27 de outubro de 2007

Björk hipnotiza fãs com vibrante show dançante

Resenha de show
Título: Björk - Tim Festival 2007
Artista: Björk (em foto do site do festival)
Local: Marina da Glória (RJ)
Data: 26 de outubro de 2007
Cotação: * * * * 1/2

Depois de hipnotizar seus fãs com Declare Independence, música dançante escolhida para o bis de sua apresentação carioca na 5ª edição do Tim Festival, Björk saiu de cena sob aplausos delirantes. A cantora islandesa seduziu o seu público com show enérgico e às vezes até teatral, como em Earth Intruders, número em que Björk se viu envolvida por emaranhado de linhas. A artista pôs em justo segundo plano as estranhas sujeiras étnicas de seu último álbum, Volta, em favor da animação. Não fosse por um ou outro número mais chato, lá pelo meio do roteiro, a cantora teria feito um show impecável. Chuva de papel picado, bela iluminação a laser e vários outros adereços a ajudaram a oferecer espetáculo de luzes, cores e sons. A permanência em cena da Wonder Brass, graciosa banda de sopros formada somente por mulheres, deu também um colorido especial. Sábia, Björk não centrou o roteiro no repertório do disco Volta. Entre poucas músicas deste estranho trabalho, a islandesa salpicou hits infalíveis como Jóga, de Homogenic (1997), álbum do qual também reviveu Pluto. Enfim, Björk deu show, superando expectativas - sua apresentação foi superior à feita pela artista em edição anterior do festival - e confirmando o poder de sedução de sua figura excêntrica e de sua música personalíssima. Nem o mais hábil DJ faria um set dance tão inebriante quanto o show de Björk.

Show de Antony não teve a atmosfera adequada

Resenha de show
Título: Antony and The Johnsons - Tim Festival 2007
Artista: Antony and The Johnsons (em foto do site do festival)

Local: Marina da Glória (RJ)
Data: 26 de outubro de 2007
Cotação: * * *

A primeira das duas apresentações cariocas de Antony and The Johnsons no Tim Festival 2007 não correspondeu às expectativas depositadas no show do grupo formado em Nova York (EUA) pelo cantor e pianista Antony Hegarty. Não tanto pelo show em si, mas por sua atmosfera inadequada. O artista apresentou um som quase camerístico - centrado na sua bela voz e em seu piano - que pedia espaço bem mais intimista. Para completar, o público desatento conversava demais e parecia fazer hora para o show de Björk que viria a seguir. Ainda assim, quem concentrou atenções no palco viu e ouviu artista bem interessante. Em You Are my Sister, um dos números mais lindos, o cantor fez jus às comparações vocais com a saudosa diva Nina Simone. Entre músicas extraídas de sua breve discografia (Man Is the Baby, Fistfull of Love e For Today, I'm a Boy) e cover de Lou Reed (Candy Says), Antony fez um show curto que poderia ter sido melhor se tivesse sido apresentado em lugar mais apropriado para um público mais interessado. Pena...

Boa produção realça tristeza indie do Gardenais

Resenha de CD
Título: Lindo Triste
Mundo
Artista: Gardenais
Gravadora: Nenhuma
Cotação: * * *

Gardenais é um grupo mineiro que já contabiliza dois discos e 15 anos de persistente carreira independente. Lindo Triste Mundo, o segundo álbum da banda, ostenta na produção o padrão de Berna Ceppas & Kassin. Com ecos de BritPop (ouça o rock Quase Ninguém Quer) e de Los Hermanos (ouça Quero Sair Daqui, a jóia pop do repertório autoral), a dupla embala bem a melancolia indie deste quarteto de Belo Horizonte. Lindo Triste Mundo é disco que se sustenta mais na atmosfera do que nas músicas em si. Ainda que a safra de temas inéditos do Gardenais seja de bom nível - com destaque para a balada Toma Essa Canção. A produção soube valorizar a tristeza expressa em versos que expiam dores de amores. Nada original, porém bacana.

Show de Isaac Hayes em Montreux sai em DVD

Figura fácil no Festival de Montreux, Isaac Hayes tem editada em DVD sua apresentação de 2005 no tradicional evento suíço. No compacto roteiro de 12 números, encerrado com o Theme From Shaft, o cantor de soul apresenta clássicos como Walk on By, Joy, Never Can Say Goodbye e By the Time I Get to Phoenix. Editado no mercado brasileiro pela gravadora ST2, o bom DVD Isaac Hayes Live at Montreux 2005 tem o áudio 5.1 DTS entre as opções. À altura do som de Isaac Hayes...

