31 de maio de 2008

'Rock Voador' volta ao catálogo em série forçada

Pioneira coletânea do seminal pop nacional, Rock Voador foi lançada em 1982 - no embalo do estouro da Blitz no quente verão daquele ano - e reeditada pela Warner Music em CD em 1997. Onze anos depois, a compilação ganha nova reedição na série Rock Brasil 25 Anos, que tenta em vão deslocar o ano-base da explosão do rock brasileiro para 1983. Datas e efemérides fictícias à parte, Rock Voador tem sua importância por ter marcado a estréia em disco do grupo Kid Abelha entre nomes (Malu Vianna, Papel de Mil, Maurício Mello...) que logo sumiram na poeira da estrada roqueira. Mas é lamentável que, na contracapa desta nova edição, a Warner tenha adulterado os créditos originais das gravações do Kid Abelha, suprimindo o complemento "e os Abóboras Selvagens" usado pela banda carioca em sua fase inicial.

Antropofagia rege alegria tropicalista de Beatriz

Resenha de CD
Título: Alegria
Artista: Beatriz Azevedo
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação:
* * *


Alegria é álbum gravado por Beatriz Azevedo sob regência tropicalista. A idéia da cantora e compositora foi se utilizar do conceito de antropofagia para criar e registrar repertório quase todo autoral pautado pela diversidade sonora. Suas referências são apresentadas no CD como devorações. Gravado entre Rio de Janeiro, São Paulo e Nova York (EUA), o disco foi idealizado pela artista e ostenta arranjos e direção musical do pianista Cristóvão Bastos. Nem sempre a ânsia antropofágica gera músicas à altura das referências que as inspiraram. Mas predominam no CD bons momentos como o samba Rede, a faixa-título (composta e gravada por Beatriz com Vinicius Cantuária) e a releitura de Speak Low com base rítmica que evoca o maracatu brasileiro. Ovelha negra desgarrada do rebanho tropicalista, Tom Zé dá o ar da graça em Pelo Buraco. Entre ecos do suingue de Henri Salvador (Savoir par Coeur) e do balanço das gafieiras (Não É da Conta de Ninguém), Alegria nem sempre resulta tão interessante na prática quanto na teoria. Mas prima por expor o universo (particular) de Beatriz.

Maogani deixa (refinadas) impressões de choro

Resenha de CD
Título: Impressões
de Choro
Artista: Maogani
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

Em seu quarto belo álbum, o primeiro desde que Maurício Marques ocupou o posto deixado vago em 2005 com a saída de Marcus Tardelli, o quarteto de violões Maogani se volta para o universo do choro sob a batuta firme de Maurício Carrilho, produtor do CD ao lado do próprio Maogani e autor do tema inédito, Moacirsantosiana nº 15 (2005), que abre o disco. Impressões de Choro não é um trabalho que prioriza a vivacidade rítmica do gênero - exceto em algumas poucas faixas como Meu Caro Amigo (1976), o choro de Francis Hime e Chico Buarque que encerra o álbum com registro que revela uma segunda parte inédita em disco. Os violonistas do Maogani abordam o choro com fraseados suaves que ratificam a postura inovadora e o refinamento que caracterizam o som do grupo e que são postos a serviço de um repertório irretocável que mistura valsa de Heitor Villa-Lobos (Tristorosa, 1910 - com intervenção luxuosa do clarinete de Nailor Azevedo, o Proveta) com polca de Maurício Marques (Passatempo, 2007) e choros de Garoto (Relâmpago, 1945), Radamés Gnattali (Por Quê?, 1955) e Jacob do Bandolim (A Ginga do Mané, 1962 - em tributo ao célebre jogador Garrincha). Sem falar em lírica valsa inédita recolhida no baú das parcerias de Guinga com Paulo César Pinheiro (Noites Brasileiras, 1972). No geral, Impressões de Choro é um grande disco que reafirma o virtuosismo do Maogani.

Warner fisga Hori, a banda do filho de Fábio Jr.

Formada em São Paulo (SP) em 2003 e em evidência no mercado de pop rock desde 2006, quando o clipe de Pronto pra Atacar entrou em rotação na MTV, a banda Hori já faz parte do minguado elenco nacional da Warner Music. O contrato com a gravadora foi sacramentado na quinta-feira, 29 de maio de 2008. Na foto de Bianca Tatamya, o quarteto celebra a assinatura na companhia de Sérgio Affonso, presidente da filial brasileira da major. Detalhe: o vocalista Fiuk (ao centro na foto) é Filipe Galvão, filho de Fábio Jr. - o que tem garantido ao grupo exposição na mídia em veículos populares. A banda já editou um EP, (+) Hori. O primeiro álbum vai ser lançado em breve pela Warner e incorpora as faixas do EP.

