe Toni Garrido - para dueto na funkeada Negras Perucas - e Seu Jorge, com quem realça o suingue sensual de Cuidar de mim, parceria de Jorge (autor também de Mangueira e Gafieira S.A.) com Rogê e Gabriel Moura. Quem optar pelo DVD, que tem cinco números a mais do que o CD, vai ver também o encontro da intérprete com Dona Ivone Lara, que, sentada, marca majestosa presença no pot-pourri que costura seus altíssimos partidos Tiê, Alguém me Avisou e Sonho Meu. Também são exclusivas do DVD as músicas Eu Já Notei (balada de Ana Carolina e Totonho Villeroy), Tudo Certo ou Tudo Errado (Arlindo Cruz e Maurição), É Isso Aí! (Sidney Miller) e Deixa Isso pra Lá (o pseudo-primeiro rap nacional, composto por Edson Menezes com Alberto Paz e revivido por Paula no show com a participação de Carlinhos de Jesus). Enfim, Paula Lima canta Samba sem Nenhum Problema, como diz o título do tema de Márcio Local que cita na letra versos do País Tropical, de Jorge Ben Jor, representado no roteiro com Jorge da Capadócia e Meu Guarda-Chuva. É sob o suingue tropical de Jorge, o Ben, que se abriga Paula Lima em alguns momentos desta gravação ao vivo que irmana grooves cariocas e paulistas. E que poderia resultar ainda mais sedutora se a cantora tivesse dosado em cena os floreios vocais que haviam sido prudentemente evitados no álbum Sinceramente. Mesmo assim, o baile é da pesada. É samba e funk como gusta Paula Lima.

Avril faz tipo em cena captada em alta definição

Resenha de DVD
Título: The Best
Damn Tour
- Live in Toronto
Artista: Avril Lavigne
Gravadora: Sony
BMG
Cotação: * * *

Em seu terceiro álbum, The Best Damn Thing (2007), Avril Lavigne retrocedeu e voltou a forjar rebeldia teen como no primeiro CD, Let Go (2002), deixando para trás certa maturidade esboçada no segundo, Under my Skin (2004). O DVD filmado no Canadá em 7 de abril de 2008 - ora lançado no Brasil, com capa diferente da edição estrangeira - capta Avril fazendo tipo para uma platéia majoritariamente feminina, que aplaude a moça desde que ela entra em cena para abrir o roteiro com o hit Girlfriend. Não apenas a rebeldia parece forjada. O gestual e as coreografias da entrada da artista no palco parecem ter sido meticulosamente estudadas para mostrar atitude. E o fato é o que público embarca no show, seja entoando o refrão da balada When You're Gone - que Avril entoa acompanhando-se ao piano - seja aplaudindo o número em que a artista assume a bateria, em outro momento que soa fake. Contudo, é preciso mencionar a excepcional qualidade técnica do áudio e da imagem de alta definição exibida pelo DVD. O diretor Wayne Isham consegue transportar o espectador para dentro do show. Cabe a ele, espectador, decidir se embarca ou não na viagem de Avril Lavigne, hábil na feitura de caras, bocas e tipo.

Jóias do baú de Dylan dão brilho a álbum duplo

Resenha de CD
Título: Tell Tale Signs
- Rare and Unreleased
1989 - 2006
Artista: Bob Dylan
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * * 1/2

Houve tempo em que a ação rala dos fabricantes de discos piratas nada tinha a ver com a atividade criminosa que vem corroendo a indústria fonográfica ao longo dos anos 2000. Naquela época, os discos piratas, ou bootlegs, apresentavam gravações extra-oficiais de artistas como Bob Dylan, aliás um dos alvos preferidos dessa indústria artesanal da pirataria desde o fim dos anos 60. Foi por isso que, em 1991, Dylan criou a The Bootleg Series para ele próprio comercializar as jóias raras de seu baú. Tell Tale Signs é o recém-lançado oitavo volume da série. E um dos melhores, diga-se, pois compreende um período (1989-2006) em que o compositor voltou a exibir o brilho que parecia ter perdido ao longo dos anos 80. Dylan não se reinventou ou se modernizou, mas (re)encontrou novamente o ponto exato de sua cortante mistura de rock, folk, country e blues. No caso, já basta...

