1 de dezembro de 2007

Maria Rita rejuvenesce ao cair ao vivo no samba

Resenha de show
Título: Samba Meu
Artista: Maria Rita
Local: Fundição Progresso - Lapa (RJ)
Data: 1º de dezembro de 2007
Cotação: * * * * 1/2

Maria Rita rejuvenesceu... A cantora de 30 anos que apareceu no palco jovial da Fundição Progresso (RJ) - aos 18 minutos de 1º de dezembro, para iniciar a estréia nacional do show Samba Meu - perdeu aquele ar senhoril, de diva, de seus dois shows anteriores (o primeiro foi excelente e o segundo, equivocado). Maria caiu no samba descontraída, feliz, cheia de ginga. E encontrou seu público - jovem como ela. Parecia que Samba Meu era um show de Los Hermanos na Fundição Progresso, já que, com exceção do samba que batizou o terceiro disco de Rita e que abriu o show em registro a capella, a platéia fez espontâneo e incansável coro em todos os 21 números do roteiro sem novidades na voz da intérprete (as 21 músicas foram extraídas dos repertórios de seus três álbuns). A ponto de a cantora, feliz e emocionada, cair no choro no meio de Caminho das Águas. Não foi para menos. O show foi consagrador.

No palco, o samba de Maria Rita soa contagiante - sem aquele tom meio comedido do disco, que, embora seja bom, é limpo demais. O piano, o baixo e a bateria estavam lá, só que, no show, a percussão deu as cartas e garantiu o calor. Daí o pique incendiário percebido desde o segundo número, O Homem Falou, o belo samba lançado por Gonzaguinha em 1985 que Rita teve a inteligência de trazer à tona. A festa começou e o público não dispersou. Tá Perdoado - o samba de Arlindo Cruz e Franco que bomba nas rádios em versão remixada - manteve o clima quente, sendo seguido por Maria do Socorro (a jóia de Edu Krieger que tem todo jeito de hit nacional), Veja Bem meu Bem (com direito a uma cuíca roncando no final) e Novo Amor (outra música de Krieger, em ritmo de samba-choro).

Emoldurada por cenário simples, bonito e funcional que projetou desenhos do grafiteiro Spetto, Maria Rita cresceu no palco. E fez crescer sambas que, no disco, resultaram apenas medianos - casos de O Que É o Amor e de Cria. É que o samba dela ficou bem menos intimista em cena. E isso fez toda a diferença. Até mesmo quando o roteiro atravessou a fronteira rítmica do samba no segundo set. Com caras, bocas e toques de latinidade, a cantora reviveu Muito Pouco, de Moska. Até mesmo a dramaticidade da interpretação de Santa Chuva, embora destoante do clima do show, soou sedutora.

A pequena jam da banda ao fim de A Festa preparou a volta à cena da cantora com outro figurino. Foi quando começou o bloco com os sambas mais pagodeiros. Corpitcho, Casa de Noca, Num Corpo Só e Maltratar Não É Direito retomaram o caloroso pique inicial e arremataram o show, encerrado com Conta Outra, o sambalanço de Edu Tedeschi que entrou no CD Segundo em registro ao vivo (o bis foi dado com Tá Perdoado e com Cara Valente). Aliás, e a propósito, apenas dois anos depois da desastrosa estréia do show Segundo, em que tudo pareceu fora do tom, Maria Rita parece estar encontrando seu rumo e sua turma. Tanto que em nenhum momento do show Samba Meu paira sobre ela a sombra de Elis Regina. Um feito impensável para quem, há apenas quatro anos, estreou nacionalmente nos palcos com um show instintivamente calcado nos registros de sua mãe imortal. Enfim, Samba Meu é um grande, enxuto (tem cerca de uma hora e 15 minutos) e, sim, delicioso show. Que seria ainda melhor se o roteiro incluísse um ou outro samba inédito na voz (agora jovem) da grande cantora...

Turibio Santos toca 13 temas de Agustín Barrios

O exímio violonista erudito Turibio Santos foi revelado para o público europeu graças à propagação por uma rádio francesa (ORTF) de sua gravação de La Catedral, tema do compositor Agustín Barrios (1885 - 1944), também violonista. Muitos anos depois desse pontapé inicial no exterior, o maranhense Turibio lança CD dedicado ao repertório de Barrios. Nas lojas pelo ótimo selo Delira Música, o álbum Turibio Santos Interpreta Agustín Barrios reúne 13 temas do autor paraguaio no luxuoso toque erudito do violão do brasileiro. Eis o repertório do CD, editado em digipack com tiragem de mil cópias:

1. Estudo de Concerto em Lá Maior
2. Junto a Tu Corazón
3. Dança Paraguaia
4. Las Abejas
5. Choro da Saudade
6. Estudo em Si Menor
7. Aconquija
8. Luz Mala
9. Oración
10. Página d'Álbum
11. Prelúdio em Sol Maior
12. Valsa op. 8 nº 4
13. La Catedral (prelúdio, andante e allegro)

Camelo põe música em sua página no MySpace

Marcelo Camelo lançou no meio desta semana a música Téo e a Gaivota, tema instrumental de sua autoria - tocado no violão em vídeo disponibilizado pelo artista em recém-criada página no MySpace. A rigor, trata-se da primeira música apresentada oficialmente por Camelo na fase pós-recesso do grupo carioca Los Hermanos. É provável faixa de um provável disco solo a ser lançado em 2008. A música é zen.