30 de maio de 2008

Fafá revive as emoções exacerbadas de seu fado

Resenha de show
Título: Saudades de Portugal no Brasil, Saudades do Brasil em Portugal
Artista: Fafá de Belém
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 29 de maio de 2008
Cotação: * * * 1/2

Em 1992, Fafá de Belém deu upgrade em sua discografia - àquela altura já banalizada pelas fórmulas imediatistas da indústria fonográfica - ao gravar o CD Meu Fado para o mercado lusitano. Dezoito anos depois, já popular em Portugal, a cantora volta a cantar as dores dos fados em show que precede um outro disco voltado para a música da Terrinha. "Sou uma cantora que nunca se nega às emoções exacerbadas", autodefine-se Fafá no palco do Teatro Rival, onde o show fica em cartaz até sábado, 31 de maio de 2008. De fato, a intérprete é talhada para desfiar a ladainha chorosa dos fados. A ponto de seu show, que revisita o repertório do belo álbum Meu Fado com acréscimos no roteiro, transcorrer enxuto e coeso. Fafá parecia em casa. Portuguesa, com certeza...
Os três primeiros números - Canção Grata, Procuro e Não te Encontro e Confesso - garantem uma abertura perfeita. Uma luz quente realça a dramaticidade presente na voz e no gestual. Quando se solta mais e começa a interagir com o público, a partir do clássico Olhos Castanhos, a expansiva cantora ganha em comunicabilidade, mas perde um pouco do rigor estilístico do começo do show. Olhos Castanhos está no meio de um bloco em que Fafá revive sucessos de Francisco José (1924 - 1988), cantor português muito popular no Brasil. O set em homenagem a José abre com Só Nós Dois - fado que Fafá conta ter sido inspirado por um proibido amor gay - e fecha com Nem às Paredes Confesso, um número acompanhado espontaneamente por um público friendly.
Ancorada no porto seguro da boa música portuguesa, Fafá apresenta show correto que até surpreende nas incursões pelos repertórios de Dulce Pontes (Lágrima, de delicadeza poética) e de Caetano Veloso (Os Argonautas). E cuja parte instrumental é impecável. Um trio de guitarra portuguesa (Mário Rui), violão (Sérgio Borges) e baixo acústico (Adelbert Carneiro) cria a moldura ideal para Fafá exacerbar todas suas emoções em números como Estranha Forma de Vida, Só à Noitinha e Fado Loucura, este cantado em saudoso tributo ao fadista amigo Carloz Zel (1950 - 2002). Nesta parte do show, Fafá carrega demais nas interpretações, com arroubos vocais dispensáveis e imitações do sotaque português. Contudo, é fato que a cantora continua em excelente forma vocal, sem precisar baixar os tons como muitas colegas de sua geração. Ao contrário, o tempo fez bem à sua voz...
Do repertório extraído do CD Meu Fado, Canoa do Tejo e Tudo Isto É Fado seduzem pelas melodias sublimes. E nem tudo é tristeza no fado de Fafá. Sempre que Lisboa Canta celebra com paradoxal alegria o canto triste da capital de Portugal. Da mesma forma que Tanto Mar, de Chico Buarque (também representado no roteiro pelo Fado Tropical), festeja os ventos da democracia que arejaram a Terrinha com a Revolução dos Cravos. Mas é na tristeza cantada nos fados mais magoados que Fafá de Belém não se nega mais uma vez às emoções exacerbadas e faz a alegria de seu público passional. E que venha um novo belo disco no gênero!

Toinho Alves, do Quinteto Violado, sai de cena

Vítima de um enfarte, Toinho Alves - um dos fundadores do grupo pernambucano Quinteto Violado, em atividade desde 1971 - saiu definitivamente de cena, aos 64 anos, na madrugada de quinta-feira, 29 de maio de 2008. O artista faleceu em seu apartamento, situado na cidade de Jaboatão dos Guararapes (PE). Toinho ficou conhecido por sua atuação como cantor e baixista do Quinteto Violado, mas, antes, integrou nos anos 60 o grupo vocal Os Bossa Norte. Como líder e mentor do Quinteto, Toinho não se limitava a cantar e a tocar baixo. Eram dele a produção dos discos, a criação dos arranjos, a seleção das músicas e a direção musical dos shows.

Olivia Newton-John revisa vida e obra em DVD

Em grande evidência na virada dos anos 70 para os 80, quando estrelou filmes musicais como Grease - Nos Tempos da Brilhantina e Xanadu, Olivia Newton-John editou em 2008 um DVD que a EMI Music acaba de pôr no mercado brasileiro - com capa traduzida para o português. Olivia Newton-John e Orquestra Sinfônica de Sidney ao Vivo na Sidney Ópera House foi gravado na Austrália em show no qual a artista recorda sua vida e obra. A vitória contra o câncer de mama diagnosticado em 1992 é lembrada com a canção Stronger than Before. O início na música country está representado por números como If Not for You e Let me Be There. Já a fase malhação dos anos 80 é evocada através do hit Physical. E há, claro, as músicas cantadas pela artista nas trilhas sonoras de Grease e de Xanadu.

Filme enfatiza a fé de Cash na música religiosa

A gravadora EMI Music está lançando no Brasil o DVD A Música Gospel de Johnny Cash. Trata-se de documentário narrado por Dan Rather - âncora de telejornal da rede de TV norte-americana CBS - e estruturado em oito capítulos. A história de fé e redenção apreogada no subtítulo exposto na capa do DVD é o envolvimento de Johnny Cash (1932 - 2003) - o Homem de Preto que sempre lutou contra seus demônios e criou diabólica fusão de rock e country - com a música religiosa que propaga a crença em Deus. A narrativa é costurada por 30 números musicais, sendo que metade deles foi captada em apresentações ao vivo do cantor. Em ação casada com a edição do DVD A Música Gospel de Johnny Cash, a EMI Music está pondo nas lojas homônima compilação dupla, com 25 gravações feitas pelo artista no gênero. Para quem tem fé na música de Cash.