No Brasil, Tell Tale Signs chega às lojas na forma de álbum duplo (no exterior, a edição é tripla) que totaliza 27 fonogramas, entre registros ao vivo, takes alternativos e sobras inéditas dos álbuns Oh, Mercy (1989), Time out of Mind (1997), Love and Theft (2001) e Modern Times (2006). Os três últimos, em especial, formaram vigorosa trilogia na discografia de Dylan. Levando-se em conta de que o material adicional apresentado em Tell Tales Signs é de alta qualidade, o álbum duplo se torna essencial para fãs do bardo. Inclusive pelo fato de o álbum vir com libreto colorido de 62 páginas, turbinado com fotos e textos, que detalha a origem de cada fonograma. Músicas como Red River Shore, sobra do CD Time out of Mind, estão à altura da obra de Dylan, não podendo jamais serem consideradas restos de valor apenas documental. A raspa do tacho resultou num disco valioso.

1 de dezembro de 2008

Zé Renato refina o raro trigo da Jovem Guarda

Resenha de CD
Título: É Tempo de Amar
Artista: Zé Renato
Gravadora: MP,B
/ Universal Music
Cotação: * * * * *

Tem muita erva venenosa no terreno da Jovem Guarda. Um dos méritos deste estupendo álbum dedicado por Zé Renato ao cancioneiro daquelas tardes dominicais da década de 60 é separar bem o joio do trigo. Com sua voz de emissão límpida, o cantor refina esse raro trigo sob a produção de Dé Palmeira, que consegue dar moderno tratamento harmônico às treze canções sem pisar em solo modernoso e sem procurar complicar o que já é simples em sua boa essência. Em português claro, as músicas ganharam banho de loja, mas têm preservada essa tal simplicidade - aliás, segredo da longevidade desse cancioneiro na memória afetiva do povo brasileiro. Em texto escrito para o encarte do CD, a propósito, Zé conta que as músicas da Jovem Guarda eram a trilha sonora das férias passadas em Vitória (ES) e que a primeira música que aprendeu a tocar no violão foi Namoradinha de um Amigo Meu, o hit de juvenil de Roberto Carlos. É nesse violão que está estruturado É Tempo de Amar - ainda que o produtor Dé Palmeira tenha agregado ao disco o som vintage dos teclados pilotados por Roberto Pollo e programações como as feitas por Marcos Cunha em Por Você, boa supresa do repertório. A parceria de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) com Francisco Enoé foi a única incursão do Poetinha pelo mundo pueril do iê-iê-iê, tendo sido lançada em 1967 - na voz de Ronnie Von! - na trilha sonora do filme Garota de Ipanema, de Leon Hirszman (1937 - 1987).

É Tempo de Amar não evita os clássicos, mas prima por tirar do baú várias canções que sempre obtiveram menor projeção nos incansáveis tributos à Jovem Guarda. É o caso da faixa-título, parceria de Pedro Camargo com José Ari, gravada por Roberto Carlos no disco que serviu de trilha sonora para o filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, lançado em 1967. Aliás, é óbvio que o repertório do Rei - terreno que concentra o trigo mais puro da Jovem Guarda - predomina na seleção de Zé Renato. São pérolas como Nossa Canção (bissexta obra-prima de Luiz Ayrão, recentemente regravada por Maria Bethânia e Vanessa da Mata), O Tempo Vai Apagar (tema melancólico de 1968 cuja regravação feita com cordas suntuosas, sob encomenda para a trilha sonora da novela A Favorita, originou a idéia do disco), Quero Ter Você Perto de mim (canção de Neneo, revivida por Renato no tempo da delicadeza para realçar toda a beleza de música que foi abafada no álbum de 1969 que trouxe As Curvas da Estrada de Santos e Sua Estupidez, entre outros clássicos) e Custe o que Custar (pontuada pelo acordeom de João Carlos Coutinho). É tudo tão melódico e bonito que até o Lobo Mau uiva com elegância em tom mais refinado do que o ouvido nos registros de Renato e seus Blue Caps e de Roberto Carlos, intérpretes mais conhecidos da versão de Hamilton Di Giorgio para The Wanderer, rock de Ernest Mareska.