26 de outubro de 2007

Produtores sustentam Britney em álbum coeso

Resenha de CD
Título: Blackout
Artista: Britney Spears
Gravadora: Jive Records
/ Sony BMG
Cotação: * * 1/2

Ainda é cedo para decretar a sentença de morte de Britney Spears. Apesar de estar dando (claros) sinais de descontrole emocional neste último ano, por conta do uso de drogas, a artista volta à cena com álbum coeso, superior ao seu último CD, In the Zone (2003), o que trouxe o hit Toxic. Como já sinalizara Gimme More, primeiro bom single, música que poderia estar num álbum de Madonna, Blackout apresenta munição para tirar Britney das trevas em que ela tem estado mergulhada. O mérito está no time de produtores (Nate Danjahandz Hills, Bloodshy & Avant, Kara DioGuardi, Christian Karlsson e Pontus Winnberg, entre outros). Eles criaram batidas que, embora soem artificiais e eventualmente repetitivas (Get Naked evoca Gimme More, ambas produzidas por Nate Hills), são o retrato de época em que importam muito mais os produtores do que os cantores. Sorte de Britney, que disfarça seus limites vocais entre as batidas de músicas como Freakshow (uma das duas únicas faixas que traz o nome da cantora entre os autores) e Heaven on Earth, petardo certeiro nas pistas. Em Piece of me, outro destaque pelo toque de modernidade eletrônica da produção de Bloodshy & Avant, Britney procura se mostrar como vítima da engrenagem em letra sem consistência. Mas ouvintes de discos de Britney não esperam encontrar versos consistentes em seus discos. O que conta é a batida. E, por isso mesmo, Blackout - que chega às lojas na terça-feira, 30 de outubro, com convidados como o cantor de rhythm and blues T-Pain (na faixa Hot as Ice) e Pharrell Williams (em Why Should I Be Sad?) - vai decepcionar os urubus de plantão. Britney Spears sobreviveu ao inferno. Temas de erotismo forçado, como Perfect Lover, cairão bem nas pistas. São exemplos do artificialismo que impera em parte do universo dance eletrônico no qual Britney Spears está inserida. E, não, ela não está mal na foto. Foi salva pelo eficaz exército de produtores.

Vercilo grava com Guinga um xote sobre Chico

Jorge Vercilo gravou com Guinga O Xote do Polytheama. Os dois artistas (em estúdio na foto de Washington Possato) uniram vozes em música - de autoria apenas de Vercilo - que fala das aventuras vivenciadas no campo de futebol de Chico Buarque, cujo time se chama Polytheama. A gravação foi realizada para o oitavo álbum de Vercilo - nas lojas ainda este ano pela EMI Music. O cantor quis estreitar laços com a música brasileira em CD que agrega sambas, xote, balada e até um rock (Todos Nós Somos Um - uma parceria de Vercilo com Dudu Falcão, de caráter ambientalista). Abrindo o leque de ritmos e parceiros, Vercilo compõe com Fátima Guedes (Cartilha), Jota Maranhão (Ela Une Todas as Coisas, a canção de tom apaixonado incluída na trilha sonora da novela Duas Caras) e Marcos Valle (Numa Corrente de Verão, faixa que traz a voz e o piano de Valle). Sozinho, Vercilo assina temas como Tudo que Eu Tenho. Ainda sem título, o álbum é o sétimo de inéditas do cantor.

Leo Maia regrava Raul Seixas no segundo disco

Dois anos após estrear (bem) no mercado fonográfico com Cavalo de Jorge (Indie Records, 2005), Leo Maia já está de volta à cena com seu segundo CD, Cidadão do Bem. No disco, o filho de Tim Maia (1942 - 1998) recria um sucesso de Raul Seixas, Como Vovó Já Dizia... (Óculos Escuros), música composta por Raul e Paulo Coelho para a trilha sonora original da novela O Rebu (1974 / 1975). Eis as 13 músicas do CD Cidadão do Bem, nas lojas já em novembro:

1. Cidadão do Bem
2. Mandou Bem
3. Como Vovó Já Dizia (Óculos Escuros)
4. Não Vai Dar
5. Doeu
6. Eu Amo Você
7. O Amor É Estranho Demais
8. Impaciência
9. Coisas Rurais
10. Tristezas
11. Baby
12. Baile Black
13. Pra Nunca Mais Dizer Adeus

Roupa regrava hit de Harrison em CD natalino

Em alta na bolsa do disco, por conta do sucesso dos dois volumes do CD / DVD RoupAcústico, o grupo Roupa Nova vai apostar em repertório natalino. O sexteto carioca lança já na primeira semana de novembro - por seu selo, o Roupa Nova Music, distribuído pela Universal - o álbum Natal Todo Dia. No repertório, há versões em português de temas natalinos como Silent Night (Noite feliz), o hit Happy Xmas (Então é Natal), Heal the World (A Paz) e White Christmas (Natal Branco). A surpresa é a inclusão de My Sweet Lord, o maior sucesso da carreira solo do beatle George Harrison (1943 - 2001). O grupo regravou a música no original, em inglês.

25 de outubro de 2007

Filmes focam Bethânia sempre senhora de si...

Resenha de DVD

Título: Bethânia Bem de Perto

Pedrinha de Aruanda

Artista: Maria Bethânia
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Antes de se tornar a senhora da cena brasileira, Maria Bethânia já era senhora de si... A altivez da intérprete está retratada em dois documentários sobre a diva baiana - ora reunidos pela gravadora Biscoito Fino em DVD duplo. Quarenta anos separam Bethânia Bem de Perto (1966) de Pedrinha de Aruanda (2006), mas, se Bethânia ainda se revela um diamante (verdadeiro) em estado bruto no raro filme de Júlio Bressane e Eduardo Escorel, ela já se mostra plena de sua Arte no documentário oficial de Andrucha Waddington. Em ambos, contudo, transparece na tela a indomada personalidade forte da artista... Para as câmeras de Bressane e de Escorel, Bethânia se mostra espontânea e sem freio na língua. Para as lentes de Waddington, sua força já se revela sutil. Está presente mais na condução do roteiro do que nas suas poucas declarações.