29 de maio de 2008

Som de Dominguinhos enobrece prêmio apático

Com uma jam de sanfoneiros, que juntou alguns dos melhores acordeonistas brasileiros sob o comando do homenageado Dominguinhos, a sexta edição do Prêmio Tim de Música foi encerrada em clima festivo, na noite de 28 de maio de 2008, dando um tom nordestino ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ). Reverenciar a obra do autor de músicas como Contrato de Separação - revivida pela intérprete original do tema, Nana Caymmi, na companhia de Dominguinhos - foi uma bela idéia que engradeceu e enobreceu uma premiação em si apática, já que, para agilizar a cerimônia, os vencedores nunca têm o direito de agradecer pelos troféus. O que diminui o teor de emoção da festa que rendeu ao Acústico MTV de Paulinho da Viola quatro prêmios, inclusive o de Melhor Arranjador para Cristóvão Bastos.
Estreantes na função de apresentadores do prêmio, os atores Marcos Palmeira e Marieta Severo conduziram a cerimônia com desenvoltura e naturalidade. Disseram o texto com segurança e sem tentar fazer gracinhas para entreter a platéia de convidados. Mas a noite foi mesmo de Dominguinhos - efusivamente saudado pelo público logo que seu nome foi anunciado pelo presidente da Tim. Com seu acordeom e certo incômodo por ter que se apresentar com fones no ouvido ("Vou passar a noite ajeitando os ouvidos", gracejou), Dominguinhos esteve presente em todos os números musicais e abriu o show - dirigido e arranjado pelo maestro Rildo Hora - tocando Forró no Escuro e Sete Meninas. Com Gilberto Gil, o sanfoneiro recordou o xote Eu Só Quero um Xodó, sucesso de Gil em 1973. Sem desafinar, Vanessa da Mata fez pulsar sua veia interiorana em Lamento Sertanejo enquanto Elba Ramalho - com Dominguinhos na foto de Murilo Tinoco - reviveu De Volta pro Aconchego, a toada romântica que lhe garantiu lugar de destaque nas paradas de 1985. Já Luciano errou a letra de A Vida do Viajante - solada por ele enquanto o irmão Zezé Di Camargo se virava na sanfona ao lado de Dominguinhos - e pediu desculpas ao público. A dupla sertaneja emendou A Vida do Viajante com Tenho Sede no número mais problemático da noite. Ivete Sangalo interpretou Gostoso Demais, a bela toada que Maria Bethânia lançou em 1986, forçando um chamego com o anfitrião.
A premiação em si foi correta e, desta vez, sem grandes absurdos - em que pesem algumas idiossincrassias como dar a Martinho da Vila o troféu de Melhor Cantor na categoria Canção Popular e de enquadrar Ivete Sangalo na categoria Regional (Ivete levou o prêmio de Melhor Cantora no segmento e subiu ao palco com papel no qual se lia ELBA, numa alusão a Elba Ramalho, veterana concorrente da categoria que saiu de mãos abanando nesta sexta edição do Prêmio Tim de Música - aliás, uma injustiça com Elba).
Na categoria MPB, Emilio Santiago levou os troféus de Melhor Disco (De um Jeito Diferente) e Melhor Cantor (a Melhor Cantora foi Nana Caymmi pelo CD Quem Inventou o Amor). Na área de Pop /Rock, Vanessa da Mata derrotou Fernanda Takai, que também perdeu o prêmio de Melhor Disco para Arnaldo Antunes (Ao Vivo no Estúdio). No segmento Regional, Siba faturou o prêmio de Melhor Disco (Toda Vez que Eu Dou um Passo o Mundo Sai do Lugar, também premiado com o troféu de Projeto Visual), mas o Melhor Cantor foi Rodrigo Maranhão pelo CD Bordado. Detalhe: Maranhão também levou o prêmio de Revelação. Já na categoria Samba, o domínio foi de Paulinho da Viola, também laureado com o troféu de Melhor Canção (Vai Dizer ao Vento). Como de praxe, Alcione faturou o prêmio de Melhor Cantora na categoria... E o Fundo de Quintal, o de grupo...
No todo, a merecida festa para Dominguinhos fez valer a noite. Ainda que o Prêmio Tim de Música deixe no ar, pela sexta vez, a sensação de que seus critérios são discutíveis. Não premiar Fernanda Takai e Roberta Sá - no ano em que ambas as cantoras concorriam com discos unanimamente festejados pela crítica - sinaliza um certo descompasso do corpo de jurados com o gosto geral. Mas, justiça seja feita, já houve premiações mais absurdas... e, de todo modo, o Prêmio Tim de Música não altera o status dos vencedores e tampouco diminui a importância dos perdedores ou dos ignorados - casos de Maria Rita, Paula Toller e Teresa Cristina.