'Nenhum de Nós a Céu Aberto' chega em DVD

O bom DVD Nenhum de Nós a Céu Aberto está chegando às lojas - exato um mês após o CD homônimo - com o registro do show gravado pelo grupo gaúcho ao ar livre, em 24 de março de 2007, no Parque Harmonia, em Porto Alegre (RS). O roteiro é formado pelas mesmas 19 músicas do CD. Nos extras, há razoável making of, vídeo de Santa Felicidade (é uma das duas inéditas do repertório - a outra é Desejo) e o clipe com imagens do Nenhum de Nós no Uruguai ao som de Raquel, o tema de Jorge Drexler. A calorosa platéia gaúcha valoriza o show.

30 de novembro de 2007

Takai aborda Nara com graça em CD brilhante

Resenha de CD
Título: Onde Brilhem os Olhos Seus
Artista: Fernanda Takai
Gravadora: Do Brasil Discos / Tratore
Cotação: * * * * 1/2

Fernanda Takai sempre teve um jeito de Nara Leão (1942 - 1989). E não apenas por conta da voz de pequeno volume, mas também, e sobretudo, pela inteligência que ambas sempre demonstraram na abordagem de repertórios alheios. Onde Brilhem os Olhos Seus é o CD em que Takai gravita em torno do universo de Nara com produção de John Ulhoa e direção artística de Nelson Motta, o idealizador do projeto. Trata-se de um dos melhores discos de 2007. Em seu primeiro trabalho solo, Takai canta Nara com graça e a inventividade mutante que caracteriza a discografia do grupo Pato Fu (no qual a artista continua firme e forte - convém avisar).

A abordagem do cancioneiro de Nara é moderna sem nunca soar modernosa. É deliciosamente pop, e às vezes rementendo até ao romantismo ingênuo da Jovem Guarda - como na faixa Descansa Coração, versão de Nelson Motta para música de Vitor Young e Ned Washington. Nada é óbvio. Se o samba Diz que Fui por Aí (Zé Ketti e Hortênsio Rocha) virou bonita balada, Luz Negra (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso) ganhou jeito de bolero e o choro Odeon (Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes) foi transformado num fox-trot. Mas tudo soa natural na abordagem de Takai. Nada escorrega no terreno do exotismo puro e simples. A latinidade da tropicalista Lindonéia é exemplo do acerto do trabalho, que soa trivial somente em Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran).

As releituras de Trevo de Quatro Folhas (a versão de Nilo Sérgio para música de Mort Dixon e H. Woods) e Com Açúcar, com Afeto (Chico Buarque) poderiam estar num bom disco do Pato Fu. Assim como a visão pop de Takai e Ulhoa para Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos, o sucesso de Roberto Carlos, a cujo repertório Nara dedicou um belo disco em 1978. Entre forró estilizado (Seja o meu Céu, de Robertinho de Recife e Capinam), tema carnavalesco (Ta-Hi, com o ritmo ralentado) e uma etérea Insensatez (com a adição da guitarra de Roberto Menescal), Takai reafirma sua criatividade em disco delicioso e lúdico. À altura da estética fina da discografia antenada da homenageada. Nara Leão certamente aprovaria o CD.

Bethânia grava de novo em SP o DVD de show

Sim, o DVD do show Dentro do Mar Tem Rio vai ser lançado em 2008 pela Biscoito Fino - para felicidade dos fãs de Maria Bethânia (em foto de Beti Niemeyer). Como rejeitou a gravação dirigida por Andrucha Waddington em agosto, no Canecão (RJ), a intérprete já aceitou a proposta da gravadora Biscoito Fino para fazer um outro registro. A nova gravação será realizada durante a temporada do show na casa Citibank Hall, em São Paulo (SP), nas apresentações agendadas para 7 e 8 de dezembro. Já o CD ao vivo duplo - com o áudio extraído da gravação do Canecão - está chegando às lojas a partir desta sexta-feira, 30 de novembro. A (expressiva) tiragem inicial é de 30 mil cópias - boa marca diante da crise do mercado.

Mart'nália reúne Rita, Lenine e Moska em disco

Mart'nália (em foto de João Wainer) já arregimentou Maria Rita, Moska e Lenine. Os três cantores fazem participações no CD que a cantora produziu neste mês de novembro para lançar no começo de 2008. Idealizado com caráter didático, A História do Brasil através do Samba vai reunir sucessos emblemáticos do gênero.

Rita grava DVD no fim do show Tecnomacumba

Já em fase de encerramento da turnê do show Tecnomacumba, que lhe rendeu quatro anos de casas lotadas e um CD distribuído pela Biscoito Fino, Rita Ribeiro vai se despedir do espetáculo com a gravação do DVD tão pedido por seus fãs. A cantora (em foto de Emir Penna) pretende filmar o show na apresentação já agendada para 12 de dezembro no Canecão. O espetáculo emplacou no Rio.

29 de novembro de 2007

DVD do show do 'Rei' em Miami fica para 2008

Programado inicialmente para ter sido lançado em outubro no exterior, o DVD Roberto Carlos en Vivo - registrado pelo Rei num show em Miami (EUA) em maio de 2007 - vai ser editado somente em 2008 (no primeiro semestre). Tanto no Brasil como nos mercados de língua hispânica. Por conta do adiamento do lançamento, por ora já agendado para fevereiro na carona do Valentine's Day (o Dia dos Namorados nos Estados Unidos é festejado em 14 de fevereiro), vai ser o primeiro Natal em cerca de 40 anos que não haverá um produto de Roberto Carlos no mercado fonográfico. Mesmo no período da doença e da morte de Maria Rita, as lojas receberam (ao menos) uma coletânea ou um CD requentado com uma ou duas músicas inéditas. A idéia da Sony BMG é promover as duas caixas da coleção Pra Sempre em Espanhol no fim de ano. Em 2008, com o devido sinal verde do Rei, o registro do show de Miami será editado em CD e em DVD.