Duas participações realmente especiais reforçam o requinte da abordagem de Zé Renato para o cancioneiro da Jovem Guarda. Vocalista da Orquestra Imperial, Nina Becker faz dueto com o cantor em Eu Não Sabia que Você Existia, hit da dupla Leno & Lilian repaginado também com o cello de Jaques Morelenbaum. Já Marcos Valle põe seu piano em duas músicas lançadas por Roberto Carlos. Valle adiciona seu piano acústico a Ninguém Vai Tirar Você de mim (Edson Ribeiro e Hélio Justo, 1968), canção introduzida por Renato com vocais a capella numa prova de sua afinação absoluta. Já em Não Há Dinheiro que Pague, faixa de atmosfera roqueira, o antenado piano de Valle soa naturalmente mais elétrico (em todos os sentidos). A música também é de 1968.

Enfim, É Tempo de Amar é um grande disco porque reúne grandes canções na voz de um grande cantor. Ouvir músicas como Coração de Papel (o único hit nacional emplacado por Sérgio Reis antes de ele pegar a estrada sertaneja), A Última Canção (sucesso de Paulo Sérgio, gravado por Renato somente com seu violão em registro pungente) e Com Muito Amor e Carinho (linda parceria de Eduardo Araújo com Chil Deberto) na voz aquática de Zé Renato é constatar que, sim, há muito ouro escondido no baú da Jovem Guarda entre tanta bijuteria. Zé Renato soube garimpar esse ouro e dar a essas pepitas o tratamento adequado sem ranço saudosista e sem a nostalgia da modernidade. Por isso mesmo, É Tempo de Amar soa tão moderno na eternidade de suas canções tão pueris.

Peyroux reedita classe em elegante show no Rio

Resenha de Show
Título: Bare Bones
Artista: Madeleine Peyroux (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 30 de novembro de 2008
Cotação: * * * *
Em cartaz na casa Via Funchal (SP) em 4 de dezembro

Com o pretexto de mostrar músicas de seu recém-gravado quarto álbum, Bare Bones, nas lojas a partir de 10 de março de 2009, Madeleine Peyroux voltou aos palcos cariocas em apresentação única e bela na casa Vivo Rio (RJ), na noite de domingo, 30 de novembro de 2008. Fiel à sua refinada mistura de folk, jazz e blues, a cantora norte-americana esbanjou sua classe num show pautado pela elegência. Peyroux não se limitou a apresentar as músicas do próximo CD - a faixa-título, Bare Bones, de tom folk, se destacou na prévia da nova safra de canções autorais da artista - e reviveu sucessos de seus álbuns anteriores, em especial de Half the Perfect World (2006), que sedimentou carreira fonográfica que ganharia impulso, em 2004, com a edição de Careless Love.

De Careless Love, a propósito, Peyroux reviveu o blues Don't Cry Baby, destaque de enxuto roteiro apresentado pela artista na companhia de quarteto hábil na extração de sons econômicos e elegantes como essa violonista e cantora cuja voz lembra a de Billie Holiday (1915 - 1959). Simpática, Peyroux puxou conversa com a platéia - inicialmente num português acanhado e, logo depois, em inglês - e saudou a presença na platéia de Martinho da Vila, a quem dedicou a interpretação de La Javanaise. Se Half the Perfect World (o tema de Leonard Cohen e Anjani Thomas que batizou o último álbum de Peyroux) ganhou levada bossa-novista, pretexto para a cantora reverenciar as belezas naturais do Rio de Janeiro, (Looking for) The Heart of Saturday Night foi grande número que realçou o universo poético do compositor Tom Waits. Aplaudida logo aos primeiros acordes, Dance me to the End of Love foi natural ponto alto do show. Ao sair de cena, após dar um bis encerrado com o blues Walkin' After Midnight, Madeleine Peyroux deixou no ar a sensação boa que somente os verdadeiros artistas conseguem passar ao público. Deu um show de elegância...

Seal acerta ao pôr voz potente a serviço do soul

Resenha de CD
Título: Soul
Artista: Seal
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *

Em 2007, Seal se voltou de forma radical para o universo dance em álbum, System, pilotado por Stuart Price, o antenado produtor recrutado por Madonna ao gravar seu Confessions on a Dance Floor (2005). As vendas ficaram abaixo do nível esperado pela gravadora Warner Music - o que pode ter influenciado a guinada rumo ao soul tradicional neste grandioso álbum intitulado... Soul. A produção e os luxuosos arranjos orquestrais de David Foster armam a cama para que Seal deite e role com seu vozeirão por doze clássicos do soul e do r & b. Soul exibe Seal em sua melhor forma. Por seu potente material vocal, o cantor tem cacife para encarar temas de gênios como Curtis Mayfield (It's Alright), Otis Redding (I've Been Loving You Too Long, baladona de tirar o fôlego) e James Brown (It's a Man's Man's Man's World). E o fato é que as leituras reverentes de Seal fazem bonito perto das gravações originais dessas obras-primas. Talvez a inclusão de If You Don't Know me by Now - balada popularizada no registro do grupo Simply Red - fosse dispensável. Talvez também David Foster devesse ter ousado um pouquinho mais nos arranjos, a rigor convencionais. Contudo, Soul é um dos melhores álbuns deste cantor nascido na Nigéria e radicado na Inglaterra desde a infância, perdendo somente para a imbatível estréia do artista em disco, Seal (1991). E o CD ainda tem a felicidade de ser aberto com gravação arrebatadora de A Change Is Gonna Come, o tema de Sam Cooke (1931 - 1964) que, após a eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, adquire um novo sentido político com Seal, cuja obra ganha novos ares com o (velho?) soul.

Beyoncé perde identidade no terceiro disco solo

Resenha de CD
Título: I Am...
Sasha Fierce
Artista: Beyoncé
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * 1/2

Não é por acaso que Beyoncé Knowles extrapola o universo do r & b pop neste terceiro CD solo, duplo e fraco. Seu disco anterior, B' Day (2006), emplacou hits, mas não surtiu o efeito bombástico do primeiro, Dangerously in Love (2003), que conquistou o Mundo já no primeiro delicioso single, Crazy in Love. Para impulsionar as vendas de B' Day, Beyoncé teve até que inserir na Deluxe Edition do álbum um providencial dueto com Shakira. Em I Am... Sasha Fierce, a cantora - revelada em 1990 no trio Destiny's Child - reaviva seu alter-ego Sasha Fierce, mas assume personalidade intencionalmente esquizofrênica. No CD 1, I Am..., Beyoncé surpreende ao entoar um punhado de baladas (com destaque para If I Were a Boy e Halo) e ao arriscar uma abordagem da Ave Maria. No CD 2, Sasha Fierce, mais irregular, ela flerta com o eurodance em Radio, evoca o soul mais tradicional através do arranjo de Ego e mira as pistas em faixas de atmosfera clubber. Contudo, o primeiro destaque dessa safra dançante, Single Ladies (Put a Ring on It), não reedita nem de longe a pulsação envolvente de hits anteriores como Check on It. Ao atirar para todos os lados, acertando em quase nada, Beyoncé Knowles parece perdida, sem identidade. Na pele de seu alter-ego Sasha Fierce, ela já viveu melhores momentos. E sabia quem era...

Enya celebra Natal no clima etéreo da nova era

Resenha de CD
Título: And Winter
Came...
Artista: Enya
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2

Se algum ouvinte começasse a ouvir este sétimo álbum de estúdio da cantora Enya pela penúltima das 12 faixas, My! My! Time Flies!, poderia supor que a música da artista irlandesa está soando mais pop. Pista falsa! É fiel ao tom etéreo de sua New Age que a cantora celebra o Natal neste CD em que dez das 12 músicas são inéditas, tendo sido compostas pela própria Enya com letras de Roma Ryan. Uma das exceções é a versão celta de Silent Night, intitulada Oíche Chiúin e gravada pela cantora com típico coral de igreja. Trata-se de sublime fecho para um disco que começa com tema instrumental - a bela faixa-título, And Winter Came... - e adiciona pelo menos duas boas músicas ao cancioneiro natalino, Journey of the Angles e White Is in the Winter Night. Sem querer inovar, Enya festeja o nascimento de Cristo em forma.