Encontro com Ana encerra a temporada de Zizi

No último e mais concorrido dos 12 shows da temporada do projeto Cantos e Contos, apresentada por Zizi Possi às terças-feiras na casa Tom Jazz (SP) de 11 de março a 27 de maio de 2008, a cantora recebeu Ana Carolina. Além de tocar pandeiro em Bom Dia (Swami Jr. e Paulo Freire) e O Que É O Que É (Gonzaguinha), como flagra a foto de Ronaldo Aguiar, Ana cantou com Zizi baladas de seu repertório como Carvão e Ruas de Outono. Toda a temporada foi gravada para edição em CD(s) e DVD(s) que vão festejar os 30 anos de carreira de Zizi, que debutou no mercado em 1978. Eis o roteiro do último show da série Cantos e Contos:
1. Ar Puro
2. Explode Coração
3. Luz e Mistério
4. Se Tudo Pode Acontecer
5. A Paz
6. Caminhos de Sol
7. Dois Corações
8. Sentado à Beira do Caminho
9. Retrato em Branco e Preto
10. O Barquinho
11. Sem Você
12. Meu Erro
13. Love of my Life
14. Nada pra mim
15. Ruas de Outono - com Ana Carolina
16. Carvão - com Ana Carolina
17. Quem É Você - com Ana Carolina
18. Canção de Protesto - com Ana Carolina
19. Bom Dia - com Ana Carolina
20. O Que É O Que É - com Ana Carolina (no pandeiro)

Cedo ou Tarde anuncia terceiro CD do NX Zero

Nas rádios desde segunda-feira, 26 de maio de 2008, Cedo ou Tarde é o primeiro single promocional do terceiro álbum do grupo NX Zero, Agora. O quinteto é contratado da Arsenal Music, a gravadora de Rick Bonadio. Aliás, não por acaso, o CD conta com a participação do rapper Túlio Dek - também abrigado sob o teto da Arsenal - na faixa Bem ou Mal. Agora chega às lojas em breve.

Cidade do Samba ultrapassa fronteira brasileira

Um dos poucos campeões de vendas do fraco mercado fonográfico brasileiro em 2007, já contabilizando 65 mil CDs e 95 mil DVDs vendidos, o projeto Cidade do Samba - título inaugural do selo ZecaPagodiscos - já ultrapassou as fronteiras nacionais. Através da EMI Music, a gravadora que distribuiu o produto no Brasil, Cidade do Samba já foi exportado para as prateleiras das lojas de países como França, Grécia, Hong Kong, Japão, Itália, Coréia, Turquia e Israel. Em CD e DVD.

28 de maio de 2008

DVD de Simone com Zélia sairá em 10 de junho

Na seqüência da edição do CD Amigo É Casa - Ao Vivo, que registra o show feito por Simone com Zélia Duncan desde 2006, a gravadora Biscoito Fino vai lançar em 10 de junho o DVD homônimo, com o repertório integral do espetáculo roteirizado pelas duas cantoras. Alguns números - Mar e Lua, Existe um Céu, Vento Nordeste, Não Vá Ainda, Então me Diz e Alma (tanto a música gravada por Simone em 1982 como o sucesso homônimo emplacado por Zélia em 2001) - são exclusivos do DVD, que, nos extras, apresenta bate-papo das cantoras com Bia Paes Leme (diretora musical do show), Cristóvão Bastos e Hermínio Bello de Carvalho. O CD já editado é primoroso.

Duas inéditas de estúdio no CD ao vivo do Maná

No rastro do retorno do grupo Maná ao Brasil, para miniturnê que passará por São Paulo (4 e 5 de junho), Rio de Janeiro (6 de junho) e Porto Alegre (8 de junho), a Warner Music vai pôr nas lojas um novo registro de show da banda mexicana, Arde el Cielo Vivo, editado simultaneamente em CD e em kit de CD + DVD (fabricado no formato de CD). Duas faixas inéditas gravadas em estúdio - a música que dá nome ao projeto e e um cover do repertório do cantor e compositor mexicano Marco Antonio Solis, Si No te Hubieras Ido - tentam dar um ar de novidade a mais um título de discografia que inclui fartos registros de shows como Unplugged MTV (1999), En Vivo (2002) e Acceso Total (2004). Mais um!!

Moura reforça laço afro entre Jobim e Gershwin

Ao mesmo tempo em que lança no Brasil Gershwin & Jobim Here to Stay, álbum em que o grupo vocal BR6 entrelaça as obras de George Gershwin (1898 - 1937) e de Tom Jobim (1927 - 1994), a gravadora Biscoito Fino está reeditando um disco em que o clarinetista Paulo Moura explora as mesmas afinidades entre os dois compositores. O CD Pra Cá & Pra Lá - Paulo Moura Trilha Jobim & Gershwin foi gravado ao vivo em 1998, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), dentro de ciclo de shows Tom & Gershwin. Como Moura explica em texto escrito para o encarte do álbum, a idéia foi reforçar o laço africano que sustenta a base das músicas dos dois autores. O repertório destaca o medley que aglutina Rhapsody in Blue, Samba do Avião, Só Danço Samba e I Got Rhythm. Luxo só!

Skank dá pistas vagas sobre CD em site oficial

O grupo Skank (em foto de Weber Pádua) decidiu criar em seu site oficial uma seção, Skank no Estúdio, para disponibilizar vídeos captados diretamente do Estúdio Máquina, em Belo Horizonte (MG), onde o quarteto mineiro formata seu 10º álbum, com produção de Dudu Marote, piloto do maior êxito comercial da discografia da banda, Samba Poconé (1996) - aliás, assunto do bom programa que marcou a volta ao ar da série Discoteca MTV. Por ora, no entanto, o grupo oferece pistas vagas sobre o disco nos vídeos já disponibilizados na seção. Os depoimentos dos músicos sobre o CD limitam-se a caracterizá-lo com adjetivos como "visceral". O lançamento está previsto para julho ou agosto.