Deck lança em janeiro o solo de Black Francis

A Deckdisc vai lançar em janeiro no Brasil Bluefinger, o novo CD solo de Frank Black, que voltou a adotar o nome artístico de Black Francis, usado quando era o líder do grupo Pixies. Produzido por Mark Lemhouse, o álbum reúne onze músicas. Dez são assinadas por Francis. A exceção é You Can't Break a Heart and Have It, da lavra de Herman Brood. O repertório agrega blues (Test Pilot Blues e a faixa-título), folk (Angels Come to Comfort You e Discotheque 36) e o pop (She Took All the Money). Eis, na ordem, as 11 faixas:

1. Captain Pasty
2. Thresehold Apprehension
3. Test Pilot Blues
4. Lolita
5. Tight Black Rubber
6. Angels Come To Comfort You
7. Your Mouth into Mine
8. Discotheque 36
9. You Can't Break a Heart And Have It
10. She Took All the Money
11. Bluefinger

DVD conta a vida de Elton sem o aval de Elton

Elton John fez seus 60 anos em março de 2007 e festejou a data com show no Madison Square Garden, gravado para edição em CD e DVD. Editado neste mês de novembro no Brasil, via ST2, o DVD Someone Like me (capa à esquerda) pegou carona na festa. É documentário sobre a vida e obra do cantor. Contudo, é daquele tipo de filme que conta a vida do artista sem o aval da própria estrela. Fãs, críticos e amigos revivem músicas, escândalos e excessos de Sir Elton John. São 100 sensacionalistas minutos. Vale a pena esperar o DVD do Madison Square Garden...

Tudo vira bossa em coletânea do selo Bossa 58

Tudo vira bossa no toque de Roberto Menescal e seus discípulos... Editada esta semana pelo Bossa 58, um selo vinculado à gravadora Albatroz, a coletânea Versões em Bossa apresenta releituras de onze sucessos internacionais no ritmo da velha bossa. O elenco de intérpretes do CD inclui Cris Delanno, Marcela Mangabeira, Flávio Mendes, Tahta Menezes e Eduardo Braga, entre outros. Eis a lista de músicas, intérpretes originais e cantores da (nova) compilação:

1. Isn't She Lovely? (Stevie Wonder) - Cris Delanno
2. Light my Fire (The Doors) - Tahta Menezes
3. It's Too Late (Carole King) - Marcela Mangabeira
4. Bizarre Love Triangles (New Order) - Marcelo Rezende
5. The Way It Is (Donavon Frankenreiter) - Monique Kessous
6. Purple Rain (Prince) - Daniela Procópio
7. Do It Again (Steely Dan) - Eduardo Braga
8. Rock the Casbah (The Clash) - Taryn Szpilman
9. Kung Fu Fighting (Carl Douglas) - Flávio Mendes
10. September (Earth, Wind & Fire) - Marcela Mangabeira
11. Billie Jean (Michael Jackson) - Bárbara Mendes

28 de novembro de 2007

Backstreet Boys cresceram, mas seu pop não...

Resenha de CD
Título: Unbreakable
Artista: Backstreet Boys
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * *

Apesar de o título deste sexto insosso álbum dos Backstreet Boys afirmar o contrário, algo já parece ter se quebrado na trajetória da boyband. E não é pelo fato de Kevin Richardson ter deixado o grupo em 2006. Os rapazes cresceram, mas seu pop não evoluiu na proporção deste crescimento. Unbreakable abre muito bem, com Intro que faz saltar aos ouvidos a harmonia vocal do agora quarteto, mas o CD logo começa a patinar em pop trivial e açucarado. Inconsolable é uma daquelas típicas baladas - de refrão ganchudo - que parecem fabricadas em lote. E não difere muito de outras baladas gravadas pela banda no CD. Entre elas, Something That I Already Know. E o álbum segue nessa trilha previsível. Mesmo uma ou outra faixa de pegada mais roqueira, como Any Other Way, não modifica a real impressão de que já se foi o tempo dos Backstreet Boys. A fila anda muito rápido no mercado das boybands. E que venha a próxima...

Queensryche lança 'Mindcrime' ao vivo em DVD

Banda norte-americana que cruza sons progressivos com o metal, Queensryche está lançando DVD duplo, Mindcrime at the Moore, que traz a gravação do show em que o grupo toca o repertório de um dos títulos mais emblemáticos de sua (irregular) discografia, Operation: Mindcrime (1988), e da boa seqüência do álbum, Operation: Mindcrime II, editada em 2006. Detalhe: o show épico e teatral do quinteto foi captado no The Moore Theatre, em Seattle, a terra natal da banda. Nos extras, há documentário sobre a turnê. A edição do DVD é da Warner Music.