Filmado em preto e branco, no Rio, Bethânia Bem de Perto - A Propósito de um Show capta andanças, opiniões e números de shows - entre eles, Viramundo - feitos pela então iniciante artista na cidade que a acolheu (bem). Bethânia ainda estava identificada como cantora de protesto por conta da marcante interpretação de Carcará no show Opinião. "Meu disco tem 12 músicas... E eu não consigo cantar outra música que não seja Carcará", desabafa a intérprete. Com a mesma naturalidade, Bethânia responde todas as perguntas do entrevistador ocultado pelas câmeras, criticando músicas como Quero que Vá Tudo pro Inferno e O Barquinho. "Eu acho a música de uma pobreza total", dispara, a respeito do hit que projetou definitivamente Roberto Carlos em 1965, numa aparente contradição com o fato de ter sido ela, Bethânia, quem chamou a atenção do mano Caetano Veloso para a música do futuro Rei. "O Barquinho, eu odeio. Não gosto nem de saber que existe", depõe a respeito do clássico da Bossa Nova - para depois arrematar: "Não gosto de cantar (música) meio-termo". Mas nenhuma cena destes flagrantes caseiros é mais reveladora do temperamento altivo de Bethânia do que a cena da discussão do contrato de miniturnê que seria feita pela cantora na Europa. Enquanto o contratante explica as cláusulas do contrato, diante de grupo interessado que incluía Caetano Veloso, Bethânia folheava uma revista (aparentemente) alheia à conversa - como se não estivesse nem aí para o que estava sendo discutido sobre um contrato que era dela. Jogo de cena? É, pode ser. Em 1966, Maria Bethânia já era uma senhora intérprete.

Quatro décadas depois, por ocasião de seus 60 anos, a intérprete já domina a cena. Não quantativamente, pois o foco de Pedrinha de Aruanda está mais em Dona Canô - protagonista do sarau na varanda da casa de Santo Amaro (BA) que ocupa metade do filme - do que na própria Bethânia. Já não há espontaneidade. Cada fala ou ato parece calculado para passar ao espectador uma imagem já pré-concebida e imaculada de Bethânia. Feito na Bahia, Pedrinha de Aruanda faz (espécie de) liturgia em louvor à dona dos dons. Bethânia até é mostrada bem de perto. Mas pouco se vê. Como há 40 anos, Maria Bethânia é senhora de si, agora já senhora da cena.

Jerry recebe Takai, Nasi e Ivo em DVD acústico

Por conta das chuvas que paralisaram o Rio de Janeiro, Jerry Adriani decidiu adiar para esta quinta-feira, 25 de outubro, a gravação de seu CD e DVD Acústico ao Vivo, então prevista inicialmente para o dia anterior. Em show no Canecão (RJ), o cantor vai fazer uma homenagem a Elvis Presley, recordar Raul Seixas - produtor de alguns discos de Jerry na gravadora CBS, no começo dos anos 70 - e receber convidados como Fernanda Takai (Pelo Interfone, sucesso de Ritchie), Nasi (As Tears Goes by, do repertório do grupo Rolling Stones), Ivo Pessoa (Tudo me Lembra Você, versão de tema de Donato y Stefano) e Tavito (Rua Ramalhete). O lançamento está agendado para 2008.

DVD documenta a ginga do samba de Germano

Aos 73 anos, Germano Mathias - um dos principais nomes do samba paulistano - tem sua longa trajetória revista no DVD Ginga no Asfalto, já editado pela Lua Music. Em 54 minutos, o documentário dos diretores André Rosa e Guilherme Vergueiro mostra um pouco da história e do pensamento de Mathias através de depoimentos do próprio artista. Mathias - que viveu o seu auge artístico nos anos 50 e 60 - também recorda seus sambas sincopados em registros capturados em dois shows realizados sem público na casa noturna Vila do Samba e na Escola de Samba Vai-Vai. Entre os números, há Doutor no Samba, Zé da Pinga, Samba da Periferia, A Palhaçada, Nega Dina e Guarde a Sandália Dela. Mathias é acompanhado pelo Quinteto em Branco e Preto - grande representante da nova geração do samba paulista - e por músicos como Raul de Souza, Bocato, Guilherme Vergueiro e Alex Buck.

Dupla regrava hits sertanejos no mercado 'indie'

Já sem vínculo com a Universal Music, a gravadora que os acolheu de 1989 a 2006, Chitãozinho & Xororó ingressam no mercado fonográfico independente com o lançamento em novembro do CD (duplo) e do DVD Grandes Clássicos Sertanejos Acústico. Gravados em show feito em 29 de agosto para cerca de 600 convidados vips na chácara de Chitãozinho, em Jaguariúna, interior de São Paulo, CD e DVD serão editados pela gravadora paulista Sky Blue Music. Entre as 22 músicas, há Cavalo Enxuto (com adesão da dupla Zé Henrique & Gabriel), Caipira, Faz um Ano, Brincar de Ser Feliz, Tropeiro, Menino da Porteira, Amor de Verão e Fio de Cabelo. A faixa História de um Prego conta com a (inusitada) participação de Lulu Santos. Já Rio de Lágrimas traz Almir Sater. Por sua vez, Sinônimos é rebobinada em trio com Zé Ramalho, que já tinha gravado esta música com a dupla sertaneja.