27 de maio de 2008

Gil se conecta à rede de tensões da vida hi-tech

Resenha de CD
Título: Banda Larga
Cordel
Artista: Gilberto Gil
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

Nas lojas somente a partir de 17 de junho, mas já disponível para audição no canal Sonora (do portal Terra), o primeiro disco de inéditas de Gilberto Gil desde Quanta (1997) conecta o artista à rede de tensões que pautam o universo hi-tech. Ao mesmo tempo em que festeja a inclusão digital do Brasil interiorano no discurso verborrágico feito na letra da música que dá título ao CD Banda Larga Cordel, entre ecos de sons nordestinos, o compositor capta o primitivismo que ainda rege parte desse universo. Em O Oco do Mundo, o maior destaque da irregular safra de inéditas, Gil rumina definições sobre uma esfera sombria que aterroriza e até retém o Homem num estágio mais primitivo. De alta voltagem poética, a música vem carregada de sujeiras, distorções e recursos eletrônicos (utilizados na medida).

Musicalmente, Gil se equilibra bem entre o acústico e o eletrônico - universos paralelos cuja dicotomia e interação geram a reflexão esboçada em Máquina de Ritmo. Às vezes, ele até se excede com os timbres artificiais como em La Renaissance Africaine, que incorpora versos em francês. Mas, no todo, a conexão com a modernidade tecnológica é feita sob medida. E, nesse mundo moderno, a balada Os Pais - gravada com suingue inexistente na recente gravação original de Jorge Mautner, parceiro de Gil na música - capta bem as tensões que regem as relações entre pais e filhos neste universo de maior liberalidade. Inclusive tecnológica.

A idéia inicial de Gil era fazer um disco de sambas. E alguns deles passaram pelo filtro de Banda Larga Cordel. Canô saúda o centenário de Dona Canô com manemolência baiana. Samba de Los Angeles foi extraído de Nightingale, álbum de 1978, o primeiro gravado pelo artista especialmente para o mercado norte-americano. Confirmando seu apurado senso rítmico, o cantor deita e rola nas quebradas deste samba. Assim como nas de Gueixa no Tatame e de Formosa, única faixa não autoral entre as 17 músicas do CD. Formosa é da lavra fina de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). De contorno menos inspirado, Amor de Carnaval completa o time de sambas do disco.

Ao se distanciar do universo do samba, uma esfera do cordel se desenrola a partir do universo musical nordestino que moldou a obra do baiano Gil, fã de Luiz Gonzaga (1913 - 1989). A malícia da região dá o tom do bom xote Despedida de Solteira - em que o cantor narra a aventura de uma cabrita lésbica à beira do altar - e de Não Grude, Não, tema em que Gil tangencia o forró de contorno mais pop. O viés mais malicioso da música do Nordeste ecoa de forma torta até em Olho Mágico, balada de atmosfera soul em que Gil tenta duplo sentido ao unir palavras como quer e alho.

Duas canções mais interiorizadas abrem espaço para reflexões existenciais. Em Não Tenho Medo da Morte, Gil divaga sem grande expressão pelo tema da finitude. Já em A Faca e o Queijo - uma das músicas mais envolventes do disco, feita para Flora Gil para satisfazer desejo expressado pela mulher do compositor - o artista corajosamente lança mão de um discurso direto para assumir as transformações que moldam o amor maduro. "O ardor da paixão já não nos adorna mais", admite Gil em (poético) verso.

No todo, nem sempre as músicas de Banda Larga Cordel acompanham o vigor do discurso. Mas o disco é bom e conecta Gilberto Gil a um mundo tecnológico que o compositor de Lunik 9 e Cérebro Eletrônico já observava, com astúcia, desde os anos 60.

Desfile feminino de Rosemary não evolui bem...

Resenha de CD / DVD
Título: Rosemary em
Mulheres de Mangueira
Artista: Rosemary
Gravadora: Independente
Cotação: * *

Numa espécie de Carnaval fora de época, Rosemary saúda a ampla ala feminina da Estação Primeira no CD (gravado em estúdio) e DVD (gravado ao vivo) Rosemary em Mulheres de Mangueira, lançados simultaneamente em edição da própria cantora. Inédito samba de ambiência bossa-novista da lavra de Erasmo Carlos, Mulheres da Mangueira, abre o desfile de músicas novas e antigas que louvam destaques femininos da agremiação e a própria escola verde-e-rosa. Infelizmente, a má qualidade do repertório inédito torna o disco irregular. Nem a reunião de Beth Carvalho e Alcione em Estrelas Consagradas consegue disfarçar a rala inspiração da composição de Nilton Barros. E até bambas como Arlindo Cruz e Franco - autores de 3 Mulheres, samba gravado com adesão de Zeca Pagodinho - conseguem resultado à altura da idéia. Rosemary brilha mais ao festejar sua escola com sambas antológicos como Alvorada (Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho) e Piano na Mangueira, derradeira parceria de Chico Buarque com Tom Jobim. Chico, aliás, repisa o Chão de Esmeraldas que pavimentou com Hermínio para o álbum Chico Buarque de Mangueira (1997). Pena que, em faixas como Sala de Recepção (Cartola), haja ligeira empostação vocal que embaça o fraseado límpido da cantora. Contudo, a produção de Milton Manhães é eficiente e há casos em que os arranjos - como o feito pelo tecladista Fernando Merlino para Mulheres Decididas (Carlos Colla) - soam melhores do que as músicas em si. No todo, falta harmonia no desfile de Rosemary que, certamente, despertaria maior atenção do público e da mídia se fosse lançado perto da folia. Embora a boa idéia não tenha gerado um bom CD...
P.S.: As participações de Alcione (Estrelas Consagradas), Chico Buarque (Chão de Esmeraldas) e Zeca Pagodinho (3 Mulheres) são exclusivas do CD gravado em estúdio. Em contrapartida, a participação de Dudu Nobre em Alvorada acontece somente no DVD gravado ao vivo em show roteirizado e dirigido por Túlio Feliciano. Já Beth Carvalho participa dos dois distintos registros.