Confidente de Hendrix narra a saga do músico

Resenha de livro
Título: Jimi Hendrix - A Dramática História de uma Lenda do Rock
Autora: Sharon Lawrence
Editora: Zahar (356 páginas, R$ 39,90)
Cotação: * * *

Pelo título desta nova biografia de Jimi Hendrix, tem-se a impressão de um livro sensacionalista. Contudo, tal impressão é falsa. Com a autoridade de quem foi amiga e confidente do genial guitarrista, a jornalista Sharon Lawrence narra - sem apelações - a breve saga do músico em busca do sucesso. Há quarenta anos, em 1967, Hendrix começava a assombrar o mundo na Inglaterra com sua maneira única e performática de tocar guitarra. Dos primeiros momentos de ascensão até a morte precoce de Hendrix, em 1970, decorreram somente três anos. A maior parte da boa narrativa de Sharon está concentrada neste período, mas a autora reconstitui a infância de Hendrix (menino carente que sofreu com a ausência da mãe alcoólatra e a dureza do pai), os primeiros passos na música e a fase em que prestou serviço militar. Assim como expõe a batalha judicial travada em torno da herança do guitarrista. Enfim, é livro interessante que ajuda a entender a vida (e a obra) do músico que ainda é uma das referências máximas em seu instrumento. Leia...

Olhe para trás e veja Dylan em filme histórico

Resenha de DVD
Título: Don't Look Back
Artista: Bob Dylan
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * * 1/2

Em 1965, Bob Dylan estava em ponto de bala. Em estado de ebulição. Ainda era visto como mero trovador, mas estava prestes a chocar os puristas da tribo folk ao adotar postura e som roqueiros. Foi neste contexto que o diretor D.A. Pennebaker captou as imagens do documentário Don't Look Back, filmado em 1965, em preto e branco, durante turnê (ainda acústica) do artista pela Inglaterra. Editado originalmente em 1967, o filme chega ao formato de DVD quarenta anos depois de sua estréia - em edição remasterizada que traz nos extras comentários do diretor, uma versão alternativa do vídeo de Subterranean Homesick Blues, o trailler original e cinco faixas adicionais de áudio - ainda firme e forte no posto de um dos melhores documentários sobre música pop de todos os tempos. É retrato fiel de Bob Dylan numa fase em que (ainda) se tinha acesso ao artista. Através de conversas com fãs e jornalistas, o cantor se mostra ora afável ora arrogante, numa amostra da complexidade de seu temperamento. Enfim, um clássico que justifica a reedição em DVD. Olhe para trás e veja Bob Dylan em momento histórico da música e do cinema feito em torno do universo pop que começava a ser construído em 1967. Com direito a legendas em português...

27 de novembro de 2007

Inéditas de coletânea tentam reviver Spice Girls

Resenha de CD / DVD
Título: Greatest Hits
Artista: Spice Girls
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *

Anunciada em junho de 2007, a reunião das Spice Girls (para turnê mundial) parece reviver o fenômeno de popularidade do quinteto feminino inglês - formado em 1993 a partir de anúncio em revista. De 1996 (ano de lançamento de Wannabe, primeiro bom single) até 2000 (ano de lançamento de Forever, derradeiro fraco CD), foram três álbuns e incontáveis singles nas paradas. A coletânea Greatest Hits quer mostrar que a febre juvenil em torno das Spice Girls nunca passou. Para tentar reacender a velha chama, foram providenciadas duas medianas inéditas - a balada Headlines (Friendship Never Ends) e a dançante Voodoo - para turbinar a coletânea que reúne todos os sucessos do grupo. Sai em edição simples e em edição dupla (capa acima à direita) que agrega um DVD com clipes dos sucessos das moças. Mas o tempo não espera por ninguém, como já sentenciou Mick Jagger, e tudo leva a crer que o lugar de Emma Bunton, Geri Halliwell, Melanie Brown, Melanie Chisholm e Victoria Beckham na história da cena pop está confinado à década de 90. E a história somente se repete como farsa... já encampada pelas sobreviventes tribos de fãs que esgotaram, em 38 segundos, os ingressos para as apresentações das moças em Londres. A turnê começa no Canadá em 2 de dezembro. Não terá fôlego para chegar ao fim de 2008...

Nico retorna em busca do paraíso pop perdido

Resenha de CD
Título: Paraíso Invisível
Artista: Nico Rezende
Gravadora: Lua Music
Cotação: * *

Em 1987, Nico Rezende era o líder das paradas das FMs com Esquece e Vem, bonita balada que dava título ao seu álbum de estréia, gravado no embalo do sucesso de Perigo na voz de Zizi Possi. Co-autor de Perigo e de Noite, outro hit da fase pop de Zizi, Nico acabou sendo promessa não cumprida de cantor pop romântico. Gravou regularmente até 1990 e - depois - foi se tornando invisível no mercado fonográfico com álbuns cada vez mais espaçados. Vinte anos depois do êxito radiofônico de Esquece e Vem, o artista volta à cena em busca do paraíso pop perdido. Mas Nico se mostra sem inspiração em seu sétimo álbum, Paraíso Invisível, cuja faixa-título é parceria do cantor com Jorge Vercilo. A mediana música está mais próxima do universo da MPB. Contudo, nada faz supor que Nico Rezende irá reencontrar o seu sucesso. Suas parcerias com o fiel escudeiro Paulinho Lima - Ilusão da Ilusão, Pra Falar do Tempo, Maliciosa Inocência - pouco lembram a dupla inspirada dos hits propagados na voz de Zizi. Há também flertes com a velha bossa, em O Fim do Verão e Rio da Negra, que pouco ou nada acrescentam à obra de Nico Rezende. O melhor do CD é a capa, ilustrada com a aquarela Pim Pam Pum, do pintor pernambucano Cícero Dias (1907-2003).