24 de outubro de 2007

Skank pode reatar a parceria com Dudu Marote

A informação é extra-oficial, mas comenta-se no meio musical que o Skank (em foto de Weber Pádua) pode reatar a sua parceria com Dudu Marote. Para quem não liga o nome de Marote à pessoa e ao som, ele foi o produtor dos dois CDs - Calango (1994) e Samba Poconé (1996) - que consolidaram a coesa trajetória fonográfica do quarteto mineiro. A partir do disco Siderado (1998), a banda trilhou caminhos mais melódicos e refinados sem a batuta pop de Marote. Se a retomada da parceria for concretizada na gravação do álbum de inéditas que o quarteto vai lançar em 2008, o Skank poderá conciliar em seu nono CD os dois lados de uma obra que, nos festivos shows, sempre conviveram harmoniosamente. E aí?

Emílio põe cores bossa-novistas na sua aquarela

A primeira parceria de Marcos Valle com Carlos Lyra, Até o Fim, é uma das músicas inéditas do novo disco de Emílio Santiago, De um Jeito Diferente. Chega às lojas ainda em outubro via Indie Records. Com produção do guitarrista Ricardo Silveira, o álbum põe cores de bossa e samba-jazz na aquarela do cantor. A faixa-título é da lavra de João Donato com o seu irmão Lysias Ênio. Três músicas - Calma, Contradição e Não me Balança Mais - foram extraídas do segundo obscuro disco de Mart'nália, Minha Cara (1995). Eis, na ordem, as 15 faixas do CD De um Jeito Diferente - editado em formato tradicional e, simultaneamente, em embalagem digipack:

1. De um Jeito Diferente (João Donato e Lysias Ênio)
2. Calma (Mart'nália e Arthur Maia)
3. Água de Coco (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle)
4. Não me Balança Mais (Mart'nália e Viviane Mosé)
- com participação de Mart'nália
5. Olhos Negros (Johnny Alf e Ronaldo Bastos)

- com participação de Nana Caymmi
6. Desilusion (Rosa Passos e Santiago Auseron)
7. Disfarça e Vem (Marcos Valle e Ronaldo Bastos)
8. Um Dia Desses (João Donato e Carlinhos Brown)
9. Até o Fim (Marcos Valle e Carlos Lyra)
10. Contradição (Mart'nália)
11. Valeu (Marcos Valle e Joyce)
12. My Foolish Heart
(Victor Young e Ned Washington)
13. E Era Copacabana (Carlos Lyra e Joyce)
14. Dindi (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira)
15. Moça Flor (Durval Ferreira e Lula Freire)

Mitchell brilha com o lirismo obscuro de 'Shine'

Resenha de CD
Título: Shine
Artista: Joni Mitchell
Gravadora: Hear Music / Universal Music
Cotação: * * * *

Joni Mitchell anda (bastante) preocupada com a saúde do planeta Terra. Suas angústias ambientalistas estão expostas nos versos de músicas como This Place e If I Had a Dream - dois dos dez temas autorais de Shine, o primeiro disco de inéditas em nove anos desta compositora canadense que se tornou célebre, já nos anos 70, por sua fusão personalíssima de folk, rock, pop e jazz. Joni Mitchell brilha em Shine. Pautado por um lirismo obscuro, o sucessor de Taming the Tiger (1998) preserva a alta voltagem poética da obra autoral da artista, roçando a genialidade de discos como Court and Spark, que projetou Mitchell definitivamente em 1974. O repertório é todo inédito, com exceção de Big Yellow Taxi, um clássico de seu repertório que Mitchell revisita em clima acústico, motivada pela inclusão do tema em recente balé de Nova York (EUA) - The Fiddle and the Drum - baseado em sua obra.

Musicalmente, Shine preserva a densidade da música de Mitchell com texturas sonoras urdidas com piano e delicada percussão. A despeito de ser aberto com umtema instrumental, One Week Last Summer, o álbum está todo escorado nas letras da compositora. E os versos de Bad Dreams, de If (lindo tema baseado em poema de Rudyard Kipling) e da faixa-título sintetizam o conceito de Shine ao enfatizar a força da crença e da consciência individual nas lutas contra os demônios pessoais e coletivos. Sim, Joni Mitchell ainda se preocupa com a saúde do planeta Terra, mas seu discurso passa longe dos clichês ecológicos - como reitera neste álbum melódico e profundamente reflexivo. Shine está à altura da obra da autora.

Empresário de Calcanhotto nega insatisfação...

A respeito do breve post 'Calcanhotto volta ao disco em 2008 com novas', publicado em Notas Musicais em 23 de outubro, Leonardo Netto - o empresário de Adriana Calcanhotto - desmente que haja (ou tenha havido) qualquer reação de insatisfação da compositora em relação à fusão das gravadoras Sony Music e BMG. Eis a réplica de Netto - enviada, por e-mail, nesta quarta-feira, 24 de outubro:

"Gostaria de fazer uma correção na nota. Na verdade, a fusão da Sony com a BMG foi propícia e oportuna para Adriana, já que ela juntou numa mesma gravadora todo o seu catálogo. Jamais ela teve qualquer reação de insatisfação com a fusão das companhias, mas, sim, de felicidade". Leonardo Netto.