Eliane Elias toca e canta a música de Bill Evans

Bill Evans (1927 - 1980) foi um dos mais influentes pianistas de jazz. Sua obra se tornou forte referência para vários pianistas sobretudo a partir dos álbuns que editou, a partir dos anos 50, pela gravadora Riverside. A cantora e pianista brasileira Eliane Elias foi tão influenciada pelo colega que persegue o fraseado refinado de Evans no CD Something for You - Eliane Elias Sings & Plays Bill Evans, gravado para o selo Blue Note e recém-editado no Brasil pela EMI Music. Além de tocar seu piano, Elias canta em seis das 17 faixas - inclusive em Minha (All Mine), parceria de Francis Hime e Ruy Guerra, já gravada por Evans. Contudo, das seis faixas cantadas, o destaque é a balada Here Is Something for You. A partir de uma gravação deixada por Evans em fita cassete, reproduzida na última faixa do disco, Elias criou uma letra para o tema composto pelo pianista. O mesmo processo de criação foi repetido por Elias para a confecção dos versos de Evanesque, outra música recém-descoberta de Evans e incluída neste CD de jazz ao lado de pérolas como Five, For Nenette e Solar - tema bebop de Miles Davis (1926-1991), com quem Evans tocou.

Baleiro desmembra 'Coração' em dois volumes

O próximo CD de inéditas de Zeca Baleiro, O Coração do Homem-Bomba, vai ser duplo, mas ficará desmembrado em dois volumes que serão vendidos em edições avulsas. Já em fase final de mixagem, o primeiro volume tem seu lançamento agendado para 25 de julho. O segundo deverá chegar às lojas somente em novembro, mas a gravadora MZA Music autorizou o artista a disponibilizar algumas faixas já em setembro.

26 de maio de 2008

Registro ao vivo de Legend é precoce, mas bom

Resenha de CD
Título: Live from
Philadelphia
Artista: John Legend
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * 1/2

John Legend se impôs na cena pop com dois grandes álbuns, Get Lifted (2004) e Once Again (2006), em que logo mostrou que bebe nas melhores fontes do soul e do r & b. A rigor, o cantor, compositor e pianista poderia ter esperado a edição de um terceiro disco de inéditas para partir para um registro de show. Contudo, em que pese seu caráter precoce, Live from Philadelphia - recém-editado em CD no Brasil e, na seqüência, em DVD - é interessante projeto ao vivo que ratifica o talento de Legend e tem o mérito de trazer algumas novidades. Em Where Is the Love?, o cantor reedita com Corine Bailey Rae o dueto gravado por Roberta Flack em 1972 com Donny Hathaway. Há ainda explosivas incursões pelos repertórios dos Beatles ( I Want You - She's So Heavy, com naipe de metais em brasa) e Sly & The Family Stone (Dance to the Music). No todo, o show é azeitado e tem pegada... Em cena, John Legend ratifica seu talento incomum.

Álbum 'brasileiro' de Carly resulta fora de foco

Resenha de CD
Título: This Kind of Love
Artista: Carly Simon
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * 1/2

No encarte deste seu primeiro CD de inéditas em oito anos, Carly Simon conta que, ao ver o filme Orfeu Negro e ouvir o disco com a trilha sonora desta produção franco-brasileira ambientada no Carnaval, nada lhe pareceu tão importante por muito tempo. Nascia ali uma adoração pelo sons brazucas que inspirou This Kind of Love. Carly relata que, ao conhecer as obras de Caetano Veloso e Jorge Ben Jor, percebeu que a música brasileira ia além do samba e da Bossa Nova. Infelizmente, o entendimento da cantora e compositora norte-americana ainda parece precário a julgar pelo CD. This Kind of Love resulta fora de foco. Quando incursiona pelo samba, como em Hola Soleil, o disco constrange com batida mais próxima da rumba do que do samba propriamente dito. Quando evoca ligeira ambiência bossa-novista em baladas como The Last Samba (de autoria de Jimmy Webb, um dos produtores do CD), o resultado é menos infeliz. Mas, no fim das contas, Carly Simon acerta mesmo é quando esquece a música brasileira e reedita sua grife autoral em músicas como Too Soon to Say Goodbye, Sangre Dolce e a faixa-título. Mas, justiça seja feita, seu flerte com o rap na suntuosa People Say a Lot é bacana e mostra que Carly Simon não precisa sair do universo norte-americano para soar interessante. Longe do Brasil.

Dominguinhos e Domenico no álbum de Camelo

Dominguinhos, Clara Sverner e o grupo paulista Hurtmold - além de Domenico Lancelotti - estão entre os convidados do primeiro disco solo de Marcelo Camelo. Já programado para o segundo semestre de 2008, o lançamento do álbum vai ser promovido com turnê nacional que vai começar em setembro e chegará ao Rio no fim do ano (13 e 14 de dezembro, no Canecão). Camelo já vem formatando desde dezembro de 2007 seu primeiro trabalho após o recesso por tempo indeterminado do quarteto Los Hermanos. A conferir!!