30 de novembro de 2008

O último desbunde dos baianos chega ao DVD

Resenha de DVD
Título: Os Doces
Bárbaros
Artistas: Caetano Veloso,

Gal Costa, Gilberto Gil e
Maria Bethânia
Direção: Jom Tob Azulay
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Trinta anos depois da estréia nos cinemas, em 1978, o filme Os Doces Bárbaros ganha edição em DVD. Mais do que um documento da turnê do grupo que reuniu em 1976 (e não em 1978, como erra o texto exposto na contracapa do DVD) o fantástico quarteto baiano formado por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, Os Doces Bárbaros é um retrato sócio-político da cultura dos anos 70 - como bem resssalta o diretor Jom Tob Azulay na entrevista feita neste ano de 2008 para ser exibida nos extras do DVD. Restaurado para exibição nos cinemas em 2004, o filme chega ao vídeo digital no seu formato integral - com as cenas vetadas pela censura da época - e com imagens adicionais (sobretudo flagrantes de camarim) nos tais extras. Analisado sob a espiral do tempo, o filme ganha especial importância por documentar o último momento de desbunde vivido pelos baianos. Na seqüência, os quatro viveriam as fases mais bem-sucedidas (do ponto de vista comercial) de suas carreiras, já mais acomodados aos esquemas convencionais da indústria fonográfica. Contudo, logo no começo do filme, o próprio Caetano faz questão de desmistificar qualquer aura revolucionária em torno da formação do grupo, cuja reunião em si é, nas suas palavras, um "fato simplícimo". Definições à parte, o DVD perpetua um momento em que os quatro baianos uniram forças e vozes - vigorosos, harmonizados, integrados. Como provam números coletivos como Os Mais Doces Bárbaros e São João, Xangô Menino. De qualquer forma, ao documentar a prisão e o julgamento hilário de Gilberto Gil (fisgado pela polícia em Florianópolis - SC por porte de maconha), o filme adquire um caráter quase sociológico. E é essa abordagem extra-musical que somente ganha importância com o passar dos anos por conta das cenas quase tragicômicas que enfocam um artista militante da contracultura no momento exato de seu enquadramento pelo sistema opressor da época. Entre outros retratos da época, Os Doces Bárbaros expõe a personalidade altiva de Bethânia, transparente no jogo de gato e rato vencido pela intérprete ao conceder entrevista no camarim a um jornalista mais inquisidor. Por ser perene documento de sua época, o filme (ainda) é bárbaro.

Bio expõe a atuação de Imperial no pop dos 60

Resenha de Livro
Título: Dez! Nota Dez!
Eu Sou Carlos Imperial
Autoria: Denilson
Monteiro
Editora: Matrix
Cotação: * * * 1/2

Bem mais associado à fama de cafajeste, aliás cultivada com indisfarçável orgulho, Carlos Imperial (1935 - 1992) teve atuação decisiva no nascente mercado de música pop criado no Brasil nos anos 60. Um dos méritos da biografia do Gordo - escrita por Denilson Monteiro, colaborador de Nelson Motta na pesquisa do livro Vale Tudo (O Som e a Fúria de Tim Maia) - é a exposição da atuação de Imperial na indústria do disco que propagou a música dita jovem. Pouca gente sabe que Imperial lutou muito para abrir uma porta dessa indústria fonográfica para Roberto Carlos, já no fim dos anos 50, quando o cantor ainda persistia no erro de imitar João Gilberto. Menos gente sabe ainda que Imperial esteve envolvido na produção do primeiro disco de Elis Regina (1945 - 1982), que, contra a vontade da cantora, foi lançada pela Continental em 1961 - com o LP Viva a Brotolândia! - para disputar mercado com Celly Campello (1942 - 2003), então entronizada no posto de rainha do rock pré-Jovem Guarda. E por falar nas velhas tardes de domingo, o livro também relata o envolvimento de Imperial com as estrelas do movimento, em especial Eduardo Araújo, seu parceiro em Vem Quente que Eu Estou Fervendo e intérprete de O Bom, outro grande sucesso desse compositor, apresentador de programas de TV e agitador cultural que cultuava as mulheres, os carros e a música populista. Nos anos 60, o mundo era dos brotos que adotavam o rock como música e estilo de vida. Contudo, o faro de Imperial soube detectar o raro suingue negro que havia na voz de Wilson Simonal (1939 - 2000), cuja carreira fez deslanchar ao oferecer para o cantor sua música Mamãe Passou Açúcar em mim. Nascia ali o samba jovem - ou pilantragem, como seria batizado mais tarde o estilo musical que fez com que Simonal rivalizasse com Roberto Carlos no quesito popularidade. Eclético, e com bom trânsito entre as gravadoras, Imperial vivia o presente sem esquecer de fazer conexões com o passado. Foi tanto o autor de A Praça - a nostálgica marcha-rancho que levou Ronnie Von ao topo das paradas em 1967 - como o parceiro de Ataulfo Alves (1909 - 1969) em Você Passa Eu Acho Graça, o samba que impediu Clara Nunes (1942 - 1983) de ser cortada do elenco da gravadora Odeon por conta das vendas pífias de seu primeiro disco. Aliás, a biografia esclarece que a inusitada parceria entre Imperial e Ataulfo aconteceu, de fato. Sim, como o Gordo era mestre em criar factóides na imprensa para promover suas músicas e os artistas que as gravava, nem sempre o que era relatado nos jornais e revistas da época condizia com a realidade. Dez! Nota Dez! - o título se refere ao modo como Imperial anunciava as notas da apuração do desfile das escolas de samba do Carnaval carioca nos anos 80 - também acompanha a trajetória deste agitador cultural pela política, pelo cinema (na década de 70, ele incursionou pelas pornochanchadas), pela televisão e até pelo teatro. Contudo, foi na música que o nome de Carlos Imperial teve real importância na cena brasileira, na época daquelas jovens tardes dos 60. Embora a escrita de Denilson Monteiro nem sempre tenha alta costura, seu trabalho de pesquisa para reconstituir a rica trajetória multimídia de Carlos Imperial merece dez, nota dez!