23 de outubro de 2007

Trilha de filme sobre Dylan sai em álbum duplo

Filme de (heterodoxo) caráter biográfico, inspirado tanto na vida quanto nas letras de Bob Dylan, I'm Not There vai ter a trilha sonora original editada em um disco duplo que chega às lojas dos Estados Unidos em 30 de novembro. O tema que dá título ao longa-metragem - em cartaz atualmente no Brasil na 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - aparece na trilha em gravação do grupo Sonic Youth. O time de intérpretes traz Eddie Vedder e Cat Power.

Calcanhotto volta ao disco em 2008 com novas

Adriana Calcanhotto vai retornar ao disco no próximo ano - com um CD de inéditas. O esperado sétimo disco da cantora e compositora vai enfim ser lançado pela major Sony BMG já no primeiro semestre de 2008. Para aplacar a saudade dos (fiéis) fãs da artista gaúcha. Descontado o álbum infantil Adriana Partimpim, de 2004, já faz (longos) cinco anos que Calcanhotto (à direita numa foto de Marcos Prado) não lança disco de inéditas. O último, Cantada, é de 2002. Nos bastidores da indústria fonográfica, comentava-se que Calcanhotto estaria infeliz com a fusão da Sony Music com a BMG. A junção, de uma certa forma, a trouxe de volta para a Sony - gravadora da qual saíra, insatisfeita, em fins dos anos 90. Podia ser boato, só que o fato é que o público ansiava por CD de Adriana Calcanhotto - uma das artistas mais interessantes e instigantes de sua geração que, após um primeiro CD equivocado, no qual se viu obrigada a seguir a receita eclética lançada por Marisa Monte no fim da década de 80, logo impôs sua assinatura pessoal em álbuns antológicos como Senhas (1992), A Fabrica do Poema (1994) e Maritmo (1998). Que venha outro! E logo! 2008 já promete...

'Sawdust' junta fonogramas dispersos do Killers

Um ano após o lançamento do segundo disco, Sam's Town, o grupo americano The Killers volta ao mercado fonográfico com Sawdust, coletânea que junta fonogramas dispersos da discografia do quarteto de Las Vegas (EUA), como lados B de singles, remixes e gravações feitas para trilhas sonoras de filmes. Entre as 17 faixas, há Shadowplay - um cover do repertório do Joy Division feito para Control, o filme que revive a vida de Ian Curtis, o atormentado vocalista do grupo inglês - e Move Away (de Homem Aranha 3). Eis as faixas do disco Sawdust - nas lojas em 13 de novembro:

1. Tranquilize
2. Shadowplay
3. All the Pretty Faces
4. Leave the Bourbon on the Shelf
5. Sweet Talk
6. Under the Gun
7. Where the White Boys Dance
8. Show You How
9. Move Away
10. Glamorous Indie Rock and Roll
11. Who Let You Go?
12. The Ballad of Michael Valentine
13. Ruby, Don't Take your Love to Town
14. Daddy's Eyes
15. Sam's Town (versão de Abbey Road)
16. Romeo and Juliet
17. Mr. Brightside (Jacques Lu Cont's Thin White Duke Remix)

Álbum duplo revira o baú de Aretha na Atlantic

Já disponível na Europa e nos Estados Unidos desde 16 de outubro, mas ainda sem uma previsão de edição no Brasil, a luxuosa coletânea dupla Rare & Unreleased Recordings from the Golden Reign of the Queen of Soul revira o preciosíssimo baú da cantora Aretha Franklin na Atlantic Records - gravadora em que a diva viveu período áureo, de 1967 a 1973. As 35 faixas abrangem raros takes alternativos, lados B de singles e até demos - como as de I Never Loved a Man (The Way I Love You) e de Dr. Feelgood (Love Is a Serious Business), gravadas em 1966 como (vitorioso) cartão-de-visitas para o ingresso da divina Aretha na companhia.

22 de outubro de 2007

Alcione regrava 'Rio Antigo' com Toque de Arte

Alcione regravou Rio Antigo - belo tema de Nonato Buzar e Chico Anysio, lançado pela Marrom em 1979, em seu álbum Gostoso Veneno - para o segundo disco do conjunto vocal Toque de Arte. Reviver Rio Antigo foi escolha da própria Alcione. Com a direção musical de Magro, do grupo MPB-4, o novo CD do Toque de Arte, intitulado Pelos 4 Cantos, já tem lançamento programado para novembro pela gravadora Albatroz. Na foto de Pablo Fernandes, Alcione posa em frente ao barquinho que leva cantores e músicos ao estúdio da Albatroz - situado na Barra da Tijuca (RJ) - ladeada por Marcelo Elói (integrante do Toque de Arte, à direita) e o bom cavaquinista Alceu Maia, que participou da regravação da música.

Imperativo, Ney honra seu passado transgressor

Resenha de show
Título: Inclassificáveis
Artista: Ney Matogrosso
Local: Citibank Hall (SP)
Data: 21 de outubro de 2007
Cotação: * * * *

"É preciso estar atento e forte", ordena, enérgico, Ney Matogrosso, reciclando o imperativo tropicalista detonado por Caetano Veloso e Gilberto Gil há quase 40 anos. Divino Maravilhoso fecha o novo show do cantor, Inclassificáveis, que acaba de passar por São Paulo e vai percorrer várias capitais brasileiras antes de chegar ao Canecão, no Rio de Janeiro, em janeiro, para ser gravado em DVD (o CD é de estúdio). Inclassificável pela própria natureza mutante, o artista abandona por ora os recitais camerísticos para evocar e honrar seu passado transgressor num show roqueiro, imperativo e quente como sua luz sombreada. "Coragem, coração", manda, ao apresentar o tema homônimo de Cláudio Monjope e Carlos Rennó. Com os velhos truques cênicos, Ney dá voz a novos compositores.