Discografia de Salmaso retrocede com Nem 1 Ai

Resenha de CD
Título: Nem 1 Ai
Artista: Mônica Salmaso
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Nem 1 Ai é o sexto álbum de Mônica Salmaso. Mas não se trata da seqüência de Noites de Gala, Samba na Rua, o magistral CD de 2007 em que a cantora abordou a obra de Chico Buarque. A rigor, Nem 1 Ai é disco de 2000, gravado em 8 e 9 de abril daquele ano em duas sessões de estúdio que registraram e ampliaram o repertório do show inédito que Salmaso e um quinteto - formado por André Mehmari (piano e teclados), Nailor Proveta (sax e clarinete), Rodolfo Stroeter (baixo acústico), Toninho Ferragutti (acordeom) e Tutty Moreno (bateria) - haviam criado em São Paulo (SP) para apresentar na edição de 2000 do bom festival Heineken Concerts - a convite do produtor Toy Lima.
Como o show, as duas sessões gravadas no Estúdio Mosh (SP) permaneceram inéditas em disco. Tampouco seu repertório foi retrabalhado pela cantora em álbuns ou apresentações futuras. A questão é que Salmaso não reedita em Nem 1 Ai o tom sedutor das interpretações ouvidas em discos como Voadeira (1999), Iaiá (2004) e o supra-citado tributo ao cancioneiro de Chico Buarque. A afinidade da cantora com os músicos é total, evidenciando uma das maiores qualidades da intérprete, dona de rara musicalidade que a faz integrar sua voz aos instrumentos com precisão. Contudo, Nem 1 Ai é retrocesso em sua discografia porque, talvez pelo tom descompromissado da gravação, sua voz não atinja o céu como em outros registros. É como se fosse um disco de músicos para músicos. Tem lá seus bons momentos - em especial, o samba Minha Palhoça (J. Cascata), Derradeira Primavera (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e a venezuelana Tonada del Cabrestero (Simón Diaz) - sem que, de fato, arrebate. Às vezes, por conta de uma sonoridade demasiadamente etérea como a que impregna o samba Mora na Filosofia (Monsueto Menezes e Arnaldo Passos). Outras vezes porque Salmaso não parece mostrar todas suas possibilidades vocais quando entoa Esconjuros (Guinga e Aldir Blanc), Lenda do Abaeté (Dorival Caymmi), Joana Francesa (Chico Buarque) e Saudades dos Aviões da Panair (Conversando num Bar), o tema de Milton Nascimento e Fernando Brant. Como se trata de uma das grandes cantoras da atualidade, já digna de figurar no primeiro time de vozes nacionais, paira uma decepção ao longo das 11 faixas de Nem 1 Ai. A rigor, o valor deste disco pautado por fina interação entre o quinteto (ou sexteto, já que Salmaso se porta como integrante do grupo) é mais documental. Ainda assim, sua edição é bem-vinda...

25 de maio de 2008

Arlindo Cruz entra na ciranda solo de Da Gama

Enquanto Toni Garrido testa repertório no show Flecha Black, seu primeiro trabalho individual após a turbulenta saída do posto de vocalista do grupo Cidade Negra, o guitarrista Da Gama (foto) parte para um projeto solo. Violas e Canções é o nome do disco. Arlindo Cruz aceitou participar da faixa Ciranda, parceria inédita de Da Gama com Marcos Valle. Entre regravações de hits do Cidade Negra e de músicas de Djavan e de Hyldon, o guitarrista vai se apresentar como compositor em faixas como Amor Proibido, composta com Rick Magia. Detalhe: em tese, o Cidade Negra continua na ativa e já estaria até idealizando um álbum sem Garrido. Ao menos em tese.

Yael Naim seduz com elegante som minimalista

Resenha de CD
Título: Yael Naim
Artista: Yael Naim
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *

Yael Naim é uma compositora e cantora nascida na França, mas criada em Israel, que despertou a atenção de meio mundo quando sua inebriante música New Soul foi propagada no início de 2008 em comercial que anunciava laptop da Apple. O sucesso da canção motivou a gravadora Warner Music a lançar em vários países - inclusive no Brasil - o segundo álbum da artista, Yael Naim, editado em 2007 com músicas como New Soul e Lonely, outro exemplo do sedutor som minimalista da cantora, que toca piano na faixa. Difícil, aliás, classificar a música de Yael, que canta em inglês, francês e hebraico (com destaque neste idioma para Lachlom). É um som sempre elegante que evoca o folk e tem eventual textura jazzy sem ser exatamente folk ou jazz. Mas o fato é que temas como Far Far e Paris ostentam beleza incomum. E, para embaralhar ainda mais as cartas, Yael se apropria de um dos maiores sucessos de Britney Spears, Toxic, e o insere na atmosfera delicada de seu álbum, cuja edição brasileira destaca na capa o nome de David Donatien, o percussionista que toca em algumas músicas de Yael Naim. Dez!