Kanye West faz escola no rap com 'Graduation'

Resenha de CD
Título: Graduation
Artista: Kanye West
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

O terceiro bom CD de Kanye West não é tão coeso quanto seus dois antecessores, The College Dropout (2004) e Late Registration (2005), porém confirma o caráter renovador do som do rapper norte-americano, que transita na contramão da linha gangsta que projeta nomes como o declarado rival 50 Cent. As inovações já começam na capa e no encarte do álbum. Em vez de posar com (a tradicional) cara de mau, West recrutou o artista japonês Takashi Murakami para criar um material gráfico no estilo pop art. Já musicalmente, o artista se sai melhor em Graduation quando vai bem além da trivial fusão do rhythm and blues com as batidas do rap. O melhor momento é Stronger, cuja base foi urdida a partir de um standard do duo francês de música eletrônica Daft Punk (Harder, Better, Faster, Stronger). Em Homecoming, o outro ponto alto do álbum, o parceiro e convidado de West na música é Chris Martin, o vocalista do grupo Coldplay, estranho no ninho do hip hop. Já Champion se utiliza de sample de Kid Charlemagne, o tema da lavra do grupo de rock Steely Dan, em evidência nos anos 70. Pelo tom inusitado de sua batida e das incursões no terreno da música eletrônica, Graduation mostra que Kanye West continua fazendo escola no (batido) universo do hip hop norte-americano.

O bom encontro de Cordeiro com Klazz Brothers

Resenha de CD
Título: Klazz Meets the Voice
Artista: Klazz Brothers & Edson Cordeiro
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Desde seu primeiro álbum, de 1990, Edson Cordeiro já cruza com rara desenvoltura a tênue fronteira entre as músicas erudita e popular. O virtuosismo vocal do cantor por vezes adquire tom exibicionista. Contudo, o brilho da voz de Cordeiro é inegável. A ponto de o intérprete - um nome já conhecido em festivais europeus, especialmente na Alemanha - dividir disco com os Klazz Brothers, trio alemão de baixo-piano-bateria que imprime textura jazzística em temas eruditos. Ainda inédito no mercado brasileiro, o CD Klazz Meets the Voice foi editado na Alemanha no primeiro semestre de 2007. Vale ouvir.

Há uns belos momentos no álbum. Sobretudo as faixas que evitam fusões meramente exóticas como Girl of the Night, que vem a ser a junção da rodada Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, com ária de A Flauta Mágica, de Mozart. Ou Kiss, unida a Corcovado, outro clássico bossa-novista. As faixas mais sedutoras são as que não abusam das misturas, pois o encontro de Cordeiro com os Klazz Brothers já se encarrega por si só de fundir estilos e gêneros. O tema gospel Amazing Grace resulta comovente com o toque do trio e os vocalises de Cordeiro, que canta a letra em tom mais grave e comedido. Da mesma forma que Ave Maria - de Bach e de Gounod - ganha belo registro sublinhado pelo piano jazzístico de Tobias Forster, com citação no fim de Ave Maria no Morro, de Herilveto Martins. Joshua Fit the Battle abre este bloco espiritual.

Entre peça que remete ao folclore do Norte do Brasil (Boi Bumbá, de Waldemar Henrique) e música de Duke Ellington (Creole Love Call), Cordeiro e o trio ainda juntam a Ária, de Bach, com o tema-título do filme Era uma Vez no Oeste, uma das obras-primas do maestro italiano Ennio Morricone. E é nesse universo operístico - no qual cabem Babalu (a música cubana celebrizada no Brasil por Ângela Maria) e Miss Celie's Blues - que Edson Cordeiro reafirma o caráter plural de sua voz, que brilha mais quando o cantor evita a trilha exibicionista. Quando o Brasil vai lhe dar (o devido) valor?

26 de novembro de 2007

Arnaldo lança disco ao vivo no tom de sua tribo

Resenha de CD e DVD
Título: Ao Vivo no Estúdio
Artista: Arnaldo Antunes (em foto de Fernando Lazlo)
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Arnaldo Antunes entrou no tom de sua atual tribo em seu primeiro registro de show, Ao Vivo no Estúdio, já editado pela gravadora Biscoito Fino simultaneamente nos formatos de CD e DVD. A influência do projeto Tribalistas é nítida na suavidade com que o ex-Titã aborda um repertório que entremeia músicas de seu último bom disco de estúdio (Qualquer, 2006) com sucessos colecionados ao longo de carreira que já soma 25 anos se levado em conta o tempo áureo em que Arnaldo integrou o grupo Titãs. É seu primeiro CD ao vivo.
A fúria juvenil do titã deu lugar à delicadeza de espírito tribalista que - não por acaso... - também é perceptível no quinto álbum de Carlinhos Brown, A Gente Ainda Não Sonhou. E também não por acaso, Arnaldo se reuniu no palco com Marisa e com Brown para reviver duas músicas do único álbum do trio, Velha Infância e Um a Um, em registros similares às gravações originais. Por ter caráter quase retrospectivo, Ao Vivo no Estúdio rebobina até alguns sucessos dos Titãs que são da lavra de Arnaldo. Se O Que se ressente da comparação com o engenhoso registro original, que parece remix, Não Vou me Adaptar ressurge em arranjo sedutor com intervenções da voz e do violão de Nando Reis, outro cantor que aposentou a fúria juvenil em favor de repertório mais suave. Já Eu Não Sou da sua Rua - canção lançada por Marisa Monte no álbum Mais (1991) - reaparece em harmonioso dueto de Arnaldo com seu parceiro Branco Mello. As três entraram no CD e no DVD.
No que diz respeito às questões técnicas, Ao Vivo no Estúdio é o melhor DVD editado pela gravadora Biscoito Fino. A mixagem em áudio 5.1 é espetacular. E a captação das imagens - filmadas em preto e branco pelo diretor Tadeu Jungle em show idealizado para (poucos) convidados feito por Arnaldo em agosto no estúdio Mosh, em São Paulo (SP) - também resulta refinada e em sintonia com o som do artista. E vale ressaltar que, no caso específico de Arnaldo, delicadeza não é necessariamente sinônimo de cool. No palco, Arnaldo é um artista performático que canta também com o corpo. Essa faceta aparece especialmente em Socorro, número em que ele se apresenta sentado e até deitado no minúsculo palco montado no Mosh (Cássia Eller e Gal Costa registraram Socorro).
Entre boa inédita (Quarto de Dormir) e apropriada releitura de Qualquer Coisa (a música de Caetano Veloso soa até trivial nos primeiros acordes, mas, aos poucos, cresce - turbinada com as estranhezas que pautam o som de Arnaldo), o artista convocou novamente o exímio guitarrista Edgard Scandurra para regravar Judiaria, o tema do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues de que Arnaldo havia judiado em abordagem quase punk no álbum Ninguém (1995). Sem perder o clima impactante da gravação anterior, o atual registro é mais interessante e prova, mais uma vez, que o tempo tem feito muito bem ao titã tribalista. O pulso ainda pulsa forte - ainda que no tempo (maduro) da delicadeza.