Coberto de brilhos, com belo figurino de Ocimar Versolato que se transforma em outros a partir das trocas - em cena - de adereços e peças, Ney tem coragem. Aos 66 anos, exibe invejável forma física e vocal, fazendo jus aos ouriçados adjetivos gritados pelo público que lotou o Citibank Hall paulista para aplaudir um artista ímpar e camaleônico que nunca perdeu o rebolado. Literalmente. Em Por que a Gente É Assim?, a música do baú do grupo Barão Vermelho, ele desce do palco e - provocativo e exibido - se dirige à platéia ao cantar os versos questionadores de Cazuza. A propósito, Ney abre e fecha o show com versos de Cazuza. O Tempo Não Pára é o tema de abertura. Escorado no instrumental pesado de sua (entrosada) banda, o cantor grita os versos indignados de Cazuza. É como se os cuspisse, com raiva, diante do caos geral. No bis, como um sopro de otimismo, Ney costura Simples Desejo, a música que batizou o segundo CD de Luciana Mello, com Pro Dia Nascer Feliz. Infalível!

A coragem de Ney Matogrosso se estende à escolha do repertório. Nada é fácil em roteiro que instiga, faz pensar, provoca e ordena uma reflexão - pautado pelas estranhezas melódicas e poéticas de autores que habitam às margens do mercado. Gente como Alice Ruiz - de quem Ney canta Leve (uma parceria com Iara Rennó) e Ouça-me (colaboração com Itamar Assumpção) - e, sim, Arnaldo Antunes, autor do rock concretista, tocado à moda dos Titãs, que batiza o show Inclassificáveis. Com olhos de farol, Ney parece viver sem medo da morte artística. Arrisca mais uma vez ao optar pelos novos como Dan Nakagawa, o autor de Um Pouco de Calor, balada que propicia um dos momentos mais calmos de um show em geral explosivo, cantado em tons altos. É espetáculo de peso.

Ora lânguido (como em Mente, Mente, música de Robinson Borba que propicia coreografias erotizadas do cantor), ora incisivo (Ode aos Ratos, de Chico Buarque e Edu Lobo), Ney concentra atenções em roteiro que concilia número de tecnomacumba à moda de Rita Ribeiro (Cavaleiro de Aruanda), momento luau (Coisas da Vida, de Alzira Espíndola e Itamar Assumpção, com o cantor sentado ao lado de dois violonistas e de um percussionista), Cazuza mediano (Seda, parceria com Lobão) e um Marcelo Camelo inspirado (Veja Bem, meu Bem, que começa leve, suingante, para depois ganhar peso). "Lo que tenga que ser, que sea", sentencia, em castelhano, ao cantar Sea, tema do uruguaio Jorge Drexler urdido com lindo arranjo vocal. E, se for para envelhecer, que seja com a mente sã - como prega Lema, parceria de Lokua Kanza e Carlos Rennó. Aos 66 anos, o artista é fiel ao seu lema - a ponto de seu show, mesmo tendo atmosfera roqueira, nem poder ser enquadrado no rótulo pop rock. Ney Matogrosso desde sempre extrapola classificações.

Koorax dá boa voz ao samba de Rubens Lisboa

Ithamara Koorax gravou sua participação em Todas as Tribos, terceiro CD de Rubens Lisboa, cantor e compositor radicado em Aracaju (SE). A cantora carioca pôs seu privilegiado vozeirão em Samba, tema de autoria de Lisboa. Entre as 16 faixas do disco, há regravações dos repertórios de Vander Lee (Neném), de Antonio Villeroy (Da Laia do Lama) e de Zeca Baleiro (Vai de Madureira).

Mestre do violão, César Faria sai de cena aos 88

Pai de Paulinho da Viola, o ótimo violonista César Faria se retirou de cena na noite de sábado, 20 de outubro, vítima de enfarte. Tinha 88 anos. Mestre do violão de seis cordas, Faria sempre difundiu as tradições do choro com a (rara) elegância herdada por seu filho. Faria integrou o conjunto Época de Ouro com o genial Jacob do Bandolim. Com a morte de Jacob, em 1969, o grupo se retirou de cena, porém voltou em 1973 sob o comando de Faria. Nos últimos anos, o violonista acompanhava o filho Paulinho da Viola nas apresentações do artista, atividade que desempenhou até 2006. Saiu de cena, mas deixou seu rico legado.