D2 põe funk, rock e romance no seu samba-rap

Resenha de CD
Título: A Arte do Barulho
Artista: Marcelo D2
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *


À eterna procura de sua batida perfeita, Marcelo D2 pareceu ter chegado a delicado ponto de exaustão em seu quarto disco solo, Meu Samba É Assim (2006). Talvez por isso mesmo o artista acerta ao alterar a receita de seu samba-rap em A Arte do Barulho, álbum de 12 inéditas que marca a estréia de D2 na gravadora EMI Music. Já na faixa-título, exposta na abertura do CD, os riffs da guitarra de Alexandre Vaz entram na dança e entregam o jogo: A Arte do Barulho, tanto a música como o disco, evocam o som mais roqueiro do Planet Hemp - o grupo que deu fama e problemas a D2 nos anos 90 pela apologia em favor da maconha. Mais misturada, a batida atual de D2 ainda está centrada na fusão perfeita de samba e rap, mas já incorpora também um certo romantismo quase convencional (em Ela Disse e em Vem Comigo que Eu te Levo pro Céu) e o batidão do funk carioca - notadamente em Meu Tambor, faixa incrementada com o vocal de Zuzuca Poderosa, funkeira carioca radicada em Nova York (EUA). Nunca badalada nas notas divulgadas pela EMI para anunciar a chegada do disco às lojas, a participação de Zuzuca acaba sendo mais importante do que a de Mariana Aydar, subaproveitada nos vocais de Fala Sério! - tema em que, sob riffs de guitarra e percussão, D2 deita falação contra a cultura individualista que rege a sociedade consumista. Já Thalma de Freitas, que aparece creditada como "participação especial" somente em Ela Disse, mas aparece bem em Oquecêqué? - faixa urdida somente com a base do DJ Nuts (presença, aliás, fundamental no álbum com seus scratches e programações) e os efeitos de Fernandinho Beat Box - e ainda engrossa o coro de Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá) e de Kush, tema no qual figura o rapper norte-americano Medaphor. Espécie de carta dos princípios que regem a batida de D2, a letra de Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá) é cantada também por Seu Jorge, outro convidado de um disco que ainda aglutina a voz de Roberta Sá em Minha Missão - faixa cuja mensagem otimista parece copiada de manual de auto-ajuda - e o piano de Marcos Valle em Afropunk no Valle do Rap, música que, apesar do título fazer supor outra viagem, transita no universo do sambossa. Sem falar em Stephan Peixoto, filho de D2, convidado e parceiro do pai em Atividade na Laje, outro rap de tom funkeado. Enfim, pode ser que D2 não faça tanto barulho com este (ótimo) quinto álbum solo, mas é justo reconhecer que o artista continua inquieto, à procura da perfeição de uma batida que já tem lugar de honra na música brasileira dos anos 2000. Ele faz Arte - e barulho.

'Labiata' de Lenine demora a florescer no palco

Resenha de Show
Título: Labiata
Artista: Lenine (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 29 de novembro de 2008
Cotação: * * *
Agenda da turnê Labiata em dezembro de 2008:
* 5 de dezembro - Sesc Ribeirão Preto (SP)
* 6 de dezembro - Sesc São José dos Campos (SP)
* 10 de dezembro - Teatro Guaíra - Curitiba (PR)
* 11 de dezembro - Floripa Music Hall - Florianópolis (SC)
* 12 de dezembro - Bourbon Shopping Country - Porto Alegre (RS)

Se algum espectador retardatário tivesse chegado no primeiro ou no segundo bis da única apresentação carioca da turnê Labiata na noite de sábado, 29 de novembro de 2008, ficaria com a impressão errada de que o novo show de Lenine reedita o caráter explosivo de espetáculos anteriores do artista. Na realidade, Labiata demora a florescer no palco. Na apresentação que lotou a casa Vivo Rio, o show somente começou a esquentar no segundo bloco, quando Lenine volta ao palco - então generosamente cedido a Pantico Rocha para que o baterista apresente a música A Visita - para cantar a balada É o que Interessa, sucesso da trilha sonora da novela A Favorita e, por isso mesmo, a música mais conhecida do repertório do sexto CD solo do cantor e compositor.