Solo de Tankian remete ao System of a Down

Resenha de CD
Título: Elect the Dead
Artista: Serj Tankian
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

Primeiro álbum solo do líder do System of a Down, Elect the Dead não direciona Serj Tankian para uma trilha muito diferente da seguida pelo grupo. Produzido pelo próprio artista, o CD apresenta um rock pesado e politizado. Boas faixas como The Unthinking Majority e Money (com seus andamentos alternados) remetem ao System of a Down. Mas o tema que puxa o CD, Saving Us, é mais melódico. Ainda que haja elementos alienígenas, como o piano que introduz Sky Is Over, Elect the Dead poderia ser um álbum do System of a Down. E, no caso, isso é um (grande) elogio.

CPM flerta com punk e metal em disco cinzento

Resenha de CD
Título: Cidade Cinza
Artista: CPM 22
Gravadora: Arsenal Music / Universal Music
Cotação: * * 1/2

Embora volta e meia ainda seja associado à tribo emo, em link que rejeita, o quinteto CPM 22 transita essencialmente pelo hardcore melódico. É um dos grupos de rock nacional projetados nos anos 2000 com auxílio da MTV. Cidade Cinza - sexto álbum da banda - não altera o perfil da turma. Só que cresce justamente quando o CPM 22 se afasta de sua fórmula certeira e arrisca flertes com a velha escola do punk paulista (em Tempestade de Facas) e com o metal (Maldita Herança, música de tom politizado). Mas os riscos são calculados pelo time de produtores formado por Rick Bonadio, Rodrigo Castanho e Paulo Anhaia. Em essência, Cidade Cinza - cuja faixa-título é um tributo torto à poluída São Paulo - é linear e flagra o CPM pisando em terreno já bem conhecido (Nossa Música e Mais Rápido que as Lágrimas são temas típicos da lavra do grupo). É o que a atual geração MTV quer ouvir. E o CPM toca.

Mutantes segue com Liminha e Karina Zeviani

Sob firme liderança do guitarrista Sérgio Dias (foto), Os Mutantes preparam disco de inéditas para 2008 com seus dois novos integrantes: o baixista Liminha - que tocou no grupo nos anos 70 e agora entrou no lugar de Arnaldo Baptista, baixista original da banda - e a cantora Karina Zeviani. Na função que já foi de Rita Lee e de Zélia Duncan, a nova vocalista dos Mutantes nasceu em São Paulo e chegou a morar em Nova York (EUA), onde cantou com a dupla hype Thievery Corporation. O baterista Dinho Leme completa a atual formação dos Mutantes. Tom Zé vai participar do álbum como parceiro de Sérgio Dias Baptista em algumas músicas.

25 de novembro de 2007

Ensolarado, Biquini volta à cena com inéditas

Resenha de CD
Título: Só Quem Sonha
Acordado Vê o Sol Nascer
Artista: Biquini Cavadão
Gravadora: Independente
Cotação: * * * 1/2

Depois de incendiário registro de show editado pela Deckdisc, o Biquini Cavadão retorna ao mercado com um indie CD de inéditas. Em Algum Lugar no Tempo - a típica canção da lavra do grupo carioca - abre o trabalho e sinaliza que o quarteto continua fiel a si mesmo e sem procurar soar moderno. Só Quem Sonha Acordado Vê o Sol Nascer oferece azeitado e sincero pop rock produzido por Tadeu Patolla, o fiel escudeiro da banda. A música-título, Restos de Sol, Você me Perdoa? (com toque de pop reggae) e Antes do Mundo Acabar formam imbatível bloco inicial com a já citada Em Algum Lugar no Tempo. A partir da sexta faixa, Estou com Saudades de Você, o disco já começa a perder (um pouco) o pique. Só que jamais sai dos trilhos, alternando-se entre o pop, o rock, o ska (Uma Menina me Apareceu) e o reggae (Quem Dera a Vida Fosse Sempre Assim). O álbum é ensolarado e soa tão legal quanto outros títulos da coerente discografia do Biquini Cavadão.