21 de outubro de 2007

Raras na segunda caixa em espanhol de 'El Rey'

Chega às lojas ainda neste mês de outubro o segundo volume da coleção Pra Sempre em Espanhol, que edita no Brasil todos os álbuns gravados por Roberto Carlos em castelhano para a América Latina e para a Espanha. Se a primeira caixa, editada há um mês pela Sony BMG, trouxe onze discos feitos entre 1965 e 1981, o volume 2 apresenta onze álbuns lançados originalmente entre 1982 e 1993. Desta vez, todas as onze capas são similares às edições brasileiras, havendo apenas variações nos títulos de alguns discos. Contudo, há entre o repertório sete músicas nunca incluídas por el Rey nos seus álbuns nacionais. Em compensação, o cantor retirou do CD Volver (1988) - a versão em espanhol do LP de 1987 - a faixa La Vida te Ofrece Otras Cosas, que vem a ser o controvertido rock O Careta, que rendeu um processo a Roberto e Erasmo Carlos sob a alegação de plágio. Da mesma forma, o álbum Nuestro Amor, de 1987, reaparece sem a faixa-título. Eis - para os súditos - os CDs e as músicas da caixa Pra Sempre em Espanhol - Volume 02:

Roberto Carlos (1982)
1. El Está Al Llegar 2. Simple-Mágica 3. Ballenas 4. Todo Para 5. Dulce Locura 6. Necesito de Tu Amor 7. Emociones 8. Mirando Estrellas 9. Cama y Mesa 10. Quando o Sol Nascer

Roberto Carlos (1983)
1. Amigos 2. Viejas Fotos 3. Mi Fin de Semana4 . Pensamientos 5. Momentos 6. Mis Amores De Televisión 7. Fiera Herida 8. Misterios 9. Recuerdos 10. Cómo Fue

Roberto Carlos (1984)
1. El Amor y La Moda 2. Recuerdos y Ya Más Nada 3. Estoy Aquí 4. No te Puedo Olvidar 5. Dijiste Adiós 6. Tú No Sabes 7. Cóncavo y Convexo 8. Pleno Verano 9. Perdona 10. A Partir de Este Instante

Roberto Carlos (1985)
1. Corazón 2. Yo y Ella 3. Aleluya 4. Luna Nueva 5. Cartas De Amor 6. Camionero 7. Yo te Amo 8. Sabores 9. Las Mismas Cosas

Roberto Carlos (1986)
1. Verde e Amarelo 2. De Corazón A Corazón 3. Si Tú Vas También Yo Voy 4. Paz En La Tierra 5. Contradicciones 6. Por Las Calles De Nuestra Casa 7. Símbolo Sexual 8. La Actriz 9. Dentro de mi Mente 10. De Boca Hacia Afuera

Nuestro Amor (1987)
1. Apocalipsis 2. Desde El Fondo de mi Corazón 3. Amor Perfecto 4. Cuando Hoy te Vi Pasar 5. Cuando No Estás 6. Negra 7. Como te Irás Sin Mí 8. Aquella Casa Humilde 9. Quiero Volver a Ti

Volver (1988)
1. Telepatia 2. Tristes Momentos (música inédita na discografia brasileira de Roberto Carlos) 3. Volver 4. Antiguamente Era Así 5. Ingenuo y Soñador 6. Si El Amor se Va 7. Mis Amores (música inédita na discografia brasileira de Roberto Carlos) 8. Aventuras 9. Cosas Del Corazón

Sonríe (1989)
1. Si me Vas a Olvidar 2. Se Diverte Y Na No Piensa En Mi 3. Sonríe 4. Águila Dorada 5. Abre Las Ventanas a El Amor (música inédita na discografia brasileira de Roberto Carlos) 6. Si Me Dices Que Ya No Me Amas 7. Todo El Mundo Es Alguien 8. Que Es Lo Que Hago 9. Vivir Sin Ti

Pájaro Herido (1990)
1. Pájaro Herido 2. Mujer 3. Amazonia 4. El Tonto 5. Oh, Oh, Oh, Oh 6. Tengo Que Olvidar (música até então disponível no Brasil somente na coletânea 30 Grandes Canciones, de 2000) 7. Me Has Echado Al Olvido (música inédita na discografia brasileira de Roberto Carlos) 8. El Tiempo y El Viento 9. Poquito A Poco (música inédita na discografia brasileira de Roberto Carlos) 10. Só Você Não Sabe

Roberto Carlos (1991)
1. Super Heroe 2. Adonde Andarás Paloma (música inédita na discografia brasileira de Roberto Carlos) 3. Si Piensas… Si Quieres 4. Estos Celos 5. Quiero Paz 6. Una Casita Blanca (música inédita na discografia brasileira de Roberto Carlos) 7. Por Ella 8. Una En un Millón 9. El Sexo y mi Corazón 10. Pobre de Quien Quiera Amarme Después de Ti

Roberto Carlos (1993)
1. Mujer Pequeña 2. Tú Eres Mia 3. No Me Dejes 4. Todas las Mañanas 5. Escenario 6. Luz Divina 7. Dime Unas Cosas Bonitas 8. Y Tú Como Estás? 9. Pregúntale a Tu Corazón 10. Dicho y Hecho

Leila faz bem a Vercilo em encontro harmonioso

Resenha de show
Título: Leila Pinheiro e Jorge Vercilo
Artista: Leila Pinheiro e Jorge Vercilo
Local: Canecão-Petrobrás (RJ)
Data: 20 de outubro de 2007
Cotação: * * * 1/2

Já apresentado no Sul do Brasil, a partir de projeto idealizado para o Centro Cultural Banco do Brasil, o encontro nos palcos de Jorge Vercilo e Leila Pinheiro já chegou harmonioso ao Rio de Janeiro. Com a direção musical e o roteiro assinados pela dupla, o show se revelou azeitado na primeira das duas apresentações feitas pelos cantores no Canecão. E faz mais bem a Vercilo do que a Leila... Se ela retomou as rédeas da carreira a partir da gravação do belo CD Nos Horizontes do Mundo (2005), ele parece começar fase em que recicla conceitos, metas e repertório para diluir o progressivo desgaste de sua obra nos últimos cinco anos por conta de pressões para emplacar hits radiofônicos como Que Nem Maré (revivido no show) e Final Feliz (estrategicamente posicionado no fim do bis).