Leci saúda Luther King em duo com Simoninha

Pioneiro manifesto musical de orgulho negro, gravado por Wilson Simonal (1938 - 2000) em compacto de junho de 1967, Tributo a Martin Luther King ganha releitura de Leci Brandão no CD Eu e o Samba, nas lojas no início de julho, pela LGK Music. Parceria de Simonal com Ronaldo Bôscoli (1927 - 1994), Tributo a Martin Luther King figura como a única regravação do disco de inéditas da sambista, o primeiro desde A Cara do Povo (2003). A música foi revivida em dueto com Wilson Simoninha, filho de Simonal. A artista também requisitou Mart'nália para cantar Criador, parceria de Xande de Pilares (do Grupo Revelação) com Luiz Cláudio Picolé. Completando o time de convidados, há Mário Sérgio. O integrante do grupo Fundo de Quintal pôs voz em Sei que Não Valeu te Amar - da lavra de Arlindo Cruz, Junior Dom e Maurição.
Como compositora, Leci assina apenas duas das 15 faixas. Difícil Acreditar foi feita com seu fiel parceiro Zé Maurício. Já O Bagulho do Amante traz PH do Cavaco na co-autoria. Outras faixas do CD Eu e o Samba são Agradecida a Deus (Pezinho), Pintou Saudade (Adilson Gavião e Darcy Maravilha), Sem Perceber (Jorge Aragão e Flávio Cardoso) e Desperta para a Felicidade (André Renato, Sereno e Luiz Cláudio Picolé). O maestro Julinho Teixeira assina a produção musical do disco, que vai ser distribuído via Som Livre.

'Noviça' é ápice da paixão de Möeller e Botelho

Resenha de musical
Título: A Noviça
Rebelde
Direção: Charles
Möeller e Cláudio
Botelho
Elenco: Kiara Sasso,
Herson Capri e outros
(em foto de Robert Schwenck)
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Oi Casa Grande (RJ), de quarta-feira a domingo

Apaixonada por musicais, a dupla de diretores Charles Möeller e Cláudio Botelho já foi capaz de criar produções de baixo orçamento sem prejuízo da qualidade artística - caso do espetáculo Beatles num Céu de Diamantes, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) desde o início do ano. Em lógica inversa, Möeller e Botelho já desperdiçaram bons recursos ao montar a confusa saga gótica de Sete. Ao assinar a nova montagem brasileira de A Noviça Rebelde, a dupla atinge o ápice de suas trajetórias afins. O espetáculo que estreou em 22 de maio de 2008 no remodelado Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), conjuga êxito artístico e farta produção orçada em R$ 9,8 milhões. O resultado é encantador e, em alguns momentos, até emocionante. Trata-se de um dos melhores espetáculos já encenados em palcos cariocas - à altura do histórico consagrador de um musical que vem arrebatando multidões desde que estreou na Broadway, em Nova York (EUA), em 1959, com sucesso que foi ampliado em progressão mundial quando The Sound of Music chegou aos cinemas em 1965 (com Julie Andrews como a noviça).
O espetáculo seria irretocável não fosse pela voz limitada do ator Herson Capri, escolha infeliz para encarnar o Capitão Georg Von Trapp, personagem que tem a missão de solar Edelweiss, uma das obras-primas do escrete musical de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II. Capri se sai bem como ator, mas, nos números musicais, é nítida sua incapacidade de acompanhar um elenco afinado em todos os sentidos. Contudo, justiça seja feita, nem a dificuldade de Capri em atingir as notas mais altas tira o brilho da montagem de Möeller e Botelho. A Noviça Rebelde volta à cena com um padrão Broadway que, no Brasil, até então foi atingido somente por recentes produções encenadas em São Paulo (SP). Da iluminação ao cenário (turbinado com efeitos especiais que dão profundidade e beleza), toda a parte técnica contribui de forma admirável para que o público possa se emocionar e se enternecer com a história da noviça (Kiara Sasso, perfeita no papel de Maria Reinner) que se envolve com a família austríaca Von Trapp em meio a um cenário de guerra e horror por conta da ascensão de Adolf Hitler ao poder. De apelo emocional e atemporal, a trama é sublinhada pelas letras das canções - como convém a um musical.
A presença iluminada das crianças - 21 atores se alternam nos papéis dos sete filhos do Capitão - ajuda a estabelecer a empatia com a platéia. Dó-Ré-Mi, um dos números cantados por Maria com as crianças, é ponto alto na encenação e chega a emocionar. A propósito, as versões em português criadas por Cláudio Botelho são fluentes, contam bem a história e se ajustam com perfeição às melodias de Richard Rodgers. Nas vozes de elenco de fartos dotes vocais (os números da Madre Superiora com as freiras são de arrepiar), as versões adquirem brilho ainda maior. E por falar na Madre Superiora, papel dividido entre Mirna Rubim e Vera do Canto e Mello, o solo da religiosa em A Montanha (Climb Ev'ry Mountain) no fim do primeiro ato é número que eleva às alturas a atmosfera de encantamento que permeia esta montagem que, embora fiel ao texto montado na Broadway em 1959, incorpora uma ou outra música feita para o filme - caso de I Have Confidence (Eu Confio, na versão) e de Something Good (Alguma Coisa Boa).
Enfim, A Noviça Rebelde é deleite para olhos, ouvidos e mentes. Raramente, Möeller e Botelho tiveram em mãos um conjunto tão harmonioso de texto, músicas, músicos (há uma orquestra no fosso do teatro que executa os clássicos arranjos), atores, técnica e produção para encenar um musical. E eles souberam aproveitar esse material rico (em todos os sentidos) para criar um espetáculo arrebatador que vai ficar na história do teatro carioca e brasileiro.