Fluente, Mazzola narra a arte de produzir disco

Resenha de livro
Título: Ouvindo Estrelas - A Luta,
a Ousadia e a Glória de um dos
Maiores Produtores Musicais do Brasil
Autor: Marco Mazzola
Editora: Planeta (304 páginas,
R$ 39,90)
Cotação: * * * 1/2

A partir da década de 70, a trajetória de Marco Mazzola no mundo do disco passou a se entrelaçar com a história da indústria fonográfica brasileira. Em sua autobiografia Ouvindo Estrelas, o produtor escreve com texto fluente sobre a arte de produzir disco. O livro não é um manual técnico, embora contenha uma ou outra dica para manuseio de uma mesa de som - ofício no qual este carioca é um mestre. É, como já avisa o rótulo autobiografia exposto entre parêntesis na capa, um relato da vida e obra de um produtor que se tornou grife na indústria brasileira.

Por mais que apresente um perfil idealizado de si mesmo, como já denuncia o subtítulo do livro, Mazzola tem muito o que contar. E conta suas peripécias musicais em narrativa enxuta, escrita com objetividade. Farejador de talentos e de hits, Mazzola começou a brilhar na indústria da música em1973 com a produção dos dois primeiros discos de Raul Seixas para a Philips, a companhia hoje incorporada à Universal Music. Foram Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock e a obra-prima Krig-Ha, Bandolo! que deram credibilidade ao então iniciante produtor que. Prestigiado, ele em 1976 incentivaria a contratação de Belchior, estourado na voz de Elis Regina (Como Nossos Pais), mas sem chance na indústria após o fiasco comercial de um LP gravado em 1974 para a Continental.

Por conta dessa bem-sucedida fase inicial na Philips, Mazzola já foi levado - ainda em 1976 - por André Midani para a então nascente filial brasileira da WEA (hoje Warner Music). Na nova companhia, na função de diretor artístico, ele contratou Marina Lima, investiu nas Frenéticas (a gravação do sucesso Dancin' Days nos Estados Unidos teve o seu dedo, embora os discos do grupo tivessem sido produzidos pelo estreante Liminha) e - em mais uma prova de seu aguçado faro do sucesso - convenceu Gilberto Gil a gravar Não Chores Mais, a versão do reggae No Woman no Cry (Bob Marley) que Gil fizera para disco de Zezé Motta. Gil relutou, mas gravou e obteve um dos maiores êxitos de sua carreira. Estouro nacional!!!

Diplomático, Mazzola obviamente evita relatar no livro fatos que possam melindrar as estrelas com quem trabalhou. Contudo, os melhores momentos de sua autobiografia são justamente os que revelam detalhes saborosos de bastidores. Como o ciúme de Elis Regina quando Mazzola, entusiasmado, vivia falando de Marina. Ou a luta para implantar em 1980 a gravadora Ariola no Brasil, contratando nomes como Chico Buarque e Milton Nascimento a peso de ouro e apostando em estrelas que começavam a brilhar - caso de Elba Ramalho, que estouraria em 1981 com o forró Bate Coração. Luta que teve lances dramáticos em outubro de 1981 quando - apesar de todo o sucesso artístico e comercial da nova gravadora - a matriz alemã decidiu fechar a recém-fundada filial brasileira da Ariola e vendê-la para a PolyGram por um dólar... E Mazzola ficou na nova/velha companhia para levantar os ânimos.

Foi em 1981 que Mazzola - sempre político - conseguiu convencer Ney Matogrosso a pôr voz no forró Homem com H, rejeitado pelo cantor num primeiro momento. A música foi hit em todo o Brasil. Com o mesmo faro, Mazzola fez João Bosco incluir a balada Papel Machê - feita por Bosco para Zizi Possi - em seu álbum Gagabirô. Outro hit. Em 1986, já na CBS, Mazzola teria um papel decisivo na construção do fenômeno RPM. Ele produziria o LP Rádio Pirata ao Vivo, que venderia mais de dois milhões de cópias. Foi na CBS (atual Sony Music) que Mazzola ajudou Simone a ganhar vendas e a perder prestígio em série ruim de álbuns pautados por fórmulas comerciais. E que arregimentaria o violonista Paco de Lucia para fazer um solo em Oceano (hit de Djavan em 1989). Nessa época, foi Mazzola também que fez a conexão de Paul Simon com o baticum do Olodum, em gravação que daria visibilidade mundial ao grupo baiano a partir do lançamento do álbum The Rhythms of the Saints, editado por Simon em 1990. A gravação foi uma odisséia.

Em 1989, Mazzola inaugurou o seu estúdio Impressão Digital com equipamentos de última geração e, em 1996, antecipando o boom de selos indies que mudariam a face do mercado fonográfico nos anos 2000, ele inaugurou sua gravadora MZA Music, para a qual contratou artistas como Renata Arruda, Chico César, Zeca Baleiro e Rita Ribeiro. Aliás, ao produzir em 1997 o CD Acústico MTV de Gal Costa, Mazzola incentivaria a cantora a convidar Baleiro para a vitoriosa gravação. Não teve o mesmo sucesso, contudo, ao tentar convencer Baleiro, Chico César e Rita Ribeiro a gravar CD em trio, revelando nas entrelinhas a falta de afinidade entre os três astros. Em contrapartida, obteve êxito no projeto de atrair Martinho da Vila - então desprestigiado na Sony Music - para o elenco da MZA.