Com Leila ao piano e Vercilo alternando-se no violão e na guitarra (às vezes, não toca nenhum dos dois instrumentos e se dedica ao canto), os artistas ficam juntos a maior parte do show - sem a usal enganação de alguns encontros que se limitam a quatro ou cinco números. Há real interação entre as vozes e os repertórios de Leila e Vercilo em músicas extraídas dos discos dela (O Fundo, de João Donato e Caetano Veloso, com citação de Dindi) e dele (Encontro das Águas). E o fato é que o show se desenrola coeso, ora com ar até bossa-novista (Pela Ciclovia, arejada parceria de Vercilo com Marcos Valle da qual Leila foi a mentora), ora mais voltado para a MPB tradicional. O medley que une duas músicas de Gonzaguinha - Diga Lá, Coração e a toada Espere por mim, Morena (com toques delicados da percussão de João Dani e contracanto em falsete de Vercilo) - é especialmente envolvente. Mas o número mais bonito - aliás, sintomaticamente aplaudido com o maior entusiasmo pela participativa platéia que encheu o Canecão - é Fênix. Sem a banda, apenas com o piano de Leila, os cantores realçam em um registro intenso a beleza melódica e poética desta parceria de Vercilo com Flávio Venturini - de quem, aliás, a dupla recorda Besame no bis.

Entre ecos da velha bossa (Wave e Samba do Avião em tom forte e caloroso) e do início da carreira de Leila (Verde, samba pedido e acompanhado em coro pelo público), os dois cantores celebram a própria parceria (Ventos de Paz) e reafirmam a harmonia reinante entre eles. Tomara o encontro com Leila represente para Vercilo - que está cantando bem - o começo de um ciclo voltado para uma música menos imediatista e mais duradoura para que ele não seja arrastado de vez pela maré de banalidade que envolve cantores e compositores que se iludem com a fórmula do sucesso das FMs...

Arlindo celebra Madureira em CD que traz Zeca

Em Meu Lugar, samba que abre seu álbum de inéditas Sambista Perfeito, nas lojas nos próximos dias via Deckdisc, Arlindo Cruz celebra Madureira - o bairro do subúrbio carioca onde foi criado, bem próximo das quadras das escolas de samba Império Serrano e Portela. A propósito, integrantes das Velhas Guardas de ambas as agremiações se juntam no samba Se Eu Encontrar com Ela, a nova parceria de Arlindo Cruz com Zeca Pagodinho, também convidado da faixa (na foto, um flagrante descontraído de Arlindo com Zeca no estúdio Tambor, da Deckdisc). Eis a letra do samba Meu Lugar:

Meu Lugar
Arlindo Cruz e Mauro Diniz

O meu lugar
É caminho de Ogum e Iansã
Lá tem samba até de manhã
Uma ginga em cada andar

O meu lugar
É cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorar

O meu lugar
Tem seus mitos e seres de luz
É bem perto de Oswaldo Cruz
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá

O meu lugar
É sorriso, é paz e prazer
O seu nome é doce dizer:
Madureira

Ah, que lugar!
A saudade me faz relembrar
Os amores que eu tive por lá, é difícil esquecer
Doce lugar!
Que é eterno no meu coração
Que aos poetas traz inspiração, pra cantar e escrever
Ai, meu lugar!
Quem não viu Tia Eulália dançar?
Vó Maria o terreiro benzer?
E ainda tem jongo à luz do luar
Ah, que lugar!
Tem mil coisas pra gente dizer
O difícil é saber terminar...
Madureira!

Em cada esquina, um pagode, um bar
Em Madureira!
Império e Portela também são de lá
Em Madureira!
E no Mercadão você pode comprar
Por uma pechincha você vai levar
Um dengo, um sonho pra quem quer sonhar
Em Madureira!
E quem se habilita até pode chegar
Tem jogo de ronda, caipira e bilhar
Buraco e sueca, pro tempo passar
Em Madureira!
E uma fezinha até posso fazer
No grupo, dezena, centena e milhar
Pelos sete lados, eu vou te cercar
Em Madureira!

Som Livre põe foco sobre os mesmos hits de Zé

Somente cinco anos depois de ter editado coletânea de Zé Ramalho na série Perfil, a gravadora Som Livre põe nas lojas mais uma compilação do compositor. A série é outra, Em Foco, mas a seleção prioriza o mesmo período áureo do artista - entre 1977 e 1983 - que já rendeu numerosas coletâneas de repertórios similares. Tanto que sete das 15 músicas de Em Foco estão também na coletânea Perfil de 2002. Contudo, a seleção é expressiva... Eis as 15 faixas:

1. Admirável Gado Novo
2. Avohai
3. Táxi Lunar
4. Chão de Giz
5. Beira-Mar
6. Frevo Mulher
7. Vila do Sossego
8. A Peleja do Diabo com o Dono do Céu
9. Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer sem

Sentir Dor
10. Banquete de Signos
11. Força Verde
12. Canção Agalopada - ao vivo
13. Bicho de Sete Cabeças

- com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo
14. Mistérios da Meia-Noite
15. A Terceira Lâmina