A partir da volta de Lenine à cena, o show engrena. Músicas como Lavadeira do Rio - turbinada com o peso da guitarra de Jr. Tostoi, também responsável pelas programações eletrônicas - conseguem manter o pique num bloco que vai crescendo com Do It (o tema propagado na abertura da novela Belíssima, reconhecível já no riff inicial) e O Céu É Muito (parceria de Lenine com Arnaldo Antunes, cuja letra poética é encoberta pela atmosfera roqueira do excelente número). O fim, belíssimo, é feito num anticlímax. Sozinho em cena, após apresentar os músicos que vão deixando o palco, Lenine entoa os versos de Continuação, reeditando a ambiência etérea da gravação que fecha o álbum Labiata. Quando retorna, para fazer o bis com as músicas pedidas pelo público em votação na internet, o show retoma o clima explosivo em O Atirador, Alzira e a Torre e Hoje Eu Quero Sair Só - as duas últimas com a intensa e espontânea participação do público predominantemente jovem que ocupou a pista e as mesas da casa Vivo Rio (o patrocínio para a turnê, obtido dentro do projeto Natura Musical, tem viabilizado a realização dos shows com preços acessíveis). No segundo bis, a balada Paciência envolve a platéia e consolida o fim redentor de show que começa sem pique.

A rigor, Labiata é o álbum de Lenine que soa mais irregular por conta do repertório menos inspirado. Ainda assim, os arranjos valorizam as músicas. No show, o cantor nem sempre reedita a contundência do CD. O roteiro soa especialmente anênico nos primeiros números. Martelo Bigorna, Lá e Lô, Magra e Samba e Leveza (a parceria póstuma de Lenine com Chico Science) não conseguem empolgar. Talvez pela pegada excessivamente suave que contrasta com o peso quase metaleiro de shows anteriores do artista, em especial Falange Canibal. No caso de É Fogo e de A Mancha, os registros ao vivo não contam com o reforço da Parede que sustenta as gravações de estúdio. Em contrapartida, Lá Vem a Cidade - o primeiro grande momento do show - consegue ampliar a pulsação épica do disco. É número que Lenine valoriza com gestual intenso. O canto é feito também com o corpo. Já Nem Sol, Nem Lua, Nem Eu brilha menos com a levada de reggae imposta pelo baixo de Guila. Da mesma forma que, no palco, a Ciranda Praieira morre na praia. Entre altos e baixos, paira a sensação de que a música de Lenine já resultou mais envolvente em cena. Basta comparar o atual espetáculo com o requintado Acústico MTV apresentado em 2006 pelo artista. Contudo, pode ser que, ao longo da turnê que vai se estender por 2009, Labiata enfim desabroche com mais força e faça jus ao histórico de belos shows da carreira solo de Lenine. Para tal, é preciso (re)ajustar o roteiro.

Caetano mixa 'Zii e Zie', CD de inéditas autorais

Intitulado Zii e Zie (Tios e Tias, em italiano), o álbum de inéditas que Caetano Veloso (no estúdio com a Banda Cê na foto extraída de seu blog Obra em Progresso) vai lançar em 2009 já entrou em fase de mixagem no estúdio Mega, no Rio de Janeiro (RJ). Com exceção de Incompatibilidade de Gênios, o samba de João Bosco e Aldir Blanc lançado por Bosco em 1976, o repertório é autoral e reúne todas as músicas testadas na temporada do show Obra em Progresso. Entre elas, Por Quem, Lapa, Sem Cais, Lobão Tem Razão, Base de Guantánamo, Perdeu, Tarado ni Você e A Cor Amarela. Uma das novidades é Menina da Ria, composição nunca mostrada em cena. Anterior ao show, mas ainda inédito em disco, o samba Diferentemente também integra o repertório de Zii e Zie.