Em que pesem os elogios superlativos ao autobiografado, o livro Ouvindo Estrelas apresenta narrativa envolvente para quem se interessa pelos bastidores da indústria do disco. E teria ainda mais valor se seu texto tivesse passado por uma rigorosa checagem de dados. Mazzola foi traído pela memória em algumas passagens. Na página 121, ele credita a Baden Powell a faixa-título do disco Essa Mulher, gravado por Elis Regina em 1979 (Essa Mulher é da lavra de Joyce e Ana Terra. O samba inédito que Baden deu a Elis foi Cai Dentro). Mais adiante, na página 211, o autor narra a sua alegria ao ver a música Naquela Estação projetada na trilha da novela global Renascer, quando, na realidade, o hit do primeiro LP de Adriana Calcanhotto, gravado em 1990, entrou na trilha sonora da novela Rainha da Sucata (em 1993, Renascer propagou Mentiras, o sucesso do segundo disco da cantora gaúcha). Bem mais grave é a atribuição (nas páginas 52 e 53) da letra de Ouro de Tolo a Paulo Coelho. Raul Seixas compôs sozinho a melodia e a letra da música, lançada em 1973. Contudo, tais lapsos de memória nunca tiram o brilho da narrativa auobiográfica de Marco Mazzola - ele próprio uma estrela por conta de seu domínio técnico e de seu faro para o sucesso. Mazzola lutou, ousou e - sim - já saboreia a glória de ser um dos maiores produtores de discos do Brasil. Ouça a sua estrela.

Cristina põe grandes sambas de terreiro na roda

Resenha de CD
Título: Cristina Buarque e Terreiro Grande ao Vivo
Artista: Cristina Buarque e Terreiro Grande
Gravadora: Tratore
Cotação: * * * *

Desde sempre identificada com o nobre samba da velha guarda, Cristina Buarque interrompeu voluntária aposentadoria dos palcos para fazer minitemporada no Teatro Fecap (SP) com o grupo paulista Terreiro Grande, formado por vários remanescentes do extinto Grêmio Recreativo Tradição e Pesquisa Morro das Pedras (2001 - 2006), criado para perpetuar belos sambas de compositores da antiga. A apresentação de 11 de fevereiro de 2007 foi gravada e rendeu disco ao vivo de alto valor documental. Cristina põe grandes sambas de terreiro em roda que evoca as reuniões que costumavam ser feitas nas sedes das escolas mais tradicionais. E o que se escuta é samba da melhor qualidade.

O roteiro foi dividido entre quatro blocos que - no CD - renderam quatro correspondentes grandes faixas, nas quais estão dispostos 36 sambas. Boa parte tinha caído no esquecimento. São sambas de compositores como Alvaiade, Mijinha, Francisco Santana, Zé da Zilda, Aniceto da Portela e Paulo da Portela (saudoso compositor que abre e fecha este disco que, sem esquecer bambas de outras agremiações, tira do baú - sobretudo - jóias de portelenses de alto quilate). Tudo com a sonoridade típica das rodas de samba da era pré-pagode. Se o bloco 1 soa um pouco frio, os três que se seguem conseguem preservar parte do calor de uma roda animada. Enfim, é CD essencial para todos que valorizam o samba da velha guarda.

Mariene abre caminho na estréia de Beth no Rio

Resenha de show
Título: Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia
Artista: Beth Carvalho
Local: Canecão-Petrobrás (RJ)
Data: 24 de novembro de 2007
Cotação: * * *

E Beth Carvalho cantou o samba da Bahia no Rio de Janeiro... Na primeira das duas apresentações cariocas agendadas pela artista no Canecão, uma baiana (muito) boa deu o ar da graça e mostrou que gosta do samba e da roda. E nem precisou dizer que é bamba, já que o público percebeu e aplaudiu Mariene de Castro em cena aberta quando ela rodopiou pelo palco do Canecão no ritmo do samba de roda Raiz, repetindo o número que gravou no CD e DVD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia. Depois, sem Beth, Mariene apresentou a faixa-título de seu único (ótimo) CD, Abre Caminho, de 2005. A propósito, a graciosa artista aproveitou o convite de Beth e soube abrir caminho no Rio de Janeiro, cidade onde ela é pouco ou nada conhecida. A cantora valorizou o show.

Clementino Rodrigues - o Riachão, resistente pilar do samba da Bahia - também deu brilho à estréia carioca de Beth. Com ginga e vitalidade surpreendentes para seus 85 (86?) anos, o compositor sambou, deitou e rolou na apresentação de Cada Macaco no seu Galho (em que até improvisou o verso Meu galho é no Rio) e deVá Morar com o Diabo, seus dois sambas mais conhecidos. Depois, a convite da anfitriã, ainda apresentou um bom tema de versos mais românticos, Somente Ela. Serelepe e elétrico, Riachão conquistou o público e - lenda viva - saiu de cena merecidamente ovacionado.

A participação de Danilo Caymmi - em Maracangalha e Saudades da Bahia (seu número solo) - foi mais previsível. No todo, Beth até se saiu bem sem os convidados de peso do DVD (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Daniela Mercury etc.) e apresentou basicamente o mesmo rico repertório que gravou no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), em agosto de 2006. Mas, bastante insegura com as letras e com os textos (que soaram meio burocráticos), a cantora se apoiou o show inteiro no teleprompter instalado no meio do palco do Canecão - o que limitou muito seus movimentos em cena. E, como o DVD sinalizara, a voz de Beth está perdendo o brilho (nunca foi volumosa, mas tinha viço). Contudo, o repertório irretocável, a qualidade excepcional dos músicos e a intimidade da cantora com o universo do samba (do Rio, da Bahia, de São Paulo, enfim, do Brasil) garantiram show (bem) agradável.